sexta-feira, 2 de outubro de 2015

HAPPY BIRTHDAY CHARLIE BROWN


Cresci contigo solitário e pensador, horas sobre o monte do lançador de baseball a preparar pormenorizadamente a próxima época ou que inventava milhares de cenários para conseguir falar com a menina de cabelo ruivo na escola. Cresci contigo a assistir aos eternos lançamentos que falhavas sempre, às investidas da Lucy em que acreditavas sempre apesar dela te retirar sempre a bola da frente no momento em que ias rematar, aos rituais da entrega do jantar ao teu cão que dançava desarticulado, quando descia do telhado da casota, lugar preferencial onde dormia.
Cresci contigo a ver a tua equipa perder todas as épocas por todos os motivos e mais um, a nunca conseguir falar com a menina do cabelo ruivo, a longas tardes melancólicas que questionavam o sentido da vida, se é que ela tinha algum.
Aprendi contigo muito cedo o absurdo da condição humana, a importância dos amigos, o valor dos pormenores mais insignificantes e a rapidez com que tudo passa na nossa vida. Tão rápido que não vale a pena chorar nem rir muito. Não vale a pena perder tempo com o que não nos agrada, com aquilo que não conseguimos fazer.
Feitas bem as contas, não há nada que consiga valer a pena. Enquanto os dias vão passando há momentos bons que se cruzam connosco, momentos em que nos sentimos vivos. Não serão a maior parte deles mas estão lá. São esquinas do tempo que nos lembram que nunca deixámos de ser pequenos apesar de ter crescido. Pedaços de nós que gostamos de comemorar com os amigos. Ouvir música, beber um vinho à volta de uma mesa iluminada pela lareira de Inverno, jogar uma partida de futebol na praia, envelhecer recordando-nos pequenos, inocentes, livres. Depressa a busca do sentido da vida fica para segundo plano como a menina do cabelo ruivo que nuca conseguiste abordar na escola no dia seguinte. Depressa as embalagens pesadas da existência só se carregam o mínimo de tempo dando a mínima importância. Porque no fim restamos nós.
Happy birthday Charlie Brown. And of course, peanuts for everybody.


Artur

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