Cresci contigo solitário e
pensador, horas sobre o monte do lançador de baseball a preparar pormenorizadamente a próxima época ou que inventava milhares de cenários para
conseguir falar com a menina de cabelo ruivo na escola. Cresci contigo a
assistir aos eternos lançamentos que falhavas sempre, às investidas da Lucy em que acreditavas sempre apesar dela te retirar sempre a bola da frente no momento em que ias rematar, aos
rituais da entrega do jantar ao teu cão que dançava desarticulado, quando
descia do telhado da casota, lugar preferencial onde dormia.
Cresci contigo a ver a tua equipa
perder todas as épocas por todos os motivos e mais um, a nunca conseguir falar
com a menina do cabelo ruivo, a longas tardes melancólicas que questionavam o
sentido da vida, se é que ela tinha algum.
Aprendi contigo muito cedo o
absurdo da condição humana, a importância dos amigos, o valor dos pormenores
mais insignificantes e a rapidez com que tudo passa na nossa vida. Tão rápido
que não vale a pena chorar nem rir muito. Não vale a pena perder tempo com o
que não nos agrada, com aquilo que não conseguimos fazer.
Feitas bem as contas, não há nada
que consiga valer a pena. Enquanto os dias vão passando há momentos bons que se
cruzam connosco, momentos em que nos sentimos vivos. Não serão a maior parte
deles mas estão lá. São esquinas do tempo que nos lembram que nunca deixámos de
ser pequenos apesar de ter crescido. Pedaços de nós que gostamos de comemorar
com os amigos. Ouvir música, beber um vinho à volta de uma mesa iluminada pela
lareira de Inverno, jogar uma partida de futebol na praia, envelhecer
recordando-nos pequenos, inocentes, livres. Depressa a busca do sentido da vida
fica para segundo plano como a menina do cabelo ruivo que nuca conseguiste
abordar na escola no dia seguinte. Depressa as embalagens pesadas da existência
só se carregam o mínimo de tempo dando a mínima importância. Porque no fim
restamos nós.
Happy birthday Charlie Brown. And of course, peanuts for
everybody.
Artur
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