quarta-feira, 9 de julho de 2014

A TERCEIRA MARGEM DO RIO



"O Eterno Retorno, necessidade que se deve querer : só o que eu sou agora pode querer esta necessidade do meu retorno e de todos os eventos que resultaram naquilo que sou."

Pierre Klossowski


Só muito recentemente compreendi a noção do Eterno Retorno (do mesmo) e adquiri uma tendência persistente de a ele voltar (eternamente). Alguém formulou a doutrina da seguinte maneira : o número de partículas que compõem o mundo é imenso, porém finito e, assim, capaz somente de um número finito (ainda que imenso) de permutas e configurações. Num espaço de tempo infinito, todas as constelações possíveis foram passadas em revista e o universo deve necessariamente repetir-se. Mais uma vez uma mãe nos dará a vida; uma e outra vez ainda o nosso esqueleto crescerá e os nossos órgãos formar-se-ão, o nosso cabelo cairá e caminharemos para a morte; uma vez mais a mesma página do mesmo livro há-de encontrar-se nas nossas mãos, que serão idênticas às que agora seguram esse mesmo livro e viram essa mesma página : uma vez mais seguiremos o curso de todas as nossas horas até à hora da nossa incrível morte. Já que tudo deve retornar, nada é único, nem mesmo estas linhas, roubadas de um escritor (Jorge Luis Borges), que as saqueou de um filósofo (Friedrich Nietzsche) que, no Outono de 1883, declarou:

E esta lenta aranha que se arrasta pelo luar, e este próprio luar, e eu e tu, perto da porta da cidade a cochichar, murmurando juntos a respeito das coisas eternas - não é necessário então que tenhamos todos já sido e voltarmos e corrermos nesta outra rua rente em frente a nós, nesta longa rua horrenda - não devemos, portanto, retornar eternamente (Assim Falava Zaratustra)

A necessidade que temos de querer.

Sem comentários: