sábado, 3 de maio de 2014

O B ROCK

                                                               (O Circo Voador)

Apesar de algumas intenções de abertura política poderem ser encontradas no discurso do Presidente Geisel, no início da década de 80 o Brasil vive ainda debaixo de uma ditadura militar. Nos anos que se vão seguir, um movimento generalizado da sociedade civil vai ganhando força, nomeadamente na pressão exercida pelo movimento “Directas Já” que exigia na rua a convocação de eleições livres. A materialização do fim da ditadura no entanto só acontece em 1988 com a promulgação da nova Constituição. Considerada pelos economistas como uma “década perdida”, pontuada pela estagnação económica e por uma inflação descontrolada, do ponto de vista social e político os anos 80 marcam um momento histórico único de rupturas e reconstrução.
Marcado pelo charme da bossa nova dos anos 60 e pela intensidade política dos anos 70 (MPB,  Tropicália) o Brasil abre uma nova direcção na sua criação musical. Se até então o Rock era um estilo de música presente no quotidiano brasileiro desde os anos 50, é na década de 80 que ele vai atingir a sua maturidade tornando-se pela primeira vez um verdadeiro fenómeno de massas. Para que assim fosse, para além da já referida necessidade de mudança e ruptura, ocorrem três aspectos fundamentais em perfeita sincronia. A saber: 1 – A criação de casas de espectáculos como o “Noites Cariocas” e o “Circo Voador” no Rio, e a “Aeroanta” em S. Paulo; 2 – uma geração rara de criadores extremamente talentosos; 3 – uma industria discográfica ávida de novidades.  
Essa época do Rock brasileiro, ou “B Rock” como passou à História, é liderada por um quarteto fundamental de bandas sem as quais nada seria como antes. Tão fundamentais que enquanto umas se mantiveram activas até aos nossos dias outras apesar de desaparecidas continuam a tocar nas rádios e a ser ouvidas por gerações que nem sequer tinham nascido quando tocavam. Estamos a falar de “Paralamas do Sucesso” (Brasília depois Rio de Janeiro),  “Titãs” (S. Paulo)  que de início juntavam as influências new wave e reggae com as da MPB e que mantiveram a formação original até 1992, “Barão Vermelho” ( Rio de Janeiro) que surgem em 1982 liderados por Cazuza, e por fim no mesmo ano os “Legião Urbana” liderada por Renato Russo e terminada em 1996 com a sua morte.
Outras bandas em destaque na década de 80 foram “Sempre Livre”, “Gang 90 e as Absurdettes”, “Biquíni Cavadão”, “Hanói Hanói”, “Hojerizah”, Lobão e os Ronaldos”, “Metro”, “Magazine”, Grafitti”, “Ed Motta e Conexão Japeri”, para além de cantores como Marina Lima, Léo Jaime, Ritchie, Kid Vinil, Fausto Fawcett, entre outros.
Por todo o Brasil as bandas saltavam do anonimato e recebiam banhos de multidão sempre disposta a segui-las em espectáculos e digressões.
No caso do “heavy metal” destaque para os “Sepultura” de Minas Gerais, a banda  brasileira de maior sucesso internacional com letras em inglês. Uma outra banda a conseguir destaque fora de portas foi a paulista “Viper” que também cantava em inglês e que por sua vez ajudou a desenvolver um estilo que se viria a chamar “metal melódico”.
Para além do fenómeno e do triunfo de uma expressão musical exterior num país profundamente marcado pelas suas raízes culturais, o B Rock limitou-se a comprovar a  vocação internacional de um género de expressão que é herança da Humanidade de uma forma global. O Rock, sendo de todos não pertence a lugar nenhum. Nos próximos artigos tentaremos uma abordagem mais íntima ao B Rock, pormenorizando bandas e poemas, tentando imortalizar em crónica mais um momento em que o céu foi o limite.
Até lá…

Artur



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