segunda-feira, 12 de agosto de 2013

THE WATER MARGIN - LIN CHUNG O JUSTICEIRO


E de repente, era Verão na longínqua década de 70 do século passado. As famílias juntavam-se ao longo dos cantos deste Portugal dos pequeninos e celebravam as tão desejadas férias. Ao Sábado depois do almoço os homens ressonavam a sesta e as mulheres lavavam a louça, ensinavam bordados ou davam à língua umas com as outras. As mulheres conseguiram sempre ganhar em qualquer categoria nos campeonatos da versatilidade. Nós, crianças, último e longínquo nível da hierarquia familiar (dois níveis acima de animais domésticos) deixávamos a mesa do almoço e corríamos para a televisão. O Lin Chung era o nosso herói. Gostava principalmente daquele extraordinário narrador ("this men are outlaws, they are bandits") que conseguia meter várias citações, provérbios e ditados populares nas alturas mais quentes em que a porrada fervia. Hoje metem-se comerciais, naquela altura saltava o Confúcio. O episódio acabava e era certo e sabido que até nos deixarem sair para a praia iríamos aplicar os conhecimentos adquiridos, uns nos outros. Era porradaria de meia noite entre primos, irmãos e o mais que estivesse à mão. O cão ladrava, os bibelots caiam no chão, a conversa das mulheres era interrompida, os homens acordavam da sesta. Um(a) iluminado(a) berrava: "Metam essa canalha lá fora antes que partam a casa toda." Abria-se o portal e a manada saía em urros permanentes, qual exército de Lin Chung a caminho da praia, agarrados às toalhas como se fossem mantos, ao soquete em tudo o que estivesse à mão. Nessas gloriosas tardes de Verão ninguém morreu mas também ninguém cumpria religiosamente o período da digestão antes de se atirar ao mar. E tudo graças a esse lendário herói chinês, o extraordinário LIN CHUNG.

Artur

1 comentário:

Hélder disse...

"E de repente, era Verão na longínqua década de 70 do século passado".
E de repente, eu a querer acreditar que não se passou assim tanto tempo.
Parece que foi há... poucos anos?...
Abraço!