terça-feira, 20 de agosto de 2013

O ESPELHO E A REVOLTA


As palavras e a musica nascem à sombra de dois conflitos principais. Entre o homem e o mundo, e entre o homem e a sua própria consciência.. Quando o mundo é mais forte (quase sempre) a consciência reclama, incomoda, faz da revolta um estado natural, muito para além da inutilidade. Quando a consciência vence, o mundo esmaga, extingue, quase anulando a força do Ser. E é neste conflito permanente entre o Ser e a realidade, é neste espaço que explode a criatividade, ultimo e único território onde a Liberdade não se consegue apagar. É por estas bandas que podemos encontrar fenómenos como os "Tara Perdida", sacerdotes da teimosia e da independência criativa. Cinco anos depois de "Nada a Esconder" , a banda volta à  carga com "Dono do Mundo", um trabalho surpreendente apenas para desconhecidos. Fiéis ao seu registo de sempre (punk), sobressai a versatilidade dos arranjos reforçada pela maturidade das guitarras. Ainda e sempre com palavras de intervenção, plenas de raiva e protesto porque, ainda e sempre, nada muda sobre uma realidade imbecilmente parada.
A persistência dos "Tara Perdida", associada à honestidade criativa, cimentou ao longo do tempo o segredo de um sucesso que já se transformou num fenómeno intergeracional. E quando uma banda é apreciada por várias gerações é evidente a razão da sua qualidade.
A luta contra o absurdo da realidade, bem como o estado de revolta inerente, não ocupam todo o espaço da sua proposta musical. Há ainda tempo para repensar o futuro, para manter aberto o diálogo com a consciência. Porque alguém há-de finalmente perceber, como nós percebemos de alguém que nos contou. Porque alguém há-de continuar a afirmar a Liberdade e a Dignidade humanas contra um estado de coisas irracional, violento e injusto, um estado de coisas que vence sempre. Caíremos, geração após geração, derrotados embora dignos, desaparecidos embora livres. Caíremos geração após geração até que um dia serão eles a caír. Porque a força da nossa derrota não é mais do que o esplendor da nossa Razão.
Aos "Tara Perdida" desejamos as maiores felicidades para o futuro. Um grande abraço

Artur

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