terça-feira, 25 de junho de 2013

A COMUNA DE PARIS – CONCLUSÃO


 

   Com algumas divergências sectoriais, uma grande parte da esquerda, extrema-esquerda e anarquistas reclamam para si a herança da Comuna de Paris. O seu exemplo foi de facto modelo inspirador para várias revoluções que se lhe seguiram na História (os conselhos soviéticos da revolução russa ou as colectividades da revolução espanhola.  Uma herança no entanto desfigurada, desvirtuada e desviante. Apesar de Marx ter visto nela a emancipação do trabalho, a vitória de Versailles, ou seja, do modelo burguês, deixou “desempregada” a forma que deveria permitir essa mesma emancipação. A capacidade que poderia ter emancipado mudou de rumo e foi pervertida tornando-se instrumento de alienação. Este processo, durante muito tempo atenuado pelas sucessivas conquistas sociais, adquiriu um carácter de fatalidade absoluta com a queda da esperança nascida na revolução. Ou uma espécie de triunfo do mercantilismo sobre  o trabalho. O tesouro perdido da Comuna não pertence aos seus participantes. Ele é adivinhado pelos seus adversários por ameaçar a sua ordem e por Marx que tenta ler o conceito capaz de transformar o mundo. Dois dias após a “Semana Sangrenta”, a 30 de Maio de 1871, em frente do Conselho Geral da Internacional, Marx lê o seu longo “Adresse”, também conhecido pelo título de “A Guerra Civil em França”, a história imediata da Comuna. Este texto, que Engels define como “o acto de tornar conscientes as tendências inconscientes da Comuna” é o ponto em que o acontecimento vai perder a actualidade por se ter transformado no seu significado para o futuro.

A Comuna não foi nem será um elemento marxista. A leitura que ele faz dela é que a coloca definitivamente na vanguarda de qualquer processo revolucionário futuro. E porquê? Porque se a Comuna inspirou revoluções futuras a emancipação económica do trabalho nunca foi alcançada em nenhum dos casos. Porque a várias transformações do poder acabaram sempre por alienar o modelo operário em função de um modelo capitalista ou mercantil concentrado (p. ex. no próprio aparelho do Estado). Porque a natureza do conceito de “poder” se manteve por mais que esse poder fosse tomado e mudado de mãos.

A grande lição da Comuna de Paris repousa no facto de ter inscrito na memória humana que há um outro caminho para combater a tirania sem ser necessário instalar outra no seu lugar. Que é possível inverter o edifício piramidal da Democracia numa sociedade mais alargada à participação dos cidadãos em liberdade e com respeito pela individualidade de cada um. Que o primeiro beneficiário do lucro do trabalho é o seu produtor, o operário que criou a riqueza. E, finalmente, que é possível outro mundo mais livre e mais justo onde todos podem ter o seu espaço, a sua opinião e a sua vontade atendida. Utopia? Claro que sim, no sentido de que é utopia tudo aquilo que ainda falta fazer. Quantas utopias nasceram naqueles dois breves meses de revolução que hoje são dados adquiridos nas sociedades modernas?

 

Artur

2 comentários:

Hélder disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
www.77yum.com disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.