terça-feira, 14 de julho de 2009

O CINEMA ENQUANTO ELEMENTO CULTURAL

(NAZARÉ, PRAIA DE PESCADORES)
Os anos 20 corriam sem que o cinema fosse considerado sequer um factor cultural. No entanto os indícios de uma cultura cinematográfica começavam a fazer-se sentir em várias frentes. Roberto Nobre, pintor e homem de cultura, rodava no Algarve um ensaio de cinefilia, CHARLOTIM E CLARINHA (1925); António Ferro publica em 1917 a sua conferência “As Grandes Trágicas do Silêncio” evidenciando a importância do cinema enquanto nova forma de expressão artística; Mário Gonçalves Viana escreve em 1921 um notável ensaio intitulado: “Da Sugestão do Animatógrafo, Um Estudo Psicológico, Social e Crítico”; surgem várias publicações de crítica de cinema onde se lançam nomes como Alberto Pereira, Alves Costa, Fernando de Barros, Fernando de Pamplona, etc.
Em 1920, o Diário do Governo publica um projecto sobre cinema patriótico e instrutivo. Falta-lhe a independência criadora que ultrapasse o espectáculo sem regras próprias, regras unicamente concebidas para o êxito fácil e popular.
De uma forma geral, todos os movimentos artísticos do princípio do séc. XX, dos Modernistas aos Futuristas e Surrealistas vêm no cinema a “Síntese Suprema”. Lenine proclama-o a “arte revolucionária”. De uma forma geral, serão os países de regimes políticos totalitários (Alemanha, Itália, Rússia) a dar ao cinema um fôlego até aí inexistente, fruto das suas ambições de propaganda. Em Portugal, esquerda e direita, puros e comprometidos, todos estão de acordo em criar um cinema português. A partir da revolução de 28 de Maio de 1926, criada a ideia de um sistema de integração da juventude e indo ao encontro das teses do Futurismo, o amadurecimento do conceito de consciência cinematográfica ganha forma.
Apercebendo-se das suas múltiplas capacidades e da utilidade da nova arte na propaganda, a ditadura vai não só investir como criar as condições para que uma indústria cinematográfica digna desse nome tenha lugar. A ditadura consegue assim alcançar um objectivo falhado pela democracia liberal – a construção de um cinema português.

Os sinais de um individualismo inglório e inconsequente dão os seus últimos suspiros. Na ilha da Madeira, através da Empresa Cinegráfica Atlântica no Funchal, Luís Vieira produz CALÚNIA (26), FAUNO DAS MONTANHAS (29) e INDIGESTÃO. Nos estúdios da Invicta no Porto, Reinaldo Ferreira roda vários títulos da Repórter X Film. Destes destacamos O TAXI 9297 (27), centrado em torno do assassinato da famosa actriz Maria Alves pelo seu amante e empresário.
Da nova tendência emergente e cada vez mais robusta assinalam-se dois grandes momentos de cinema. NAZARÉ, PRAIA DE PESCADORES de Leitão de Barros (27) ( com assistência de António Lopes Ribeiro e fotografia de Artur Costa de Macedo) e LISBOA, CRÓNICA ANEDÓTICA (29) de Leitão de Barros.

Ao aproximar-se o fim da década de 20, o cinema ganhava espaço para mais uma nova polémica. O advento do sonoro iria colocar um pouco por todo o mundo duas facções que se iriam digladiar durante algum tempo.

ARTUR

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