domingo, 15 de junho de 2008

GREEN STREET



GREEN STREET (REBELDES DE BAIRRO)
Lexi Alexander
Inglaterra, 2005

Após um episódio mal esclarecido de drogas encontradas no quarto do “campus” universitário, o estudante de Jornalismo Matt Bruckner resolve abandonar Harvard e rumar a Inglaterra onde reside a sua irmã Shannon com o marido (Steve) e um filho pequeno. Embora as drogas pertencessem ao companheiro de quarto (Jeremy), um menino de uma família rica, Matt tem receio de o denunciar. Com o dinheiro recebido pelo seu silêncio (10 mil dólares) paga a viagem. Chegado a Inglaterra Matt trava conhecimento com o irmão de Steve ( Pete). Tudo começa quando Steve sugere ao irmão que leve o cunhado a um jogo de futebol do clube local, o West Ham United. Pete faz parte de uma “Firm”, grupo de apoiantes “hooligan” do West Ham e tem muitas dúvidas de que um “yank” seja bem recebido pelo seu grupo, dada a natureza racista deste tipo de formações. Segue-se um diário da vida de uma “Firm” onde a luta de rua com as firmas rivais, os planos para os jogos, etc, configuram todo um dispositivo de guerra tendo como base a identificação com as equipas de futebol. A integração de Matt na firma após a primeira batalha de rua opera nele uma transformação interior influenciada pelos novos códigos morais do compromisso com o grupo. À medida que as nódoas negras e as equimoses vão decorando o corpo de Matt, a coragem que noutras circunstâncias lhe havia faltado começa a crescer dentro dele. Torna-se capaz de enfrentar o pai quando ele vai à sua procura e acertar “umas contas” atrasadas. Começa a escrever um diário sobre a sua passagem por terras de Sua Majestade sem saber bem o que irá fazer com ele no futuro. Reforça os seus laços de amizade com o grupo de que agora faz parte.
Green Street Elite (o nome da firma de Matt) refere-se na realidade à Rua Green em Londres, local onde se situa o estádio Boleyn Ground do West Ham United ( também conhecido por Upton Park). A firma real do clube chama-se Inner City Firm, uma das poucas coisas que não corresponde à realidade. Escrito por um ex-hooligan (Dougie Brimson), o filme retrata com alguma seriedade o dia a dia destes grupos urbanos violentos, apoiantes de clubes de futebol. Se as imagens de violência e o discurso vazio podem chocar, o pior choque vem quando encontramos estes elementos no trabalho de todos os dias. Não são excluídos, nem marginais, nem muito menos vagabundos mas homens com duas distintas dimensões comportamentais na sociedade. Podemos analisar o fenómeno do “hooliganismo” em várias vertentes, podemos até mesmo combatê-lo com todas as forças. O que não podemos é analisá-lo como acontecimento exterior à sociedade. Na medida em que parte dos seus membros, o “hooliganismo” é um sinal, um sintoma dessa própria sociedade. Uma sociedade doente, desagregada e que encontra nestas explosões urbanas a válvula de escape para uma grande parte das suas frustrações.
Baseado em estudos antropológicos sobre os comportamentos deste tipo de grupos, as críticas ao filme pelo exagero da violência, linguagem obscena e uso de drogas só reforçam a ideia de que a maioria de “nós” não quer ver o evidente. Muito menos mexer-lhe, transformá-lo…
Premiado nos festivais de cinema de LA Femme, Malibu e South by Soutwest, o filme encontra-se sem sombra de dúvidas na categoria de “maldito”. Não sendo brilhante também não desilude na medida em que retrata uma realidade, contribuindo assim para o seu entendimento. O que quisermos fazer com isso é que depende da resposta que lhe possam dar…
ARTUR GUILHERME CARVALHO

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