sexta-feira, 21 de junho de 2013

A COMUNA DE PARIS - I


I – ORIGENS

 

 

Durante praticamente todo o séc. XIX a França atravessa uma série de experiências políticas mais ou menos autoritárias ao longo das quais a democracia e o regime republicano se configuram em breves experiências passageiras. Primeiro Império,  Restauração, Monarquia de Julho e Segundo Império, são as referências historiográficas que ilustram este percurso. A Comuna de Paris vai encontrar as suas referências na Primeira República e no governo revolucionário de 1792, além da insurreição popular de Junho de 1848, durante o período da Segunda República, reprimida brutalmente pelo governo saído da revolução de Fevereiro de 1848.

Em Julho de 1870 Napoleão III entra em guerra contra a Prússia, uma guerra que o conduz rapidamente à derrota. Enquanto os estados germânicos ocupam o norte do país, um governo de defesa nacional instala-se fora de Paris. Humilhados, os franceses apercebem-se que o império alemão se faz proclamar na galeria dos espelhos do Palácio de Versalhes. A 28 de Janeiro de 1871 Jules Favre e o chanceler alemão Bismarck assinam um armistício que prevê o intervalo das hostilidades durante quinze dias, período prolongável por mais tempo, bem como a convocação de uma assembleia nacional encarregue de decidir acerca da continuidade da guerra ou da conclusão da paz. Esta guerra de 1870 tinha deixado marcas profundas na população que havia atravessado um cerco extremamente duro, e que apesar da terrível fome conseguiu mesmo assim resistir cerca de três a quatro meses ao inimigo. A ideia do armistício é por isso extremamente mal recebida pela população. De acordo com o historiador Jean-Jacques Chevalier “ os insurgentes eram acometidos de um patriotismo de esquerda associado à vergonha do desespero da derrota”.

A assembleia, para além de nomear três bonapartistas para lugares chave como o Governador (general Vinoy), o comandante da guarda nacional (general d’Aurelie de Paladines) e o chefe da Prefeitura de Policia (Louis Ernest Valentim), transfere o cerco para Versalhes e começa de imediato a fazer leis anti populares como o fim do soldo pago aos guardas nacionais e o fim da moratória sobre os efeitos do comércio, medida que provocará a falência a vários artesãos e comerciantes.

Por outro lado a limitação gradual tanto do direito à greve como à da liberdade de imprensa ao longo dos anos conjugaram-se no desenho do aumento da insurreição popular. Várias vezes as classes desfavorecidas parisienses haviam derrubado regimes políticos (1830, 1848) através das suas acções revolucionárias quando pressentiam que as suas pretensões não eram atendidas. Com a assembleia eleita em 1870, composta por dois terços de deputados monárquicos de várias tendências e bonapartistas, os parisienses sentem-se desconfiados.

O acordo do armistício permitiu aos germânicos ocupar partes da cidade de Paris como os Champs- Elysées. Acto considerado de provocação pela população, quando durante o cerco os inimigos nunca haviam conseguido entrar na cidade.

A insurreição da Comuna de Paris tem início a 18 de Março de 1871. Um acontecimento que tem raízes prévias na guerra contra a Prússia, o cerco de Paris e a derrota. O povo de Paris decide resistir numa demonstração de personalidade e numa afirmação de mudança política, sentindo-se traído pelo seu governo que optou por negociar com o inimigo e desprezar a vontade de encontrar soluções para uma reforma da sociedade.

 
A 17 de Março de 1871 Adolphe Thiers e o seu governo decidem enviar o exército a Paris a meio da noite para recuperar os canhões da Guarda nacional estacionados em Montmartre. Considerando-se proprietários desses canhões pelo simples facto de os terem pago através de subscrição pública durante a guerra contra a Prússia, os parisienses opõem-se à ideia. Capturam o general que comanda a operação e fuzilam-no imediatamente. Ao amanhecer a população reforça a sua oposição. Um pouco por toda a parte os representantes governamentais são capturados, levantam-se barricadas nas ruas, uma parte substancial do exército adere ao movimento popular. Era o início da insurreição.

 
Artur

Sem comentários: