I – ORIGENS
Durante praticamente todo o séc.
XIX a França atravessa uma série de experiências políticas mais ou menos
autoritárias ao longo das quais a democracia e o regime republicano se
configuram em breves experiências passageiras. Primeiro Império, Restauração, Monarquia de Julho e Segundo
Império, são as referências historiográficas que ilustram este percurso. A
Comuna de Paris vai encontrar as suas referências na Primeira República e no
governo revolucionário de 1792, além da insurreição popular de Junho de 1848,
durante o período da Segunda República, reprimida brutalmente pelo governo
saído da revolução de Fevereiro de 1848.
Em Julho de 1870 Napoleão III
entra em guerra contra a Prússia, uma guerra que o conduz rapidamente à
derrota. Enquanto os estados germânicos ocupam o norte do país, um governo de
defesa nacional instala-se fora de Paris. Humilhados, os franceses apercebem-se
que o império alemão se faz proclamar na galeria dos espelhos do Palácio de
Versalhes. A 28 de Janeiro de 1871 Jules Favre e o chanceler alemão Bismarck
assinam um armistício que prevê o intervalo das hostilidades durante quinze
dias, período prolongável por mais tempo, bem como a convocação de uma
assembleia nacional encarregue de decidir acerca da continuidade da guerra ou
da conclusão da paz. Esta guerra de 1870 tinha deixado marcas profundas na
população que havia atravessado um cerco extremamente duro, e que apesar da
terrível fome conseguiu mesmo assim resistir cerca de três a quatro meses ao
inimigo. A ideia do armistício é por isso extremamente mal recebida pela
população. De acordo com o historiador Jean-Jacques Chevalier “ os insurgentes
eram acometidos de um patriotismo de esquerda associado à vergonha do desespero
da derrota”.
A assembleia, para além de nomear
três bonapartistas para lugares chave como o Governador (general Vinoy), o
comandante da guarda nacional (general d’Aurelie de Paladines) e o chefe da
Prefeitura de Policia (Louis Ernest Valentim), transfere o cerco para Versalhes
e começa de imediato a fazer leis anti populares como o fim do soldo pago aos
guardas nacionais e o fim da moratória sobre os efeitos do comércio, medida que
provocará a falência a vários artesãos e comerciantes.
Por outro lado a limitação
gradual tanto do direito à greve como à da liberdade de imprensa ao longo dos
anos conjugaram-se no desenho do aumento da insurreição popular. Várias vezes
as classes desfavorecidas parisienses haviam derrubado regimes políticos (1830,
1848) através das suas acções revolucionárias quando pressentiam que as suas
pretensões não eram atendidas. Com a assembleia eleita em 1870, composta por
dois terços de deputados monárquicos de várias tendências e bonapartistas, os
parisienses sentem-se desconfiados.
O acordo do armistício permitiu
aos germânicos ocupar partes da cidade de Paris como os Champs- Elysées. Acto
considerado de provocação pela população, quando durante o cerco os inimigos
nunca haviam conseguido entrar na cidade.
A insurreição da Comuna de Paris
tem início a 18 de Março de 1871. Um acontecimento que tem raízes prévias na
guerra contra a Prússia, o cerco de Paris e a derrota. O povo de Paris decide
resistir numa demonstração de personalidade e numa afirmação de mudança
política, sentindo-se traído pelo seu governo que optou por negociar com o
inimigo e desprezar a vontade de encontrar soluções para uma reforma da
sociedade.
A 17 de Março de 1871 Adolphe
Thiers e o seu governo decidem enviar o exército a Paris a meio da noite para
recuperar os canhões da Guarda nacional estacionados em Montmartre.
Considerando-se proprietários desses canhões pelo simples facto de os terem
pago através de subscrição pública durante a guerra contra a Prússia, os
parisienses opõem-se à ideia. Capturam o general que comanda a operação e
fuzilam-no imediatamente. Ao amanhecer a população reforça a sua oposição. Um
pouco por toda a parte os representantes governamentais são capturados,
levantam-se barricadas nas ruas, uma parte substancial do exército adere ao
movimento popular. Era o início da insurreição.
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