quarta-feira, 19 de novembro de 2008
O QUE DISSE O DEPUTADO DO PND NO PARLAMENTO REGIONAL DA MADEIRA
Quinta-feira, Novembro 06, 2008
Mas afinal, o que foi que disse o deputado José Manuel Coelho, do PND,
na intervenção que acabou por despoletar este "vendaval" todo?
(...)
PRESIDENTE (Miguel Mendonça): Muito obrigado, Sr. Deputado. Para uma
intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Coelho.
JOSÉ MANUEL COELHO (PND): Excelentíssimo Senhor Presidente da
Assembleia, Excelentíssimas Senhoras e Senhores Deputados. Há 34 anos
estava eu no Batalhão de Caçadores 5, em Lisboa, a tirar a
especialidade de Transmissões de Infantaria e na noite de 24 para 25
de Abril, pela uma hora da madrugada, o corneteiro tocou na caserna os
instrumentos de transmissões de infantaria. Estava a nascer o 25 de
Abril. Estou a ver esse dia como se fosse hoje. Nós saímos ajudar as
tropas operacionais do Batalhão de Caçadores 5 para a revolução do 25
de Abril que estava em marcha.
Burburinho.
Saímos para a rua, ocupámos o Parque Eduardo VII, prendemos a PSP,
prendemos a GNR, prendemos os PIDES que a população indicava, que
perseguiam a população portuguesa.
Burburinho geral.
Tive esse grande privilégio de assistir ao nascimento da democracia em
Portugal. Agora, desta tribuna, eu queria perguntar aos
Excelentíssimos Senhores Deputados Coito Pita e Tranquada Gomes onde é
que eles estavam quando veio o 25 de Abril? Queria perguntar a Sua
Excelência o Senhor Presidente da Assembleia, que toda a vez que eu
vou lá falar com ele me diz "porte-se bem, porte-se bem, está
continuamente a me dar lições de moral", eu queria perguntar ao
Excelentíssimo Senhor Presidente da Assembleia onde é que ele estava
quando se deu o 25 de Abril? Eu vim para a minha terra confiado que ia
ser instaurada a verdadeira democracia nesta terra. Assistimos ao
nascimento da autonomia, ao Parlamento autonómico, e eu pensava que
tínhamos um Parlamento democrático, pensava que o Partido Social
Democrata que era um partido democrático…
Burburinho geral.
…mas comecei por verificar que realmente não era bem assim. O Partido
Social Democrata tinha alguns que eram verdadeiros sociais democratas,
mas os chefes desse partido não eram sociais-democratas, os chefes
desse partido eram reaccionários, eram fascistas, nomeadamente o seu
chefe mor, o Dr. Alberto João Jardim.
Protestos do PSD.
Burburinho.
PRESIDENTE (Miguel Mendonça): Srs. Deputados, eu pedia um pouco mais
de silêncio.
José Manuel Coelho: Em 1977, participei nas campanhas da APU e depois
verifiquei que havia pessoas dentro do PSD, mandatadas pelo chefe, o
chefe fascista, que recebiam ordens para me assassinar. Eu tive três
presidentes de câmara do PSD que receberam ordens de Alberto João
Jardim para tirar a minha vida, para me matar! Eu uma vez ia às
sessões da câmara, no tempo do Paulo Jesus, e as sessões da câmara
foram transferidas para a parte da tarde e veio um familiar do Roberto
Almada, do Deputado Roberto Almada, falar comigo dizendo assim:
"Coelho, você não vá às sessões da câmara na parte da tarde porque
eles vão matá-lo, o João da Sorte vai vir e vai-lhe dar um tiro e você
vai ser assassinado" e eu deixei de ir às sessões da câmara. Para
comprovar aquilo que o familiar ali do meu camarada dizia, em 1980,
estávamos numa campanha, pela APU, em Gaula, quando esse famigerado
João da Sorte, acompanhado dos capangas do PSD, faz-me um raio para me
assassinar. Eu consegui fugir. Eles deram seis tiros num camarada meu,
da altura, esse camarada ainda está vivo, o camarada Manuel Teixeira,
esse camarada levou seis tiros. Em recompensa por esse serviço
prestado ao regime, esse senhor que deu os tiros, o João da Sorte, tem
hoje uma rua com o seu nome, no Caniço. Isto não são brincadeiras, não
são fait-divers, são verdades! Passou-se comigo. Eu já tive três
presidentes de câmara que tentaram me tirar a vida, mandatos pelo
chefe fascista, o Alberto João Jardim. Eu actualmente quando vendo o
Garajau muitas pessoas dizem-me: "olhe, tome cuidado que o Jaime Ramos
pode matá-lo, pode mandar alguém assassiná-lo".
Sem dúvida que nós não vivemos num regime democrático! Nós vivemos num
regime ditatorial que está disfarçado numa social-democracia, porque o
Partido Social Democrata daqui da Madeira não é o mesmo Partido Social
Democrata do Continente, é um partido que não respeita a democracia, é
um partido que se puder, mata os democratas.
Por isso, eu vim a esta Casa para ajudar o combate do Prof. João
Carlos Gouveia, que é preciso derrubar o regime, deitar abaixo este
regime facínora e reaccionário, porque o maior perigo que há para a
democracia é o conformismo, é as pessoas se acomodarem, os democratas
se acomodarem, porque as forças reaccionárias comandadas pelo líder
fascista desta terra a pouco e pouco vão tirando as liberdades. Só no
espaço dum ano e meio já reviram… vão rever… já reviram portanto o
Regimento três vezes! Vão tirando as liberdades. A pouco e pouco os
democratas vão cedendo, vão cedendo. Só que não se devem esquecer duma
coisa: é que as grandes ditaduras da História evoluíram a partir das
democracias parlamentares e foi a cedência dos democratas, o
conformismo. Os democratas foram cedendo num ponto, foram cedendo
noutro até que democracias parlamentares evoluíram para sanguinárias
ditaduras. Temos um exemplo disso em Portugal, no Estado Novo, que
também evoluiu duma democracia parlamentar e tornou-se uma ditadura
sanguinária. Eu lembro-me do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, quando
ele dizia, falando sobre o conformismo que se apoderava dos
democratas: "a indiferença é o maior perigo, o maior inimigo da
democracia" – dizia Bertolt Brecht, em 1933…
Burburinho.
…que… vieram ter junto dum democrata e disseram: "olha, estão
prendendo os comunistas". Eu não me importei, porque eu não era
comunista! Depois disseram-me: "oh! estão prendendo os sindicalistas"
e eu também não me importei porque não era sindicalista. Depois "estão
prendendo os sacerdotes, os padres", eu também não me importei porque
não era padre, mas depois, tempos depois "ah! mas já estão a
prender-me, já estão a levar-me" e não havia já nada a fazer, meus
amigos!
Portanto, nós temos aqui um Regimento que é atentatório das liberdades
democráticas do 25 de Abril, da autonomia, dos ideais de Abril e já é
tempo dos democratas desta terra dizerem "basta!", pôr um travão a
esta situação. Não é suficiente ir a Tribunal Constitucional. Está nas
nossas mãos hoje, aqui e agora, os democratas, os partidos da oposição
desta Casa travar esta ofensiva reaccionária e antidemocrática deste
regime jardinista. Basta apoiarem a iniciativa do meu partido,
abandonarem este Parlamento, deixarem os parlamentares do PSD falar
sozinhos, no seu regime antidemocrático, abandonarem! Não é preciso ir
para o Tribunal Constitucional! Nós hoje, se quisermos, podemos fazer
o 25 de Abril nesta terra! Podemos boicotar este Parlamento! Podemos
sair, abandonar esta Assembleia e fazer trabalho político lá fora.
Burburinho.
Escusa de a gente estar aqui a legitimar esta gente, esta gente que
atenta constantemente contra a democracia, contra os direitos de
Abril, meus amigos. Os partidos da oposição têm uma palavra a dizer,
porque se não tomarem uma atitude firme contra esta gente reaccionária
vai acontecer aquilo que aconteceu ao Bertolt Brecht… aquilo que dizia
o Bertolt Brecht: a democracia, quando verificarem, já não têm
democracia. Nós actualmente já não temos liberdade de expressão…
Protestos do PSD.
Antigamente, um deputado nesta Casa…
Burburinho na bancada do PSD.
…não era julgado por delito de opinião, agora já é!
Protestos do PSD.
Temos um deputado nesta Casa, um grande camarada, um grande lutador
que é o Paulo Martins que está a ser julgado nos tribunais por um juiz
fascista e vai ser condenado por esse juiz fascista, meus amigos! Não
tenham dúvidas!
Burburinho.
Hoje, é o Paulo Martins! Ontem foi o Leonel Nunes que foi condenado
por outro juiz fascista. Amanhã será qualquer um de vós. Meus amigos,
é preciso combater esta gente reaccionária, esta gente que é contra
Abril, esta gente que é contra a autonomia, esta gente quer a
ditadura, quer tirar duma vez as liberdades, as poucas liberdades que
nós temos neste Parlamento, porque estes senhores do PPD/PSD eles não
são sociais democratas, estão travestidos, estão camuflados de sociais
democratas, mas eles ao fim ao cabo são da extrema-direita, são
fascistas, são pessoas viradas para o 24 de Abril!
Burburinho na bancada do PSD.
Lembrem-se que esta Casa nunca teve a honestidade de celebrar o 25 de
Abril. Sempre odiaram o 25 de Abril. Nunca nesta Casa foi celebrado o
25 de Abril, por ordem do chefe fascista supremo que manda nesta
terra, que nunca se converteu à democracia. Eu acho que é altura dos
democratas dos partidos da oposição perderem a sua passividade e
tomarem uma atitude firme. E essa atitude firme, na nossa opinião, não
será ir ao Tribunal Constitucional, é fazer o 25 de Abril aqui mesmo,
abandonar esta Assembleia, fazer o trabalho político lá fora, deixar
eles a falar sozinhos para mostrar ao País inteiro o sistema
antidemocrático que se vive aqui nesta Madeira, porque é preciso ver o
verdadeiro regime. O verdadeiro regime que governa esta terra não é o
regime democrático, é o regime nazi fascista do populista Alberto João
Jardim.
Protestos do PSD.
Burburinho geral.
Portanto o regime deles, meus amigos, é este! (Neste momento, o
deputado desfralda uma bandeira nazi.) O regime desses amigos, destes
amigos do Partido Social Democrata é este…
PRESIDENTE (Miguel Mendonça): Sr. Deputado…
Protestos do PSD.
José Manuel Coelho (PND): É este regime, é o regime do nazi fascismo do Hitler…
Protestos do PSD.
PRESIDENTE (Miguel Mendonça): Sr. Deputado, faz favor…
José Manuel Coelho (PND): São eles, são atiradores deste regime…
Protestos do PSD.
PRESIDENTE (Miguel Mendonça): Faz favor de retirar a bandeira…
José Manuel Coelho (PND):…eu trouxe esta bandeira para oferecer ao
líder do PSD, o Jaime Ramos…
PRESIDENTE (Miguel Mendonça): Estão suspensos os trabalhos.
José Manuel Coelho (PND): …esta bandeira é para oferecer a ele! Esta
bandeira é para oferecer a este covarde, este traidor da Madeira, este
fascista…
PRESIDENTE (Miguel Mendonça) Eu pedia uma reunião de líderes desde já (...)"
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