quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A CONSPIRAÇÃO DOS ANTEPASSADOS


A CONSPIRAÇÃO DOS ANTEPASSADOS

David Soares

Ed. Saída de Emergência, 2007

Bastante conhecida em certos meios, a história do encontro entre Fernando Pessoa e Aleister Crowley na Lisboa dos anos 20 esteve sempre longe de ser esclarecida de forma cabal. Do suicídio simulado de Crowley na Boca do Inferno, complementado com a ajuda de Pessoa, até ao simples encontro de dois místicos, passando por uma simples relação de trabalho do poeta português com uma editora britânica, muito se disse e pouco se esclareceu.
Ao ler A Conspiração dos Antepassados somos convidados a embarcar numa aventura que tem como ponto de partida esse referido encontro, numa viagem de montanha russa com vários itinerários, todos eles acidentados, repletos de manobras capazes de nos tirar o fôlego.
Ao misturar os factos com a lenda e a magia, David Soares vai construindo de forma meticulosa um novelo narrativo de permanente estímulo à imaginação, inédito na literatura portuguesa. As histórias vão-se sucedendo, da Tunísia até às húmidas ruas de Londres, dos arredores de Lisboa à Quinta da Regaleira em Sintra. Um livro assinado por Francisco d’Ollanda, o maior artista português do Renascimento, é cobiçado por uma seita disposta a tudo para o obter. Por outro lado, Crowley vem a Lisboa a pretexto de visitar o poeta seu admirador, mas no fundo o seu grande interesse é encontrar o mesmo livro. Enquanto isso temos ainda tempo de visitar outras dimensões do espaço-tempo e encontrar uma explicação para o facto de D. Sebastião não ter regressado na sequência do desastre de Alcácer Quibir.
Para além da história, empolgante e muito bem escrita, o autor reserva-nos ainda no final da publicação um espaço de esclarecimento, onde podemos encontrar várias informações sobre as quais se baseou para construir o livro. Detalhes biográficos, noções de esoterismo, etc, se bem que não tenham nenhuma necessidade de ser acrescentados, acabam por abrir outras portas à curiosidade do leitor noutros domínios.
A Conspiração dos Antepassados é uma feliz estreia deste autor premiado de banda desenhada na literatura. Com uma escrita corrida e uma narrativa empolgante consegue enquadrar o elemento histórico, o fantástico e o fantasioso num agradável e muito interessante objecto de leitura para várias audiências.

ARTUR

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