segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Ruas Do meu Bairro

Pelas ruas de Campo de Ourique sopram ventos conspirativos de reuniões anónimas onde se nomeia o comando para o regicídio. Num chapéu de côco, mãos trémulas tiram à sorte papelinhos dobrados com nomes escritos. Pelas ruas de Campo de Ourique passinhos curtos de calças de fazenda apertadas deslocam-se do tasco para casa deixando caír cinzas de cigarro "mata-ratos" e folhas de poemas no chão. Passos molhados nas poças respigam a madrugada em canteiros de rés-do-chão acordando as sardinheiras. Trote de cão desesperado procura vão de escada aberto para fugir do frio. Uivos prolongados semelhantes a choro de crianças antecipam um combate felino. Pelas ruas do meu bairro caminham passos, ora depressa ora devagar, hesitam, recomeçam. O som das solas na pedra do passeio ecoa nas paredes. Mãos trémulas retiram mais um rádio de um carro com uma pancada seca num vidro. Braços pintados de manchas rôxas destacam uma veia com a ponta de um sonho que vem todas noites mas nunca fica para o pequeno-almoço. Um bêbado canta um fado sem letra em piruetas executadas no vazio. Uma velha desfia o rosário ao lado da máquina de coser Singer, só para espantar a solidão. O padeiro retira a primeira tábua carregada de papo-secos. Pelas ruas de Campo de Ourique passam passos de várias côres e tamanhos, atitudes e momentos. E, no bater destes passos...bate o meu coração. CHANDÔ FOREVER !!!
ARTUR

1 comentário:

redjan disse...

How do I know the feeling Art... Olivais Sul in my case! FOREVER too !!