sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

A UM SOL QUE BRILHA AGORA


 

Quarto dia do décimo segundo mês de dois mil e vinte cinco.
Tenho escrito bastante e publicado por aqui muito pouco. A minha passagem de ano foi no primeiro de outubro e os maiores presentes chegaram nesse mês como no Natal. Agora é consolidar o trabalho de mais de dois anos em terapia, o cuidado, o respeito, o mimo, a paciência com mãos cheias de amor, para comigo. Estar rodeada por água num torrão de terra que é tão berço como aprendizagem não é coisa leve, não é para meninas de cabeça de vento e sim para senhoras que sabem o que fazem, para onde caminham mesmo na escuridão. Há que ter competências, priorizar sempre o amor próprio e o conforto extremo dentro do desconforto de não estar a um braço de distância daqueles que me tocam mais. Ao longo do ano que agora termina fui priorizando afetos dentro das causas, consolidando laços dentro dos projetos, verbalizando necessidades dentro da abundância, enumerei faltas dentro das presenças, partilhei sentimentos e pensamentos em momentos que tudo parecia feito e dito. Há como uma medula nova dentro deste corpo que se recria em espírito musculado, dando especial atenção ao sentir e pressentir.
Vejo muita tristeza, muita luta inglória, muito desgaste no mostrar em vez de ser, muita afirmação colada e copiada vivida no vazio do conteúdo digital.
Nos intervalos, que são maiores do que cada episódio, remeto-me às obrigações do lar, impostas de mim para mim sem nenhuma intervenção do ego e para o colocar no devido sítio. Desde limpar o pó a lavar o chão de quatro com o afinco de quem faz uma mandala, a cavar um metro de terra ou a fazer casas para os residentes alados e terrestres com a dedicação duma arqueóloga acabada de formar, vale tudo até a educação complementar dos animais que são a família mais próxima e a minha maior responsabilidade. Pelo caminho apanho espinafres selvagens, lancho capuchinhas, recolho pinhas para eventos natalícios, catalogo as árvores novas, tomo um duche gelado, leio a poesia que me sustenta, bebo chá de alecrim que é alegria e pensamento aguçado, sento-me a meditar entre os amigos peludos que me acompanham. Aí converso, neste silêncio, com os meus passados que já desencarnaram, viajo com eles dentro de todas as palavras que trocamos antes e trago-as até ao presente. O sol que brilha agora, antes era uma chama pequenina atrás dum céu cheio de nuvens. Essa luz faz diferença entre o dia e a noite, e é ínfima perante a luz que tenho que manter acesa no centro da existência. É o santo graal de cada um de nós, a responsabilidade de ser melhor, mais gentil, para conosco. Amem-se, não se distraiam com o ruído digital. Cuidem-se, não deixem nenhum milímetro por cuidar. Procurem ajuda técnica para os pensamentos corrosivos. Aceitem uma massagem pelas mãos de quem sabe recolocar a vossa essência no lugar. Combatam os movimentos ditatoriais com movimentos amorosos para com o próximo. Abracem mais, dancem muito, cantem pra caraças até abrir cada alvéolo pulmonar. Estiquem-se. Dobrem-se. Alonguem-se até à folha mais alta e agradeçam até à raiz mais profunda.
Com Amor.

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