Décimo primeiro dia do décimo segundo mês de dois mil e vinte e três.
Neste mês de todas as esperanças anima-me o olhar da temperança e o sorriso da minha criança.
Gostaria de descobrir o tal botão de ligar e desligar, igual ao da televisão, um interruptor que evitasse andar sempre de coração na mão. Dizem que depois da tempestade vem a bonança, que as provações são procedidas de alegrias aos milhões e que a paciência não se constrói sobre rebeliões. Todas as semanas, por duas vezes em cada uma, tenho tratado do que me atormenta, como se eu fosse a única bomba que rebenta, o único farol iluminado por dentro da densa bruma.
Redescobri a respiração consciente, as partidas da mente e uma forma de ser mais congruente comigo e não com toda a gente.
Neste mês de todas as esperanças e no ano que finda, ambos se revelaram os piores no que diz respeito a expectativas, porém há muito, e sempre haverá, onde me debruçar, nem que seja para me ajudar a levantar, um dia de cada vez, passo a passo, golpe de asa a golpe de asa, há o sol por detrás de cada nuvem, a estrela teimosa, a brisa serena e o calor dum abraço e, sobretudo o sorriso da minha criança hoje, dos meninos que nascerão apesar de todos os Herodes e dos que morrem por culpa de carrascos sem coração.
Passo a passo, compasso e dou-me espaço, respiro e abraço. Rio-me sendo rio, alongo-me entre as montanhas,
estendo-me até à foz do meu presente.
Sou dádiva, ávida de vida e do que há-de vir, afluente dum sereno devir.
Elsa Bettencourt
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