Vigésimo oitavo dia do décimo segundo mês de dois mil e vinte e três.
Ela aguarda, ele aguarda, nós aguardamos.
As palhinhas arderam na última explosão.
Ela aguardava e ele também.
Ela e ele fizeram uma pira de pano rasgado,
da carne fria,
do corpo que jazia entre os escombros soterrado.
Ela guarda a lembrança com a mão no ventre dorido e ele guarda-lhe as costas vergadas sob o manto comprido.
Nós já não.
Desligamos com um toque no botão
e eles relembram a cada clarão.
Os copos tilintam, as luzes cintilam,
as gargalhadas abafam os gritos dos ignorados.
Estamos longe na mesma mesa sentados,
estamos juntos nesta Terra de aportados.
Quem dá mais?
Quem ganha nestes jogos desleais?
Eles aguardam que os outros se recordem
das palavras dadas na mesa dos comensais.
Às Marias em nós, aos Josés em vós, às crianças em cada um de nós. Que a esperança perdure a cada dia que nasce,
a cada hora que passe.