sábado, 29 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 1/2/2020

Desafiar as Moiras? Ninguém o faz. E, no entanto, tanta fúria e bravata para um mesmo destino final.

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 31/1/2020

1
A anarquia dos sentimentos é o que importa ser contido.
2
Subtilizado o corpo — quando ele te não relembra que nada importa senão o corpo — a tristeza também é lâmina.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 30/1/2020

As condições técnicas da escrita não são, de modo nenhum, as condições da ideia. Mas é possível que tais condições técnicas possam propiciar a ideia.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 29/1/2020

A melancolia como forma de vida é como uma captura perene, uma forte torção do tempo, ora para um passado idealizado, expurgado da lâmina do sofrimento, ora para um futuro improvável, doce, eterno e vago.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 28/1/2020

Será toda a virtude no interesse do virtuoso, nem que seja a virtude de o ser? Não. Este não é um paradoxo. O problema consiste em saber se há virtude sem crença, sem algum ponto de fuga que se não atenha ao mesquinho horizonte da individualidade de cada um. Pois, sem nenhuma transcendência, para quê ser virtuoso? E, no entanto, muitos concordam que uma vida sem virtude é, na verdade, triste.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 27/1/2020

A lição. A lição será repetida até ser totalmente compreendida. Repetida tantas vezes quantas for necessário e o seu único preço é pago em sofrimento.

domingo, 23 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 26/1/2020

1
Mais do que tudo a luz é bela porque é fulgor sem mácula, condição mesma de toda a visão.
2
Por comodidade, sempre quis a máquina de uma escrita autogenerativa.

sábado, 22 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 25/1/2020

1
Por que escrevo? Para suavizar a suave tristeza de existir que é a do quotidiano e também o grande terror de ser que é, justamente, o vir a deixar de existir.
2
Como recusar o fragmento se é o pensamento, ele mesmo, que em mim está fragmentado, ou seja, em fulgurações breves e descontínuas? Talvez possa argumentar que esse é o espírito do tempo, que toda a obra contínua, é artificial e postiça. Não foi proclamada a morte do romance? Contudo, ele aí está. Porventura, não será difícil argumentar que parecendo corpo animado e até saudável, subsiste sem vida, esgotado que está o formato, sem brilho, sem inovação ou valor. É evidente que só o tempo o dirá, a inevitabilidade da visão pregressa. Aquilo que se suspeita é que há uma irrecusável angústia na contemporaneidade e que ela corresponde àquilo que não pode, já e ainda, ser contínuo.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 24/1/2020

Também há cansaço no andar às voltas. Talvez, até, a errância seja um modo superlativo de cansaço.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 23/1/2020

1
Em paralisia doida, doida de ser paralisia, vejo o tempo passar.
2
Haverá um tempo da serenidade da consciência? E não toda esta turbulência, angústia, ansiedade. Tais que se nem respira nem a obra respira é, pelo contrário, breve, fragmentada. Aflita.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 22/1/2020

1
Poder-se-á dizer: tudo é inútil excepto, como apanágio do sábio, a felicidade?
2
Quero a escrita como segunda pele. Que recubra o malogro de existir com a mais suave tristeza da melancolia.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 21/1/2020

1
Raiva de ser fragmentado e espúrio, obra ficta sem ficção, ficção ficta, silêncio verboso, ornato sem motivo, nem adianta calar-me, nem admira se o fizer, pois ninguém dará pela diferença.
2
Só no desabrido texto haverá razão? E no entanto há que dar forma ao magma informe. Um esforço para ser claro, exacto, com um rigor sem a sombra deste confuso pasmar.

domingo, 16 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 20/1/2020

1
É uma perplexidade muito comum: para onde foi o tempo?
2
Venho de compulsivo penar e sinto que tal é vício, para a vida, talvez virtude, para a escrita, não fora o lugar comum de achar isso.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 19/1/2020

A hiperintelecção, a lucidez de lâmina e o fascínio da erudição são, porventura, os modos mais virtuosos do entusiasmo pela vida.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 18/1/2020

Talvez, num futuro longínquo, só restem estas palavras. Mas, que interessam então, se este mundo foi outrora?

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 17/1/2029

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Que vida é esta que a não quis? E tudo o que penso é por instinto.
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Sempre me preocupei excessivamente com a imperfeitude.
3
Talvez uma das causas da miséria neoliberal em que se vive seja uma forma hodierna de realismo niilista. O pragmatismo associado ao realismo não é novo nem sequer preocupante. O niilismo colectivo, é.
4
Porventura para se viver bem seja necessária uma qualquer crença ainda que esta seja numa espiritualidade imanente cujos exemplos, para se ser mais claro, são a arte, o cânone e a erudição.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 15/1/2020

Como agir perante a escassez? Essa é a pergunta que se impõe pois a escassez, produto de um hipercapitalismo neoliberal hegemónico, permeia tudo. Talvez, libertar a imaginação para uma existência ficta, onde se reconstrói no plano de uma ilusão vívida o que, até há pouco tempo, estava disponível e era razoável esperar.

domingo, 9 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 14/1/2020

1
Se tudo é mutável como não a subversão de géneros e de estilos, uma escrita, porventura, perdida de si, tentando captar esse inefável, ele própria mutante, como tudo o resto?
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Procuras a solidez em meio do rio? Tudo é hora. E correnteza.
3
Um modo plástico de ver a escrita. É certo que a literatura é sempre indigente — ou para isso se empurra o seu feitor. Mas, não havendo chão, a recomposição é infinita. É esse o mutante caminho ou nem há caminho, um mapa sem coordenadas, sem lastro, de perpétua reinvenção.

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 9/1/2020

Sou entrópico sem distopia. Melhor, a distopia é interna, toda minha, vítima perfeita do meu próprio cansaço, policio-me para reprimir o desespero.

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Diário Laboratório 8/1/2020

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Encontrar uma serenidade qualquer que permita uma sintonia e, assim, abrir as portas daquela paciência infinita que ergue uma catedral em escrita.
2
Haverá uma luz? Um sereno momento de esplendor?
3
Haverá loucura quando, a uma intensidade asfixiante não corresponde o seu cumprir-se?
Quem não consegue viver, por força, que escreva.