Tem sido um ano parado aqui por estas bandas. De facto 2016
é um sério candidato ao ano em que menos se produziu desde que este blog
existe. Não posso falar pelos outros membros, apenas por mim. E por mim direi
que, sem querer explanar nenhum tipo de justificação, no essencial tenho passado
o tempo a observar e a tentar compreender aquilo que se vai passando à minha
volta. Em primeiro lugar direi que quando não tenho nada que entenda relevante a
partilhar me remeto ao silêncio. Estou a ficar velho com todas as vicissitudes
que este processo implica, nomeadamente de adaptação e recriação da postura
existencial. Faço parte de uma geração que viveu a juventude numa correria do
presente sem se preocupar se estaria viva com quarenta ou cinquenta anos.
Muitos estavam certos e gastaram as energias em tempo útil. Os outros, os que
atingiram esses marcos etários viram-se de repente em terras desconhecidas,
rodeados de novos desafios e novas tarefas para as quais não se prepararam
minimamente. Por isso tiveram que (se) reinventar. Substituindo a pressa e a
sofreguidão pela sabedoria e assertividade vi o pior da minha geração
destacar-se no palco da política, dando azo às mais mesquinhas e torpes
qualidades do ser humano. “Sinais dos tempos” dirão alguns. Sem dúvida.
Devíamos ter feito mais, devíamos ter feito melhor para mudar o estado das
coisas, devíamos não ter colaborado tanto com uma série de coisas que sempre
entendemos erradas, anacrónicas do ponto de vista humano. Pois devíamos. Quem
disse “não”, quem não colaborou, desapareceu. Não vou discutir quem é que
estava certo. Restou a música enquanto espaço de criação e solidariedade, um
espírito ainda hoje presente. Foi pouco? Não sei.
Por outro lado o mundo avançou a uma velocidade tremenda
reinventando praticamente quase todo o nosso quotidiano. A informação circula a
uma velocidade vertiginosa a par com a oferta cultural. O eixo de profundidade
do consumo de uma obra deslocou-se para um alargamento abrangente do horizonte
do conhecimento. As imagens da net sobrepuseram-se à leitura demorada de um
romance no que às massas diz respeito. Dantes ouvíamos um disco vezes e vezes
sem conta até saber quase de cor todas as músicas nele contidas. Hoje ouvem-se
dez minutos, duas faixas de um trabalho e passa-se ao acontecimento seguinte. O
conceito de cinefilia teve que voltar a ser escrito a partir do momento em que
praticamente todos os filmes se encontram à distância de um clique no youtube. Os blogs foram perdendo leitores e eficácia à
medida que que se instalava o Facebook. O lugar para a reflexão em geral foi-se
encolhendo.
As linguagens sucedem-se a uma velocidade vertiginosa. As
cassetes de fita magnética deram lugar aos suportes digitalizados, depois tudo
se encontra na net, deixando de lado o instinto de acumular exemplares em casa.
E é nesta vertigem do tempo que nos interrogamos, perdidos
em pressupostos que de absolutos passam a relíquias, para que serve escrever,
fazer filmes, escrever canções…tentar dominar uma linguagem que depois
desaparece.
Não sei. E foi precisamente por ter mais dúvidas que
certezas ao longo de toda a minha vida que decidi escrever, desenhar histórias,
partilhar entretenimento. Não desisto de o fazer porque não sei fazer mais
nada. Refugio-me na convicção que enquanto houver quem escreva histórias,
haverá quem as queira ler, ouvir, ver na fala das imagens. Talvez a um ritmo
mais lento, menos prioritário, enquanto tento descobrir outros aspectos da
vida. Mas continuarei. Aqui por este blog as histórias vão continuar, as crónicas
e as imagens também. Porque sim.
Obrigado a todos aqueles que nos visitam e continuam a
visitar. Obrigado a todos aqueles que deixam aqui a sua opinião, a sua mensagem.
Quando era novo não percebia nada desta vida. Hoje, a caminho de velho,
continuo a não perceber. Por isso escrevo e continuarei a escrever o que me vai
na alma, a inventar histórias, a desfiar memórias. Para quê? Para não me
esquecer que ainda estou vivo.
Um abraço das Partes do Todo.
Artur
5 comentários:
E enquanto se envelhece, as poucas certezas que temos, transformam-se em dúvidas, e as dúvidas que temos, complicam-se nas profundidades do abismo.
Aí o único remédio, é apreender a largar lastro e tornando-nos mais leves, é possível que em vez da busca frenética pela resposta, ao nada esperar, as nuvens se dissipem e se encontre a paz.
Abraço.
(Idem mea culpa)
*"aprender a largar lastro"
Gosto de ler o romance, o blog, ouvir o album até ao fim. Continua, não escreves só para ti. Gosto muito do que leio aqui. Abraço
Rui, obrigado pelas tuas palavras. Um abraço e volta sempre.
Cara, sensacional! Sou um leitor contumaz pelo simples desejo de me informar. Há, na realidade, muita informações e pouquíssima informados(a)!!
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