segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016
DAS PALAVRAS
E no entanto elas voltam, acabam
sempre por voltar. Como bando de pássaros ora disperso ora em formação, no
último instante antes de ficar escuro, regressam. Embrulham-se umas nas outras
em formas de frases, trazem-me os óculos para que veja melhor. Ficam á espera.
Constroem-se, enganam-se, inventam-se, gastam a sua energia em busca de uma
história. Essa é a natureza delas.
Entre pausas e algazarras, entre
tristezas e sorrisos todas sabem exactamente onde se colocar, onde abrir e
fechar os sons de maneira a falar uma de cada vez.
De início escolhem-se vários
caminhos sem saída. Volta-se atrás, rasga-se a folha. Cansaço, desespero, o
medo de não conseguir dizer, de não saber dizer, de não chegar ao fim. Depois,
por um simples desvio que não estava lá antes o caminho que se abre é novo, as
pedras vão sendo menos, o piso muito mais seguro e confortável e o Tempo
desaparece dos radares. Passa a não haver tempo nenhum a não ser o de inventar,
de contar, de trabalhar com as palavras.
E o cenário avança, a história
vai ganhando caminho e por um breve, brevíssimo instante, parece que tudo está
certo, a realidade não poderia ser mais perfeita. Esse é o momento da
construção, o mais confortável dos momentos onde a concentração apaga toda a
escuridão e sofrimento à volta. Palavra junta-se a palavra, frase engancha em
frase, capítulos, personagens, coerência narrativa. Chegam os fantasmas que se
vêm juntar ao trabalho em colaboração com as palavras. Com muitas histórias na
bagagem, cada um tem a mais importante para contar, falam todos ao mesmo tempo,
protagonistas desse tempo suspenso que os invoca mas nunca da maneira que
pensavam ser invocados.
Por fim a história termina. É o
tempo das despedidas, de desmontar a barraca e partir outra vez. De forma
dispersa ou em formação as palavras voltam a voar em dispersão por um céu fora
que começa a amanhecer. Os fantasmas retiram-se deixando contactos para o caso
de as suas histórias voltarem a ter relevância. Há alguma nostalgia no ar. As
palavras ficaram numa organização que conta histórias, as palavras partiram com
os fantasmas ao amanhecer. Mas acabarão por voltar noutra altura. Voltam
sempre. As palavras…
Artur
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