terça-feira, 16 de dezembro de 2014

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Os melhores discos de 2014

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Mais um ano chega ao fim e cá estamos, uma vez mais, para vos dar a nossa lista dos 25 melhores de 2014.
Não tendo sido um ano tão forte em nomes como sucedeu no ano transacto onde parece que todas as bandas fortes da actualidade resolveram lançar discos, caso dos Arcade Fire, The National, The Strokes, Arctic Monkeys, Devendra Banhart, Vampire Weekend, entre outros, foi, igualmente, um ano rico em lançamentos, sobretudo a nível nacional que teve em 2014 o momento mais forte desde os anos 80, tal foi a quantidade (e qualidade) de lançamentos de discos e concertos de bandas lusas.
Este ano temos três discos nacionais no nosso Top25 e todos muito bem colocados. É um orgulho ver que a música nacional está outra vez a dar cartas e que há muita qualidade pronta para aparecer. É só terem tempo de antena.
Tal como no ano passado, para este Top25 tivemos o seguinte critério: Cada um dos elementos do Altamont votou no seu Top10 individual sendo que as pontuações seguiam a lógica da Formula 1. O primeiro classificado tem 25 pontos, o segundo 18, tendo o terceiro 15 e assim sucessivamente, premiando, desta forma, os discos mais importantes a nível pessoal.
Dos mais de 100 discos votados, estes são os nossos 25 melhores:
25. Tv On The Radio – Seeds

Ao quinto disco os TV On The Radio souberam encontrar perfeitamente o seu espaço no meio de tantas bandas que se vão perdendo no tom ao longo do caminho. Seeds não fica atrás dos melhores momentos da banda, como Dear Science (2008) ou Return to Cookie Mountain (2006). E se o disco de 2011, Nine Types of Light, passou razoavelmente despercebido este Seeds é representativo daquilo que os TV On The Radio são capazes de fazer.As mudanças de registo entre os loops e o electrónico para um registo mais rock introduzem alguma inconsistência mas não retiram valor ao disco. Não é de estranhar, devido à recente morte do baixista Geral Smith, que o álbum acabe por ser um tributo, mais expresso em «Ride» mas sobretudo em «Trouble». A fechar, «Seeds» dá um tom mais alegre, quase de renovação, deixando no ar uma sensação boa, de um disco completo e positivo – se não soubéssemos as circunstâncias não o adivinharíamos.
24. Sharon Van Etten – Are We There

O novo trabalho de Sharon Van Etten é para ouvir com atenção. Dedicar-lhe uma hora, sem distracções, saborear o piano e a voz sussurrada e grave. Are We There, o quarto disco da norte-americana que nos últimos anos se afirmou como uma das mais acarinhadas vozes do folk alternativo, é o que nos traz uma maior produção. É cheio, completo, apaixonado e imensamente triste.
Sharon Van Etten mantém neste disco o seu estilo confessional, mas sem perder contacto com as influências mais alternativas do seu estilo. Alguns dos instrumentos usados, aliás, são os mesmos que foram tocados por Patti Smith ou John Lennon. No entanto letras e voz sobrepõem-se a quase tudo o resto. É por isso que este Are We There tem de ser ouvido com cuidado, com atenção. Uma audição mais superficial torna o disco demasiado melancólico e a roçar o aborrecido, o que é um destino menos digno para o trabalho que Van Etten aqui nos deixa.
23. Tinariwen – Emmar

Emmaar é rock do deserto e blues misterioso. Mas isto não é blues clássico, porque quem afirmar não sentir a aura africana dos Tinariwen estará a mentir – das palavras proferidas em Tamasheq (a linguagem utilizada pelos Tinariwen) até à percussão que, envolvida nas guitarras, nos faz sonhar num território longínquo, não-ocidental, imenso como o deserto do Sahara.
Entre momentos mais contidos e nostálgicos, e outros mais afirmativos e pujantes, estes Tinariwen oferecem-nos em Emmaar uma música que, por mais que falemos em blues, soa absolutamente única e inovadora. Rock do deserto, pois claro.
22. St. Vincent – St. Vincent

A rodela de policarbonato de St. Vincent intitulada St. Vincent entrou na gaveta mágica e começou a tocar. De início, tudo na mesma.«Digital Witness» e «Birth In Reverse» são, indiscutivelmente, boas canções. E como são boas, acabam por fermentar, tornando-se, aos poucos, melhores ainda. Isso foi importante para um desconfiado. Fomos também encontrando, ao longo do disco, aquilo que parecem ser ecos (distantes, é certo) de Kate Bush, por exemplo. Outra coisa que nos pareceu óbvia é que este disco soa a um produto mais acabado, mais polido, o que sempre ajuda a cimentar a qualidade do material, sem que no entanto se descambe num cenário mais popular, o que a acontecer seria trágico. Por outras palavras, parece-nos que St. Vincent deixou de lado uma ideia que pode ser irritante (e no caso vertente era, seguramente), que é a de fazer música espertinha, para entendidos, para os intelectualmente pós modernos, se é que nos fazemos entender.
21. The Growlers – The Growlers

Os Growlers são uma banda diferente. Não procuram estrelato nem grandes alaridos. Pelo contrário, preferem arrastar-se entre as garrafas cheias e vazias de álcool, solução que encontram para tantos dos seus problemas mas talvez mais que isso, por opção própria, de quem gosta de fugir às responsabilidades. Talvez seja por isso que estejam já há bastante tempo em digressão, longe de casa. A banda liderada por Brooks Nielsen e Matt Taylor não parece ser obcecada pela perfeição, pelos arranjos excessivos em que nada é deixado ao acaso. Os Growlers, pelo menos, neste disco mais maduro e polido, continuam a ser aquela banda do «tá-se bem», que apenas está ali a tocar a sua cena. É um álbum no qual podemos ouvir umas pequenas incursões pelo reggae como em «Going Gets Tough» mas onde o sempre falado e presente psych impera.
20. BadBadNotGood – III

Uma sonoridade soturna, que vem de qualquer sítio onde está sempre chuva e está sempre nublado e os candeeiros da rua iluminam um caminho de alcatrão. É qualquer coisa como isto que se vê quando fechamos os olhos e ouvimos BadBadNotGood. Este trio canadiano lançou o seu primeiro álbum de originais, III, este ano que agora acaba, depois de uma série de EP’s e singles que foram vendo a luz do dia. Fala-se de uma sonoridade profundamente jazzística onde não falta percussão, sopro (fantástica intervenção em «Confessions») e cordas, mas que não descura uma contemporaneidade gritante: tudo isto é ligado à corrente por uns laivos electrónicos que deixam a água na boca. Excelente estreia esta, onde podemos afirmar que se existisse definição de chill num dicionário ou enciclopédia de música, este álbum era a foto da entrada, da capa e da contracapa.
19. Aphex Twin – Syro

Treze anos após drukQs*, Aphex Twin vem por fim à seca de que a música electrónica tem vindo a padecer nos últimos anos, trazendo consigo não só o novo Syro, como também muito mais material que acumulou nestes anos de paragem. Syro não é portanto mais um oásis, mas sim, espera-se, o início de um processo de «des-desertificação». Em Syro perpetuam-se algumas características de trabalhos anteriores e abandonam-se outras. Numa análise mais imediata, parece haver uma ligeira inclinação para o seu som mais ambiente, embora sem nunca largar aqueles beats ácidos que tão bem emprega, sendo talvez a música «CIRCLONT14 [152.97]» o melhor exemplo disto. Este equilíbrio (ambienttechno) ligeiramente desequilibrado faz com que, ao ouvir Syro, tanto sejamos transportados para uma rave cheia de putos a dançar com ecstasy no sangue a fazer de combustível, como para um passeio ao luar, por ruas vazias numa noite fria. É após uma hipnotizadora hora da melhor música electrónica dos últimos tempos que nos apercebemos dessa verdadeira beleza interior de Syro. E que maravilhosa descoberta é essa…

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