quinta-feira, 3 de outubro de 2013

LIVRO DE PONTO - OUTONO





1. Parabéns a todas as nulidades, incompetentes e sevandijas que, salvas raras e honrosas excepções, foram eleitos neste Domingo, de norte a sul do país, nas regiões autónomas e nas Ilhas Selvagens. Dispõem de mais quatro anos para desbaratarem dinheiros públicos em obras inúteis, empregarem familiares, vizinhos e conhecidos, adjudicarem obras a amigos e, de um modo geral, continuarem a contribuir para que Portugal vença o prémio de País Mais Feio da Europa, através das autorizações avulsas que vão concedendo para edificações várias: hóteis e "resorts" parolos de luxo em zonas protegidas; campos de golfe em cima das arribas; urbanizações em zonas de paisagem protegida, reserva ecológica ou agrícola. A todos eles desejo um mandato cheio de propriedades.

2. passos coelho e o resto do "gang" não tiveram tempo de ler Jean-Jacques Rousseau. É compreensível: as licenciaturas medíocres obtidas por favor em universidades privadas medíocres; o tempo passado em conspirações, manigâncias e negociatas, subindo a pulso na hierarquia das "jotas"; os anos gastos a esmifrar o Estado dos seus recursos, tratando de transferir capitais que deveriam servir para desenvolver o país e que, ao invés, foram parar aos bolsos dos privados, não lhes deram oportunidade de tomarem contacto com o conceito de "contrato social", indispensável a todos aqueles que almejam desempenhar cargos políticos, e não apenas "ir ao pote". Assim, proponho que se lhes transmita o conceito filosófico-político em doses suaves e homeopáticas. Por exemplo, na feliz formulação de Ana Cristina Leonardo, a única que os partidários do "para trás mija a burra" conseguirão entender:

"Então fazemos assim: Vocês não nos lixam a vida, e nós não vos fodemos a tromba".

3. Passando a coisas sérias: recupero neste Outono o conceito de "emigração interior", que Hannah Arendt desenvolveu num ensaio sobre Lessing, referindo-se aos judeu que, perseguidos na Alemanha se retiravam da vida pública e deixavam de fazer parte de uma sociedade que os rejeitava e decidia aniquilar. Reformulo esse conceito: sujeitos que estamos à iniquidade de um poder político ilegítimo e atroz, que governa contra o povo que o elegeu e a favor de interesses obscuros que o manipulam e orientam, devemos preservar uma espécie de último reduto da nossa intimidade: emigrantes no nosso próprio país, exilados internos, podemos distanciar-nos - ainda que por momentos - da degradada vida pública e política, procurando refúgio na invisibilidade do pensamento e do sentimento nostálgico. Tal atitude, permitir-nos-à, um dia, conhecermos estes "anos de chumbo" e tal conhecimento esclarecerá as razões pelas quais suportámos tudo isto. Como Nietzsche observou: "Quando olhamos para o abismo, o abismo também olha para nós".

4. "Fontes fidedignas" relatam que o último conselho nacional do ppd não tratou de analisar as razões da monumental derrota sofrida pelo partido nas últimas autárquicas, nem de debater mudanças de rumo aconselhadas pelo aviso que o povo português lhes endereçou: tratou-se antes de encontrar formas de perseguir e aniquilar todos aqueles que não alinharam no discurso oficial e se perfilaram contra as escolhas do bando, tudo servido por gritaria, insultos, pateadas, ameaças físicas, palavreado de taberna e linguagem de carroceiro. As máscaras caíram. Por detrás das máscaras estão outras máscaras. E assim até ao infinito. Nada que nos espante. Só é de espantar, ou melhor, de ficar estarrecido de nojo, de vergonha e de horror o facto de aceitarmos ser governados por estes delinquentes. De facto, Portugal bateu no fundo.

1 comentário:

Hélder disse...

Máscara atrás de máscara, palhaço atrás de palhaço, o circo conseguiu a perpetuidade.
Pelo menos até que de um caos que se avizinha, nasça uma nova ordem.