sexta-feira, 27 de julho de 2012
POSSIBILIDADES
Da maneira como a ofensiva neo-liberal tomou o freio nos dentes neste mundo, afiguram-se dois desfechos prováveis, ambos trágicos. Ou o genocídio consentido pela passividade de uma humanidade assustada, ou a generalização da luta entre classes. Os que têm tudo e querem mais e os que já nada têm para perder... Oxalá que eu me engane...
sexta-feira, 20 de julho de 2012
PANIC ON A WEIRD SUMMER DAY
Naqueles tempos a minha vida era uma incógnita absoluta, sem respostas fáceis, sem sombras de perspectivas nem silhuetas nítidas, em suma, nada a que me pudesse agarrar com um pouco de eternidade. Estava em Londres há três meses, trabalhava num “pub” e vivia numa daquelas casas típicas de postalinho, num quarto, dividindo a casa de banho com mais três quartos, numa rua simpática entre Cromwell Road e Queens Gate Gardens, no bairro de Kesington. Comigo viviam o Bruce e o António, que trabalhavam no mesmo lugar que eu, a irmã do Bruce e um gajo suíço que tocava baixo nos corredores do metro. Era uma manhã de Sábado e tinha ido comprar o jornal. Quando voltei vi um gajo a rondar a nossa porta com ar suspeito. Dirigi-me a ele, perguntei se queria alguma coisa. Perguntou-me se morava ali, respondi que sim. Depois começou a falar num gajo paquistanês que lhe devia dinheiro e se ele não morava ali. Respondi que não, que ali não morava ninguém que correspondesse aquela discrição. Começou a insistir que queria entrar e certificar-se por si próprio. De início resisti mas tive rapidamente que mudar de estratégia. O tipo dizia que se não o deixasse entrar, acabaria por voltar, e desta vez com a policia da emigração. Naquela época, tínhamos acabado de entrar na comunidade europeia, mas a livre circulação de pessoas ainda não estava completamente liberada
Panic in the streets of London
Panic in the streets of Birmingham
I wonder to myself
Will life be sane again?
O resto
da manhã e o princípio da tarde foi percorrido sem rumo pelas eternas linhas do
Metro londrino, sem destino aparente. Era Verão e estava um dia quente. Voltei
à superfície em Wembley
Park e dirigi-me a um “pub” à procura de ar condicionado e de
uma “pint” de cerveja. Entrei num ambiente acolhedor de barulhento. Na
televisão um jogo de futebol animava as hostes. Pouco depois de me sentar
entrou uma mulher sozinha, amparada por duas canadianas. Não tinha uma perna e
exibia o coto por baixo da minissaia de ganga. Mandei vir outra cerveja e não
consegui evitar olhar para a ausência do membro dela. Era loura, olhos azuis,
cabelo curtinho muito leve a esvoaçar sem pressa ao sabor do ar condicionado.
Ela percebeu que eu estava a olhar. Interpelou-me após um longo golo na sua
bebida. – Para onde é que estás a olhar? – Fiquei sem resposta pronta, meio
embaraçado. – Era para aqui que estavas a olhar? – apontava para o coto. – Era…
- disse. – Queres mexer? – Olhei-a nos olhos sem desviar o olhar – Pode ser,
porque não. – Levantei-me, dirigi-me a ela e estiquei o braço. A sensação era
como estar a sentir uma almofada cheia de rugas, um espaço muito suave e frágil
ao mesmo tempo. – Então, qual é a sensação? – continuou ela naquele registo de
raiva e desafio. – É estranha. Não se parece com nada que tenha tocado
anteriormente. Queres ir dar uma volta comigo? Prometo que não vou andar
depressa. – Ela soltou uma gargalhada e chamou-me esquisito. Respondi-lhe que
tudo naquele Verão na minha vida era esquisito. Bebemos mais uns copos e
saímos. Comprámos comida na rua e fomos jantar a casa dela. Chamava-se Irene,
trabalhava como secretária numa empresa de imobiliário e tinha perdido a perna num
acidente de mota com o namorado. Ele tinha morrido. O que lhe faltava em termos
de perna, sobrava e excedia as expectativas no resto do corpo. Ao fim de uma
hora na cama já não me conseguia lembrar de nenhum defeito que a Irene pudesse
ter. Passámos aquela noite juntos e assim ficámos todo o dia de Domingo. Ao fim
da tarde disse-lhe que tinha que ir trabalhar e perguntei se queria ir comigo.
Aceitou. Metemo-nos no metro e acabei por a apresentar ao Bruce e ao António.
Ficou lá até fecharmos e pela noite fora a ouvir musica, a cantar e a beber
cerveja. O gajo do dia anterior tinha desaparecido sem deixar rasto.
Contaram-lhe a minha aventura naquele dia. Ela olhava para mim incrédula: “You
are a crazy fuck, aren’t you?” Eu respondia meio envergonhado: “I think I´m a
crazy fart, thats all?” O António emprestou-me a mota dele para a levar a casa.
Dormi lá outra vez nessa noite. A Irene voltou ao “pub” mais duas ou três vezes
e nunca mais a voltei a ver. Sabíamos que havia ali qualquer coisa. Qualquer
coisa que não era suficiente para manter uma relação duradoura. Mesmo assim,
ficámos amigos. A minha vida continuava uma espécie de incógnita permanente,
sem esboços de futuro, sem nada a que me pudesse agarrar. Era como se estivesse
amputado de respostas. Aqueles dias com a Irene, no entanto, serviram para me
dar um pouco de paz e tranquilidade. Uma tranquilidade que já não sentia há
muito, muito tempo. No rádio os Smiths cantavam o pânico. Na minha cabeça, era
apenas mais uma canção daquele estranho Verão na Londres dos anos 80….
Burn down the disco
Hang the blessed DJ
Because the music they
constantly play
It says nothing to me
about my life
Artur
segunda-feira, 16 de julho de 2012
domingo, 8 de julho de 2012
O CLARIM DA REVOLTA
TAPS
Harold Becker
Tudo corria bem na Academia de Bunker Hill até ao dia em que uma
péssima notícia veio abalar a paz do seu normal funcionamento. O conselho de
accionistas anuncia que os terrenos da academia irão ser vendidos para dar
lugar a uma estrutura de condomínios. O seu encerramento terá lugar
imediatamente após o fim do corrente ano escolar. O seu director, o general
Bache, promete que fará tudo o que estiver ao seu alcance para manter a escola
aberta. O general acabará por sofrer um trágico acidente que o irá levar ao
hospital. Com o director fora do caminho, o conselho resolve antecipar as suas
ambições e decreta o fecho imediato da escola. Sem o seu líder, sem a mais
forte esperança de impedir o
encerramento da sua escola, os cadetes mais antigos decidem barricar-se lá
dentro. O comandante do batalhão, Brian Moreland (Timothy Hutton) comanda toda
a operação, tanto na defesa da continuidade da escola como na intenção de
honrar o general Bache, mesmo que para tal tenham de recorrer à utilização de
armas de fogo.
Este é em síntese o drama central
de TAPS (que em Portugal ficou traduzido como: O CLARIM DA REVOLTA), um filme
que 30 anos depois ainda se consegue visualizar confortavelmente, uma narrativa
muito interessante que oscila entre o realismo e o romantismo. TAPS, a esta
distância temporal, é também um filme de actores. Começando pelo gigante George
C. Scott, que entrou para a história do cinema com a extraordinária
interpretação do general Patton no filme com o mesmo nome, argumento de Francis
Ford Copolla. Por outro lado, a escolha de Timothy Hutton para o papel do
comandante dos alunos é feita logo após a atribuição do Óscar de melhor actor
secundário pela sua actuação no filme ORDINARY PEOPLE. Com ele duas estreias de
dois futuros gigantes da representação que acabarão por ultrapassar o seu
comandante em popularidade. Um
Sean Penn no papel do cínico e da má consciência do
comandante, e por outro lado Tom Cruise num registo de grande intensidade,
violento e desequilibrado. Imagens que ambos acabarão por afastar nos papéis
futuros ao longo de carreiras triunfantes.
Os soldadinhos de brinquedo (com
idades entre os 12 e os 18 anos) transformam-se então em soldados a sério,
desenvolvendo uma operação de força tendente a forçar o “inimigo” a repensar a
sua estratégia de encerramento da escola, ou pelo menos a encontrar uma solução
de compromisso através de negociações com os alunos. E mais do que uma simples
teimosia de jovens românticos, defendem os valores que lhes foram ensinados, o
respeito pela honra do seu líder, a protecção da casa onde estudam e vivem, num
exercício de dignidade até às últimas consequências. Não sendo rebeldes, nem
invasores, nem inimigos do seu país, o que estes jovens acabam por fazer é dar
um nó nas contradições do sistema. Colocam uma bandeira para assinalar o
cruzamento entre a cartilha dos valores patrióticos e a hipocrisia da
especulação gananciosa. O cerco começa então em frente aos portões da escola,
com a Guarda Nacional os pais e os noticiários televisivos a tentarem dissuadir
um extremamente motivado comandante a render-se.
Rodado em Valley Forge
Military Academy na Pensilvânia oriental, o filme não encerra
conclusões fáceis e está longe de nos dar alguma resposta simples. Se por um
lado a conduta radical dos jovens cadetes é excessiva e quase irresponsável no
que às consequências diz respeito, também não deixa de ser pertinente que, ao
sentirem-se encurralados, não hesitaram em se defender. Em defender um modo de
vida incompreensível para a maior parte do mundo exterior. Defesa essa que em
muitos casos não consegue evitar a nossa simpatia…
Artur
domingo, 1 de julho de 2012
Subscrever:
Mensagens (Atom)