Décimo oitavo dia do nono mês de dois mil e vinte e quatro.
quarta-feira, 18 de setembro de 2024
NO CAOS DA CALMA...A ENTRADA
terça-feira, 9 de julho de 2024
PORQUE É VERÃO
No nono dia do sétimo mês de dois mil e vinte e quatro entra o vento pelo balcão adentro e a folhagem das árvores dança em frente. A Dora trota feliz entre o jardim e o pomar, parando só para pôr o focinho no ar que traz o cheiro equino da vizinhança mais ao lado. Serão póneis, serão cavalos ? São amigos certamente, que relincham à presença dela, à visão dos flancos e das curvas delineados pelo sol nascente.
sábado, 1 de junho de 2024
NÃO PISEM A RELVA
Tudo o que escrevi aqui, há não sei quantos anos, não passou de vozearia, palavras ocas, ruído, tanto ruído incomodativo e inútil, cheio de pompa, presunção e ilusão. Não soube preservar o silêncio, guardar o recato, conservar o bem mais precioso de todos, abster-me de fazer juízos, de emitir opiniões, de construir estruturas de ideias falsas, proclamações que a ninguém interessam, nem sequer a mim mesmo. Por isso, adeus, passem bem, sejam felizes, mantenham-se quentes e em segurança. Eu vou andando. Ou não.
quarta-feira, 1 de maio de 2024
quinta-feira, 25 de abril de 2024
segunda-feira, 15 de abril de 2024
NÃO VÁS PARA AÍ
No princípio tudo é fascínio e aventura, tudo é um universo
para desbravar, um espaço à espera de conquista. Não há dores nem receios,
hesita-se pouco. Descemos vagarosamente os degraus de pedra e entramos
suavemente na maré. Depois vamos ganhando mais confiança e arriscamos um
mergulho. Primeiro nos degraus mais baixos e pouco a pouco subindo até lá
acima. Contemplando o horizonte introduzimos a vertigem do salto. Em poucas
tentativas já somos amigos do mar e passamos horas a brincar com ele, nadando
nas suas águas, mergulhando, percorrendo os caminhos de um mundo diferente do
nosso. Às vezes uma voz fraca faz-se ouvir ao longe.
Não vás para
aí
E nós vamos e continuamos a ir sem ligar nenhuma a avisos longínquos.
Ficamos na água até bater o queixo e voltamos para casa ao fim do dia. Nesse tempo não há preocupações nem vertigens, não há medo nem frio.
Depois qualquer coisa vai acontecendo com o passar do tempo.
O passo desacelera, o corpo aumenta de peso, a paciência muda de capacidade.
Continua a vontade de saltar para dentro de água mas de uma forma mais
moderada. Uma vez por outra a vontade de nadar mas o frio e as dores começam a
pesar no corpo. Já não apetece lá ficar tanto tempo, há muitas coisas para
fazer. E uma voz soa lá longe.
Não vás para aí
E em certos dias não vamos. Preferimos passear ao fim da
tarde pelo passeio marginal. Continuamos amigos, continuamos a passar tempo
juntos mas desta vez de um forma mais ponderada. Em vez de nadar todos os dias
começamos a apreciar o diálogo mais calmo, o passeio, a contemplação do outro
mundo ao lado do nosso.
Não vás para aí
E num instante os anos passam e a vontade que era toda começa
a encolher. As pernas, o fôlego e o passar dos dias encolhem com ela.
Estabelecem limites, impõem disposições, ditam a severidade das regras.
Voltamos ao mar, voltamos sempre lá para visitar um amigo mas precisamos de uma
sombra, de um lugar para nos sentarmos. E ficamos a ver os outros mais novos
que caminham pela marginal ou os outros ainda mais novos que mergulham
despreocupados. Já não é uma voz a dizer
Não vás para aí
É outra coisa que sai cá de dentro, outra coisa que se veste
em forma de aviso, autoritária.
Não podes ir para aí
De maneira que nos deixamos por ali ficar sentados a sentir
a brisa ao fim da tarde, os cheiros do mar e continuamos a nossa conversa com
um velho amigo. O Tempo não termina, encolhe como os nossos corpos, vai-se ajeitando
como um gato antes de se deitar dando voltas e voltas. Tudo fica mais pequeno
até desaparecer. E de repente damos conta que estávamos dentro de um filme, ou
de uma máquina que filmava e que aos poucos a lente vai-nos absorvendo até aos
limites do enquadramento. Depois somos levados até nos tornarmos parte da
maquinaria que produz as imagens e que faz correr toda a acção. E ao longe
voltará a fazer-se ouvir uma voz
Não vás para aí
A mesma que sempre ouvimos e à qual nunca obedecemos. Nessa
altura percebemos. Não era do mar que ela estava a falar.
Não vás para aí
E nós vamos na mesma, como sempre fomos, sem lhe dar ouvidos…
Artur
domingo, 7 de abril de 2024
É DOMINGO
terça-feira, 12 de março de 2024
HISTÓRIAS DENTRO DE HISTÓRIAS
Acordo de manhã sentindo-me perdido, sensação que me
acompanhou quase sempre ao longo de uma vida inteira. A busca incessante de um
rumo seria só por si razão suficiente para encontrar algum. Mas não foi. Não há
certezas de nada, nunca houve. Só dúvidas, só questões, só interrogações que
ficam a pairar no ar como uma constipação prolongada que nunca mais tem fim.
Desligo a televisão e o telefone, elementos que entendo manterem no ar um
quadro de emoções paralisante, uma depressão inútil, um ambiente que imobiliza
e enfraquece a vontade. Percorro a estante no corredor, testemunho de uma vida,
marcos de existência. Uma biblioteca como caminho percorrido. Estico um braço e
viro a cara na direcção oposta. Tiro um livro, um livro qualquer. Todos os
livros interessam, todos os livros contam alguma coisa. São vozes caladas que
conspiram no silêncio das narrativas. Aprende-se sempre qualquer coisa com
eles, ouve-se a história de alguém…de alguma coisa. As histórias são a maneira
que encontrámos para não nos sentirmos sozinhos, a resistência ao conceito da morte,
do nosso estatuto de coisa finita, que termina irremediavelmente. Deixando
testemunho, real ou ficcional, vencemos o nosso fim, continuamos o diálogo com
os que ainda hão-de vir, ficamos depois de partir.
Somos histórias dentro de histórias, pedaços de tempo que se
cruzam ou caminham em paralelo deixando para trás os registos de passagem para
que alguém os leia no futuro enquanto os acumula na sua própria caminhada. São
memórias antigas, paixões, ódios, aventuras. Os livros estão cá e continuarão a
estar muito depois de partirmos contando partes da realidade, vivida ou
ficcionada, dialogando com quem os quiser abrir. Ensinam sempre alguma coisa,
descrevem paisagens por explorar, abrem horizontes nas nossas mentes permitindo
evoluir na forma como nos vemos a nós e ao mundo onde vivemos.
Ao longo do corredor uma estante serve de registo da
caminhada, um gigantesco depósito de memórias e narrativas sempre actuais para
quem a quiser visitar. Tem sempre uma resposta, uma ideia, uma emoção guardada
para entregar.
No mundo das vozes que se vão calando alguém continuará a
falar, a pensar, a colocar questões. No mundo das estantes esquecidas em
corredores das casas haverá sempre o ruído de passos curiosos que se
aproximarão e esticarão o braço na direcção de uma capa, de um título, de uma
encadernação apelativa. E por momentos a solidão deixará a casa para fumar um
cigarro lá fora, a morte será acometida de uma longa constipação daquelas que
nunca mais acabam. E a conversa será eterna.
Artur
domingo, 3 de março de 2024
20230303
Terceiro dia do terceiro mês de dois mil e vinte e quatro
sábado, 3 de fevereiro de 2024
ATRAVÉS DA TEMPESTADE
Perante a cegueira do ódio, perante a anestesia da
degradação e a banalidade do mal, atravessamos os tempos presentes como uma
enorme tempestade sem grande margem de espaço para a contrariar. Baixamos a
cabeça e esperamos que os estragos sejam mínimos ou resignamo-nos ao nosso fim.
De uma forma ou de outra recorremos a todos os esforços para manter a
serenidade. Com ela é possível somar os dias com um mínimo de paz, atravessar
estes tempos imaginando que um dia terão forçosamente que terminar.
O importante não é a queda mas o impacto, o importante não é
o impacto mas a velocidade…O importante é tentar perceber essa vertigem que nos
empurra, essa força descomunal empenhada em nos destruir só porque sim. Sem
medo aceitemos essa força e naveguemos pelos territórios do caos enquanto houver
embarcação. Nada faz sentido nem nunca fez. Por isso o melhor é tornar o nosso
trajecto numa experiência de cooperação e solidariedade. Para quê? Para não dar
o caminho como perdido, a existência como desperdício e a evolução como inútil…
Artur
domingo, 28 de janeiro de 2024
I SIT AND LOOK OUT UPON ALL THE SUFFERINGS OF THE WORLD
I sit and look upon all the sorrows of the world, and upon all opression and shame,
I hear secret convulsive sobs from young men at anguish
with themselves, remorseful after deed done,
II see in low life the mother misused by her children,
dying, neglected, gaunt, desperate,
I see the wife misused by the husband, I see the treacherous seducer of young women,
I mark the ranklings of jealousy and unrequited love attempted to be hid, I see these sights on the earth,.
I see the workings of battle, pestilence, tiranny, I see martyrs and prisoners,
I observe a famine at sea, I observe the sailors casting lots who shall be killed to preserve the lives
of the rest,
I observe the slights and degradations cast by arrogant persons upon laborers, the poor, and upon negroes and the like;
All these - all the meanness and agony without end I Sitting look out upon,
See, hear, and am silent
Whalt Withman ( 1819 - 1892)
sábado, 27 de janeiro de 2024
INDO COM AS FOLHAS QUE SE SOLTARAM
sábado, 20 de janeiro de 2024
O CIRCO DE OLISIPO
quinta-feira, 18 de janeiro de 2024
QUINTA FEIRA DE AMIGOS DE 2024
UMA RUA COMO AS OUTRAS
É uma rua como as outras onde o dia chega de manhã e acorda
as cores e as formas muito devagar. Uma rua como as outras que vai juntando
histórias e caminhos dos que por ali passaram. Uma livro aberto à descoberta e ao
correr da passagem dos dias multiplicado pelas cidades com prédios e carros em
movimento, janelas observadoras, obras ocasionais, tardes mansas de fim de
semana, um arquivo de sonhos e tragédias, inícios e pontos finais de
existências que passaram por aquele espaço.
Uma rua como as outras que se recolhe ao anoitecer e deixa
ligadas as luzes de presença dos candeeiros, o brilho das montras, o rasto dos
faróis dos carros que a atravessam. Uma rua projectada, construída, percorrida,
vivida, uma existência prolongada pela sua razão de ser, pela sua utilidade,
estação de passagem, chegada e partida para o resto da cidade.
Uma rua como as outras que começa perto de um rio e que
cresce para o interior em busca de uma avenida principal a quem passa o
testemunho da direcção.
Uma rua como as outras de importância única no breve espaço
que serve, pedaço de caminho entre duas realidades, observatório de movimento, ensaio
de registo, começo e fim da existência
nunca traduzida em linguagem normal.
Uma rua como as outras que um dia se cruzou no nosso caminho
e, sem nada dizer, conseguiu manter uma longa conversa, estimulou uma reflexão
e permitiu uma imagem para recordação futura.
Uma rua como as outras, solitária e persistente na sua
função de rua, aberta aos ciclos do Sol e às estações do ano, dona da sua
utilidade, sempre disponível para um breve diálogo ocasional de boa vizinhança.
Artur