(Imagens de Sofia Vaz Pinto)
Éramos um bando de crianças que corria despreocupada pelas ruas sem se ralar com muita coisa. O tempo ia passando, a história tropeçava mas não queríamos saber. Éramos adolescentes arrogantes cheios de certezas para nos defendermos dos enigmas sem solução. Preferíamos amar a vida, amar o nosso crescimento, amar-nos uns aos outros de vez em quando. Esquivávamo-nos dos obstáculos com uma perícia felina e seguíamos em frente. Ouvíamos música porque esse era o único território onde alguma coisa, quase tudo, fazia sentido. Não queríamos nada a não ser quem éramos sem pensar muito, sem perder muito, sem sofrer muito. Corríamos para cima e para baixo os caminhos abertos como turistas que visitam uma duna gigante num deserto longínquo, admirados e contemplativos. Principezinhos de uma história universal, de um mundo específico cuja única regra era cativar. A vida estava fora desse planeta onde tudo fazia sentido, onde o sofrimento e a dor não conseguiam viver, onde era sempre fim da tarde.
Éramos um bando de crianças e
nunca quisemos ser outra coisa. Por isso hoje ao ouvir músicas com os nossos
filhos, ao reprimi-los sem vontade nem convicção, ao tentar levar a sério uma
existência que nada tem de razoável, não perdemos uma oportunidade para agarrar
uma brincadeira, uma gargalhada despreocupada, uma emoção pura. A nossa maneira
de cativar só não funcionou com a vida, mas deu resultado em tudo o resto.
Éramos um bando de crianças alegres e desenfreadas e nunca quisemos ser outra
coisa. Mesmo quando nos vestimos de adultos, mesmo quando carregamos
responsabilidades, mesmo quando olhamos para a morte sem a conseguir perceber.
Uns principezinhos que nunca abandonaram o seu pequeno planeta em que tudo faz
sentido e onde a dor e o sofrimento não conseguiam entrar enquanto não
aprendessem a cativar.
Artur
1 comentário:
Arturamigo
Como certamente já sabes, estou (infelizmente…) de volta a este vale de lágrimas em que os criminosos que dizem que nos governam reina a felicidade e até consegui(mos?)ram uma saída limpa (???) depois de quase três anos de sofrimento, de penúria, de pobreza e de resignação. Somos assim, masoquistas, gostamos de levar na cabeça, que raio de vida e de estar de cócoras.
Goa ficou para lá voltar no próximo ano. Entretanto, estarei por cá e tentarei ir acompanhando, como habitualmente faço, este teu blogue. E, sempre que possível, comentando. Mas, hoje, ainda não comento…
Abç
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