De uma simples banda de Rock até
uma instituição musical de referência, os “Paralamas do Sucesso” atravessaram
três décadas de mais êxitos que fracassos fazendo no essencial uma
extraordinária gestão de recursos que vão desde a sua publicação regular de originais
até à eficaz utilização da multimédia. Tudo começa em Brasília no final dos
anos 70. Herbert Vianna, filho de militar e Bi Ribeiro, filho de diplomata,
conhecem-se desde crianças. Mais tarde, a frequentar o mesmo Colégio Militar
decidem formar uma banda. Por obrigações estudantis estão parados entre 79 e
81, altura em que retomam a actividade. Entre o interior fluminense e a casa da
avó de Bi em Copacabana no Rio de Janeiro acontecem os primeiros ensaios e as
primeiras canções. Ao princípio tudo era muito ligeiro com entradas e saídas
até que, a partir de 1982 com a entrada definitiva de João Baronne para a
bateria tudo se torna mais sério. Com Herbert na guitarra e na voz e Bi no
baixo compõem três temas que enviam para a Rádio Fluminense. Um deles, “Vital e
a sua Moto” torna-se um êxito imediato. O sucesso foi tal que se abriram as
portas para um grande espectáculo ao vivo. No Verão de 83 abrem o concerto de
Lulu no Circo Voador e no mesmo ano assinam com a EMI gravando o álbum “Cinema
Mudo”. Em 1984 alcançam a consagração com “O Passo de Lui” onde se destacam
vários sucessos como “Óculos”, “Me Liga”, “Meu Erro”, “Romance Ideal” ou “Ska”.
A aclamação da crítica garante-lhes a passagem para a primeira edição do Rock
in Rio (85), sendo na altura considerada a melhor actuação de todo o festival.
No ano seguinte editam
“Selvagem?” mas desta vez já sem apoio da crítica que dele faz uma apreciação
bastante negativa. Neste trabalho fica marcada a fusão do rock com a MPB e o
“tropicalismo africano” de Gilberto Gil, que é co-autor (“A Novidade”) e
participante (“Alagados”) em dois temas. Apesar de bastante maltratados pela
crítica, os Paralamas conseguem vender 700 mil discos e participar no Festival
de Montreux de 1987. Nessa actuação aproveitam para editar o seu primeiro disco
ao vivo, manobra que se repetirá ao longo da sua carreira. Segue-se uma tournée
pela América Latina onde vão ganhando popularidade em países como o Chile, a
Argentina ou a Venezuela.
No álbum seguinte, “Bora- Bora”
cuja novidade é a introdução de uma secção de metais, a sonoridade da banda
ganha novos horizontes. As canções misturam a temática de análise política e
social com a introspecção individualizada. É o regresso aos tempos de “O Passo
de Lui” em termos de sucesso. Segue-se “Big- Bang” (89) que mais não é do que a
continuidade de “Bora-Bora”, tendo com “hits” músicas como “Perplexo” e
“Lanterna dos Afogados”. A década de 80 termina com a colectânea “Arquivo”.
A década de 90 é na carreira dos
Paralamas uma etapa de experimentação onde desde um destaque nos teclados (“Os
Grãos”) e o trabalho demasiado elaborado nos arranjos (“Severino”), publicam
dois álbuns condenados a fracassar.
Neste último os Paralamas contaram com a particcipação especial de Brian
May (Queen) no tema “El Vampiro Bajo El Sol”). Apesar do fracasso nas vendas e
da pouca aderência de público e crítica, o que é certo é que os espectáculos ao
vivo estavam sempre cheios para receber os Paralamas. Mas a banda não se deixa
desanimar e parte rapidamente para o contra ataque. Primeiro lançam “Paralamas”
(92), colectânea de versões em espanhol, para de seguida editarem “Dos
Margaritas”, versão hispânica de “Severino”. Pela América Latina rapidamente
alcançam os tops de vendas com destaque particular para a Argentina. Uma série
de três espectáculos gravados no fim de 1994 transforma-se no ano seguinte no
disco ao vivo “Vamo Batê Lata”, com quatro inéditos e o sucesso “Uma
Brasileira” (parceria de Herbert com Carlinhos Brown e participação de Djavan), “Saber Amar” e “Luís Inácio”, esta uma crítica directa à
política brasileira e aos “anões do orçamento”. O regresso ao formato pop, bem
como a recuperação de temas de mais fácil leitura recuperaram a atenção de
público e crítica. A estrada do sucesso vai continuar com “Nove Luas” (96) e
“Hey, Na, Na” (98). Em 1999 gravam um acústico para a MTV Brasil que vende
cerca de 500 mil cópias mais o Grammy Latino para o melhor disco do ano. Em
2000 sai a segunda colectânea (“Arquivo II”) com músicas de todos os álbuns de 91 a 98.
Ao contrário da década de 90, o
início deste século foi bastante problemático para os Paralamas. Em Fevereiro
de 2001, na sequência da queda de um ultraleve Herbert fica paraplégico e a sua
mulher perde a vida. Tudo ficará em suspenso por uns tempos até Herbert recuperar.
Percebendo que consegue continuar a tocar, a banda retoma os ensaios e avança
com um conjunto de canções que já estavam preparado antes do acidente. 2002 é o
ano de “Longo Caminho” e caracteriza-se pelo abandono da secção de metais. Num
regresso às origens o som é agora muito mais limpo, duro, intimista. Seguem-se
os espectáculos esgotados como sempre. As vendas chegam aos 300 mil exemplares.
Além de um som muito mais pesado velhos temas como “Meu Erro” ganham novos
arranjos. Os metais vão regressar em 2005 em “Hoje” se bem que o registo pesado
se mantenha.
Em 2008 para comemorar os 25 anos
de carreira juntam-se com os Titãs, também há 25 anos na estrada, para uma
série de espectáculos. Série que vai terminar em Maria da Glória, Rio de
Janeiro num espectáculo memorável lançado em CD e DVD intitulado “Paralamas e
Titãs: Juntos e ao Vivo”
Em 2009 lançam “Brasil Afora” com
participações de Carlinhos Brown e Zé Ramalho.
Em 2010 gravam o CD/DVD
“Multishow Ao Vivo Brasil Afora” no Espaço Tom Jobim no Jardim Botânico do Rio
de Janeiro.
Em 2013 voltam à estrada pelo
Brasil fora, comemorando 30 anos de carreira.
A história dos Páralamas é uma
estrada longa e bem sucedida que transformou a banda (tal como dizíamos no
início deste artigo) numa instituição de referência no panorama musical tanto
do Brasil como da América Latina. O
segredo do seu êxito talvez se prenda com coisas bastante simples. Com uma
personalidade bem vincada, sem se intimidarem com as críticas e evitando ao
máximo cedências comerciais, os Páralamas respeitam-se, respeitando o seu
público. Hoje são aplaudidos por várias gerações, algumas que nem existiam
quando tudo começou. Têm também um sexto sentido de adaptação extremamente
apurado que lhes permitiu gerir uma brilhante carreira. Uma banda de
referência, pois.
Artur
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