Apesar de algumas intenções de
abertura política poderem ser encontradas no discurso do Presidente Geisel, no
início da década de 80 o Brasil vive ainda debaixo de uma ditadura militar. Nos
anos que se vão seguir, um movimento generalizado da sociedade civil vai
ganhando força, nomeadamente na pressão exercida pelo movimento “Directas Já”
que exigia na rua a convocação de eleições livres. A materialização do fim da
ditadura no entanto só acontece em 1988 com a promulgação da nova Constituição.
Considerada pelos economistas como uma “década perdida”, pontuada pela
estagnação económica e por uma inflação descontrolada, do ponto de vista social
e político os anos 80 marcam um momento histórico único de rupturas e
reconstrução.
Marcado pelo charme da bossa nova
dos anos 60 e pela intensidade política dos anos 70 (MPB, Tropicália) o Brasil abre uma nova direcção
na sua criação musical. Se até então o Rock era um estilo de música presente no
quotidiano brasileiro desde os anos 50, é na década de 80 que ele vai atingir a
sua maturidade tornando-se pela primeira vez um verdadeiro fenómeno de massas.
Para que assim fosse, para além da já referida necessidade de mudança e
ruptura, ocorrem três aspectos fundamentais em perfeita sincronia. A saber: 1 –
A criação de casas de espectáculos como o “Noites Cariocas” e o “Circo Voador”
no Rio, e a “Aeroanta” em S. Paulo; 2 – uma geração rara de criadores
extremamente talentosos; 3 – uma industria discográfica ávida de novidades.
Essa época do Rock brasileiro, ou
“B Rock” como passou à História, é liderada por um quarteto fundamental de
bandas sem as quais nada seria como antes. Tão fundamentais que enquanto umas
se mantiveram activas até aos nossos dias outras apesar de desaparecidas
continuam a tocar nas rádios e a ser ouvidas por gerações que nem sequer tinham
nascido quando tocavam. Estamos a falar de “Paralamas do Sucesso” (Brasília
depois Rio de Janeiro), “Titãs” (S.
Paulo) que de início juntavam as
influências new wave e reggae com as da
MPB e que mantiveram a formação original até 1992, “Barão Vermelho” ( Rio de
Janeiro) que surgem em 1982 liderados por Cazuza, e por fim no mesmo ano os
“Legião Urbana” liderada por Renato Russo e terminada em 1996 com a sua morte.
Outras bandas em destaque na
década de 80 foram “Sempre Livre”, “Gang 90 e as Absurdettes”, “Biquíni
Cavadão”, “Hanói Hanói”, “Hojerizah”, Lobão e os Ronaldos”, “Metro”,
“Magazine”, Grafitti”, “Ed Motta e Conexão Japeri”, para além de cantores como
Marina Lima, Léo Jaime, Ritchie, Kid Vinil, Fausto Fawcett, entre outros.
Por todo o Brasil as bandas
saltavam do anonimato e recebiam banhos de multidão sempre disposta a segui-las
em espectáculos e digressões.
No caso do “heavy metal” destaque
para os “Sepultura” de Minas Gerais, a banda
brasileira de maior sucesso internacional com letras em inglês. Uma
outra banda a conseguir destaque fora de portas foi a paulista “Viper” que
também cantava em inglês e que por sua vez ajudou a desenvolver um estilo que
se viria a chamar “metal melódico”.
Para além do fenómeno e do
triunfo de uma expressão musical exterior num país profundamente marcado pelas
suas raízes culturais, o B Rock limitou-se a comprovar a vocação internacional de um género de
expressão que é herança da Humanidade de uma forma global. O Rock, sendo de
todos não pertence a lugar nenhum. Nos próximos artigos tentaremos uma
abordagem mais íntima ao B Rock, pormenorizando bandas e poemas, tentando
imortalizar em crónica mais um momento em que o céu foi o limite.
Até lá…
Artur
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