É sempre agradável acordar para
encontrar um dia de Sol resplandecente recebido por um bafo quente típico
mediterrânico. A árvore da rua quieta e exultante de verde, o melro habitual
aos saltos entre os seus ramos, o vizinho asiático em movimentos de harmonia no
terraço, e lá em baixo o rio, azul e dourado de milhares de reflexos, quase que
conseguimos ouvir o rumor silencioso de um casco a deslizar sobre a água
empurrado pelo vento. É sempre agradável, mesmo sabendo que não é verdade,
julgar que tudo está no seu lugar, não há pressas nem pressões, as novidades
tristes não se levantaram hoje, nada existe digno de perturbar esta paz.
Acordar com a saudação do teu beijo e a informação que não há nada de novo a
assinalar deste lado do império, deste lado da cidade, deste lado da
existência. E nesse instante é tempo de espreguiçar, inspirar este ar até ao
limite e simplesmente estar. Descer a rua, comprar o jornal e passear pela
banalidade de não ser nada além de uma peça mais nesta manhã de Sol
resplandecente embrulhada num tímido bafo mediterrânico. Dançar a harmonia da
ginástica do vizinho asiático, acenar ao melro da rua, cruzar o rio em silêncio
a caminho da barra.
Fazem falta estas manhãs em que
não acontece nada para ganhar embalo para o resto dos dias que se seguem. Faz
falta acordar com o teu beijo antes de ligar a máquina do café, faz falta ver o
mundo parado por umas horas e pensar, mesmo não sendo verdade, que tudo está
exactamente onde devia estar. Manhãs em que não é preciso provar nada,
demonstrar nada, fazer nada…apenas estar e fazer parte do cenário
despreocupado, sereno, em paz.
Artur
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