sábado, 31 de maio de 2014

DESPERTAR DE COISA NENHUMA



É sempre agradável acordar para encontrar um dia de Sol resplandecente recebido por um bafo quente típico mediterrânico. A árvore da rua quieta e exultante de verde, o melro habitual aos saltos entre os seus ramos, o vizinho asiático em movimentos de harmonia no terraço, e lá em baixo o rio, azul e dourado de milhares de reflexos, quase que conseguimos ouvir o rumor silencioso de um casco a deslizar sobre a água empurrado pelo vento. É sempre agradável, mesmo sabendo que não é verdade, julgar que tudo está no seu lugar, não há pressas nem pressões, as novidades tristes não se levantaram hoje, nada existe digno de perturbar esta paz. Acordar com a saudação do teu beijo e a informação que não há nada de novo a assinalar deste lado do império, deste lado da cidade, deste lado da existência. E nesse instante é tempo de espreguiçar, inspirar este ar até ao limite e simplesmente estar. Descer a rua, comprar o jornal e passear pela banalidade de não ser nada além de uma peça mais nesta manhã de Sol resplandecente embrulhada num tímido bafo mediterrânico. Dançar a harmonia da ginástica do vizinho asiático, acenar ao melro da rua, cruzar o rio em silêncio a caminho da barra.
Fazem falta estas manhãs em que não acontece nada para ganhar embalo para o resto dos dias que se seguem. Faz falta acordar com o teu beijo antes de ligar a máquina do café, faz falta ver o mundo parado por umas horas e pensar, mesmo não sendo verdade, que tudo está exactamente onde devia estar. Manhãs em que não é preciso provar nada, demonstrar nada, fazer nada…apenas estar e fazer parte do cenário despreocupado, sereno, em paz.


Artur

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