quarta-feira, 27 de novembro de 2013

SALVA VIDAS

A boia fica ali pendurada sem utilidade nenhuma, empurrada por uma brisa ocasional que lhe pede respostas. O mar e a areia despedem-se devagar enquanto o Sol se espreguiça sobre eles sonolento. Enquanto sacudo a areia dos sapatos olho o vazio da praia em redor. Falto eu, faltamos todos e no entanto parece que não falta nada aquele momento em que o tempo se faz suspender antes do escuro tomar conta de tudo. Nada acontece e tudo parece estar no sítio exacto onde pertence. Os travões da última carreira do autocarro interrompem o silêncio antes de embarcar a velha que vende bolos e o rapaz que toca guitarra á frente de um pano para onde atiram moedas. A esta hora deixou de haver vidas para salvar nem mortes para lamentar. O dia vai morrendo no horizonte muito devagar. Falto eu e faltamos todos neste momento sem nada faltar. Nasce-se todos os dias para morrer e morre-se para voltar. Entre uma viagem e outra sacodem-se os sapatos e volta-se para casa no sopro dos travões do último autocarro. Amanhã cá estaremos até um dia, eu as palavras e o mar. Artur

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