sábado, 12 de março de 2011
REPORTER X – II PARTE
( O TAXI 9297)
O CINEMA
O universo de Reinaldo Ferreira não se esgotou no papel, isto é, os livros não foram conteúdo suficiente para formalizar a sua torrente criativa. Escrevendo para teatro, o cinema seguiu-se sem grande admiração enquanto argumentista e realizador. Estreia-se em 1923 com O GROOM DO RITZ, adaptação da obra “El Botones del Ritz”, e estreou em Julho do ano seguinte no Salão Central. Tratava-se de uma aventura de policias e ladrões, envolta em peripécias de espionagem, protagonizada pelo pequeno “groom” de um hotel chique.
Quatro anos depois é fundada no Porto a Repórter X Film com financiamento do comerciante Joaquim Alves Barbosa. Mais três títulos serão rodados nesse ano, sendo O TAXI 9297 o mais emblemático desse grupo. Rodado nos antigos estúdios da Invicta Film, conta com argumento e realização de Reinaldo Ferreira e é inspirado no misterioso assassinato da actriz Maria Alves ocorrido anos antes. Na qualidade de profissional da imprensa especializado em temas policiais, Reinaldo Ferreira havia participado no acompanhamento das investigações desta tragédia que emocionou a opinião pública. Por fim, a surpreendente descoberta de que o assassino era nem mais nem menos do que Augusto Gomes, o empresário e amante da actriz, ampliou ainda mais o clima de consternação e horror na sociedade. Num enredo empolgante, ainda hoje é notória alguma sátira social. A excelente definição de tipos humanos, bem compostos ao nível de protagonistas, fazem deste filme um exemplo invulgar e isolado na cinematografia da época.
Ainda em 1927, roda-se RITA OU RITO, uma comédia onde um namorado se apresenta enquanto mulher para iludir a vigilância de um paizinho severo. Segue-se VIGÁRIO FOOT-BALL CLUB, uma colagem de quadros humorísticos em torno do mundo do desporto. Uma crítica aos meandros da corrupção no futebol onde não falta um guarda-redes anão. Ainda do mesmo ano, pela Repórter X Film, filmado na antiga Invicta, Reinaldo Ferreira roda HIPNOTISMO AO DOMICÍLIO, uma série de peripécias sonâmbulas e sobrenaturais, inspiradas pelas farsas americanas. Infelizmente, destes dois últimos títulos não existe nenhum registo de filme que tenha chegado aos nossos dias.
Reinaldo Ferreira ainda realiza o documentário ENTREVISTAS CINEMATOGRÁFICAS COM ESCRITORES E JORNALISTAS DE LISBOA, uma rara oportunidade de ver na tela homens como Norberto de Araújo, Rocha Martins ou Norberto Lopes.
(REPORTER X - Cartaz do filme)
Nos anos 80, José Nascimento realizou REPORTER X, uma homenagem a Reinaldo Ferreira, que nos tenta situar no ambiente do imaginário modernista em que ele viveu. É um filme interessante com actores como Joaquim de Almeida no papel principal, e participações de Fernando Heitor, Anamar, Suzana Borges, Isabel Branco e Edgar Caramelo. Na sequência da abertura social e cultural provocada pela revolução republicana, o ambiente de Reinaldo Ferreira, a obra e o espírito do tempo acabam por se resumir num mesmo tema, o da coabitação do imaginário com a realidade, do fantástico com o quotidiano.
Artur
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