Aqui fica o primeiro conto:
Estátuas de Sal
Na orla do Mar, os pescadores esperam à porta das casas. O que esperam os pescadores?
O problema é, como sempre, a ausência de dinheiro. Nas Casas não há técnicos.
Pormenores:
Algumas armações foram recuperadas para comercializar peixe à custa de um forte investimento, mas há mais de uma década que se encontram abandonadas. Não há combustível e o cão está intoxicado pela inalação das lágrimas. O interesse no mercado não é aumentar a facturação, antes pelo contrário, estagnou, cai a pique, inquinado, mais podre que o peixe podre, deixado abandonado ao Sol, para os ratos se, mesmo eles, se dignassem a comê-lo. Na Rota 33 há algumas pessoas a morrer à fome e por falta de higiene. O salitre come-lhes as carnes. Foi-lhes aos ossos. Nas Casas faltam técnicos e, como a previsão é de aguaceiros, há problemas de segurança. Todos os dias faltam os salários. A pobreza é extrema.
Em Albufeira, vinte crianças perderam a viagem para o Interior. Inventam novos frutos-tóxicos, com o tempo que lhes sobra, com a falta de transporte, de ocupação e de oportunidades. O que farão com a profusão de frutos-tóxicos que se amontoam à porta de casa? O cão, já há muito, pereceu, envenenado de lágrimas, de fruta-tóxica, cansado da espera dos pescadores, que permanecem imóveis, ainda, à porta das suas portas, estátuas de sal, tisnados, inertes, pacientes, furtivos. Que esperam, passado tanto tempo, rodeados dos pomos mortais, radioactivos, fitados pelos olhos cegos do cão morto que jaz, ainda fiel, a seus pés?
Podem ler os restantes contos em (https://triplov.com/devaneios-do-fim-destio/).