quarta-feira, 27 de novembro de 2019
terça-feira, 26 de novembro de 2019
segunda-feira, 25 de novembro de 2019
sexta-feira, 22 de novembro de 2019
CARTA A UM AMIGO EM VIAGEM
Hoje dei conta que era o dia do
teu aniversário e lembrei-me de ti. Verdade seja dita, não passa uma semana em
que não o faça. mas não te vou telefonar porque sei que não atendes nem te vou
bater à porta porque sei que não estás em casa. Estás num lugar qualquer em
paradeiro indeterminado. Ás vezes vejo-te como alguém que morreu há muitos
anos, outras como um tipo que estando vivo não anda por aqui. Vou sabendo
vagamente de ti por pessoas do bairro que às vezes se cruzam contigo na rua. Mas
hoje, talvez porque é o teu dia de anos, apetece-me falar contigo, recordar
algumas coisas, nem que toda a nossa conversa não passe de um monólogo.
Queria-te dizer que há tempos
falei com alguém que me desenhou em forma de alegoria o teu estado de saúde.
Uma forma simples e bastante convincente que me deixou definitivamente
esclarecido. Dizia-me então essa pessoa: "Imagine que ele tomou um ácido e
entrou numa viagem da qual se recusa a voltar. Nesse estado ele é como um
comboio que em vez de numa, progride em várias linhas ao mesmo tempo. Tendo
consciência da realidade tem também noção de uma série de realidades paralelas
à nossa." E tudo passou a ser (ainda) mais claro para mim.
Eras um tipo genial, o mais
inteligente de nós todos, não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Demasiado grande
para a vidinha de todos os dias, demasiada inteligência e demasiada lucidez
para um homem só. Escreveste coisas completamente fora da caixa, coisas que nos
deixavam perplexos ao primeiro contacto sem saber o que dizer ou pensar, coisas
que se tornariam realidade décadas depois. Juntos escrevemos um policial
esotérico a meias que ainda hoje me consegue surpreender. A meias, é como quem
diz…tu deste-me o desenho completo e eu pintei à volta. Com a aproximação de
mais um Natal lembro-me que a tua primeira narrativa foi uma peça de teatro em
torno da parábola do"filho pródigo" para a festa anual da igreja. Eu
era um dos actores. No fim o drama terminava em reencontro e reconciliação e
saltava directo para um quadro do Presépio utilizando os actores da peça como
figurantes. No primeiro dia para as idosas do centro de dia, no segundo para os
miúdos da catequese. No dia dos miúdos houve um na primeira fila que mandou uma
boca ao Pentes que fazia um dos reis magos. "Olha um rei mago todo
"joli" com uma risquinha ao meio…" Ao que o Pentes respondeu
entre dentes: "Vê lá se queres levar com o incenso nos cornos?" Um
bando de miúdos a representar para uma multidão de miúdos ainda mais pequenos
que nós. Às vezes gostava de voltar àquele tempo nem que fosse por dois dias.
Gostava de voltar às nossas gargalhadas, às nossas festas de fim de semana, a
fumar umas ganzas, a me apaixonar para a vida toda e, sobretudo a voltar a ver
uma data deles que tiveram que sair mais cedo. Tenho saudades. A vida
transcendeu-nos, a morte transcende-nos. Só as memórias e as emoções conseguem
transcender tudo o resto.
Mas eu acho que não é preciso
viajar no tempo para voltarmos a ser miúdos. Acho mesmo que nas várias linhas
que o teu comboio percorre, há uma estação. Uma estação onde estamos todos a
sacar os cabos e a aparelhagem da loja de antiguidades do Batista e a montar o
estaminé para mais uma festa. Nessa estação, onde tu de certeza já paraste
algumas vezes, deves saber que estamos à tua espera, que sentimos a tua falta e
que sempre fomos teus amigos. Eu sei que tu não te esqueceste disso. Tal como
os Pink Floyd nunca se esqueceram do Syd Barrett em cada album que editavam.
Por isso peço-te que de vez em quando faças uma passagem nessa estação e fiques
lá por um bocado.
Não te telefono porque sei que tu
não vais atender, não te vou bater à porta porque sei que não estás em casa. É
tudo uma questão de oportunidade. A possibilidade de estar na mesma estação ao
mesmo tempo que tu. E encontrarmo-nos outra vez… E começar a conversa como se a
tivéssemos deixado pendurada no varal na noite anterior. E voltar a rir desta
peça tão mal escrita em que fomos personagens à força. Esta peça onde tu de vez
em quando te escapas para as traseiras do teatro para fumar uma ganza e
imaginar outros mundos muito mais interessantes, aventuras muito mais
divertidas e cenários muito mais atractivos que os teus contemporâneos só vão
conseguir ver daqui a umas décadas.
Parabéns xaval
Artur
quarta-feira, 20 de novembro de 2019
terça-feira, 19 de novembro de 2019
O TEMPO
Sofia
"O Tempo não sabe nada, o Tempo não tem razão...
O Tempo nunca existiu, o Tempo é nossa invenção...
Se fecharmos os olhos não nos sentimos sós,
Meu amor, o Tempo somos nós..."
Jorge Palma
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