quinta-feira, 26 de maio de 2016

IRON MAIDEN 2016



Dia 11 de Julho será a data em que a mítica banda de 40 anos de existência se volta a encontrar com o publico português. Uma relação já longa que começou a 31 de Agosto de 1984 no Pavilhão Infante de Sagres no Porto. Depois disso os Iron Maiden tocaram seis vezes em Cascais, cinco em Lisboa, duas no Algarve e uma em Vilar de Mouros. Uma relação de admiração e carinho mútuo que levou Steve Harris a adquirir um bar, rapidamente tornado ponto de peregrinação (“Eddie’s Bar”), próximo de Faro.


APRESENTAÇÃO

A longevidade deste fenómeno musical que arrasta multidões de todas as idades e esgota concertos em qualquer parte do mundo deve-se em parte a uma vitalidade criativa (novos trabalhos originais com intervalos de dois, no máximo três anos) associada a uma originalidade e postura invulgares no mundo do Rock n’ Roll. Longe de uma aceitação consensual nos meios tradicionais da divulgação (MTV’s e afins), os Iron Maiden subiram a pulso na sua carreira construindo a sua fama em espectaculares actuações ao vivo e no apoio dos fãs que lhes renderam milhões em vendas um pouco por todo o mundo.
Inaugurando a era do British New Wave of Heavy Metal ao lado de nomes como Def Leppard, Motorhead e Judas Priest, o resultado foi uma poderosa e influente combinação de heavy metal com uma atitude punk numa deslumbrante diversidade rítmica. Sem os Iron Maiden não haveria trash nem speed nem death nem hardcore metal nem uma série de palavrões que se poderiam escrever agora para enaltecer a pobreza e o deserto musical que a sua herança preencheu.
A originalidade dos Iron Maiden (IM) apresenta-se-nos de uma forma quase absoluta na medida em que pode ser lida quer ao nível da composição musical quer ao nível das letras. Assim, ao não alinharem com o padrão habitual de canções de 3 minutos (2 coros, 1guitarra solo, coro final) escreviam temas longos e complexos como por exemplo “The Rime of The Ancient Mariner”, 13:45 min. de Rock Progressivo. Por outro lado, em alternativa aos temas do costume no mundo do Rock (Sexo, drogas, etc.) a temática da banda é constantemente influenciada por outras artes como a Literatura, o Cinema, e géneros como a Ficção Científica ou o Folclore. Outra originalidade prende-se com a imagem limpa de drogas que a banda faz questão de transmitir ao longo dos anos.





ICONOGRAFIA/ REFERÊNCIAS/ATITUDE

O “livro” dos IM é como um depósito de memórias do nosso “Inconsciente Colectivo” vestido com as roupagens e os rituais do Heavy Metal. Nada é gratuito nem muito menos acidental. Influências quer literárias quer de referência histórica consistem no ponto de partida para a apresentação da sua arte.
No capítulo literário vamos encontrar temas como “Brave New World” (Aldous Huxley); “Rime of The Ancient Mariner” (baseado num poema com o mesmo título de Samuel Taylor Coleridge, onde a mensagem principal, de acordo com a versão da banda é: “Devemos amar todas as coisas que Deus criou.”); “Seventh Son” (Orson Scott Card); “Lord of The Flies” (William Golding); “Murder in The Rue Morgue” (Edgar Allan Poe); “To Tame a Land” ( Frank Herbert).
Em termos de referências históricas, elas são abundantes ao longo da obra dos IM. Comecemos pelo Antigo Egipto, “Powerslave” é acerca de um Faraó que, por se considerar a si próprio um deus não consegue viver bem com a ideia da morte. Define-se como um slave to the power of death; Guerra da Crimeia – “The Trooper”, baseada numa batalha durante a Guerra da Crimeia entre Britânicos e Russos. Há quem garanta que se baseou no poema “Charge of The Light Brigade”, onde são descritos os horrores da guerra enquanto uma carga de cavalaria britânica se precipita para a morte certa; “Run to The Hills”, inspirado na chegada dos europeus ao continente americano e a reacção dos índios; “Paschendale” – a batalha de Paschendale ou, em português, a terceira batalha de Ypres na I Guerra Mundial; “The Longest Day”, o dia D, o desembarque na Normandia, II Guerra Mundial; “Two Minutes To Midnight”, The Doomsday Clock, a Guerra Fria na ordem do dia numa altura em que o planeta esteve à beira da catástrofe nuclear.

OS ACTORES

Dadas as constantes mudanças que o elenco da banda foi sofrendo ao longo dos anos, é de referir aqui dois nomes importantes na vida da banda. Steve Harris porque é o único elemento original e Bruce Dickinson por ser uma grande parte da imagem da banda nos últimos anos.
Steve Harris, que em adolescente jogou futebol no West Ham, aprendeu a tocar baixo sozinho acabando por desenvolver um estilo único. O seu baixo “galopante” é uma imagem de marca da banda. Escreve e é co-autor da maior parte dos temas
Bruce Dickinson, o homem dos sete instrumentos possui uma energia inesgotável. Praticante de esgrima, chegou a ser 7º no ranking do Reino Unido, piloto de aviação comercial e a voz dos IM. Uma voz original de estilo semi-operático que lhe permite atacar os temas mais irregulares com uma delicadeza e um estilo únicos. Se Bruce é a cara da banda, Steve é o cerébro numa combinação perfeita até à data.



CONCLUSÃO

Fomos vendo aqui muitas das razões que tornam os Iron Maiden um fenómeno não só de Rock metálico como um retrato icónico da espécie humana contado através da sua fantasia criativa. A agressividade, a imagem violenta ou as diversas narrativas de horror e destruição mais não são do que um reflexo da realidade, um testemunho da História, uma fotografia da natureza humana. De acordo com muitos dos fãs, após um espectáculo dos IM há uma sensação de alívio e tranquilidade quando se volta para casa. Como se a violência, a agressividade e todo o género de energia negativa se tivesse libertado durante o concerto. Um curioso ponto de vista a reforçar a experiência inesquecível que é assistir ao vivo a um concerto desta banda.


Artur 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A MÃE DE ELISA



A minha mãe já chegou? Então esteja com atenção porque ela vem – me buscar. Sei porque me disse e quando diz, faz. Tal como quando fizemos a peça de  Natal e ela teve o acidente de carro, apareceu quase à hora do jantar mas apareceu.

Eu sou a Elisa e fiz a chuva

Já a escola se vestia de trajes de noite, uma roupagem que eu desconhecia, o pátio vazio e azul de noite, sem meninos, as portas fechadas, os pais e os professores a saírem uns a seguir aos outros.
Mas eu não tive medo. Sabia que ela vinha… a minha mãe. Porque se ela disse que vinha, não falhava. A minha mãe não promete à toa e sabe perfeitamente que se me prometesse alguma coisa que depois não conseguisse fazer eu iria ficar muito triste

Eu sou a Elisa e fiz a chuva

E apareceu triste com um enorme penso do lado direito da testa, e chorou por não ter visto a peça de teatro da escola em que eu fazia de chuva, e chorámos mas ficámos felizes logo a seguir porque estávamos ali as duas e o pátio deserto de meninos não nos metia medo nenhum

A minha mãe vem me buscar porque disse que vinha. Pouco me importa que me digam que tenho oitenta e três anos e que moro neste lugar e com estas pessoas que tenho dificuldade em reconhecer todas as manhãs

A minha mãe já chegou? Então esteja com atenção quando ela vier e vá logo chamar-me
Ela chega sempre mesmo que venha atrasada. Quando acabei a Faculdade (não me lembro que curso era mas lembro-me da cara de alegria dela), quando tive os filhos, quando fiquei viúva…a minha mãe chegava sempre embalada pelo sorriso, pronta para me abraçar. Mesmo quando não quero comer as mistelas que vocês me dão, mesmo fechando a boca ou cuspindo tudo para o chão, tenho a certeza que se a fossem chamar nada disto aconteceria.

Porque ela tinha sempre um truque novo debaixo da manga que me fazia ficar tranquila, uma frase que me acalmava (não estas porcarias às cores que me fazem engolir ao lanche), uma paciência sábia que me explicava que nada era o fim do mundo mesmo quando tudo parecia perdido.
Nada era uma catástrofe ou um problema qualquer que não tivesse solução 

A minha mãe deve estar quase a chegar, tenho a certeza. Disse que vinha pouco antes de já não me conseguir levantar da cama. Acenou devagar e sorriu. E por isso quando vier não quero perder tempo. Quero-me levantar daqui de uma vez, dar-lhe a  mão e sair para a rua como duas nuvens de chuva que se deixam orientar pelo vento a caminho de casa.

Por isso não tenho medo

Eu sei que ela vem...


Artur