Dia 11 de Julho será a data em
que a mítica banda de 40 anos de existência se volta a encontrar com o publico
português. Uma relação já longa que começou a 31 de Agosto de 1984 no Pavilhão
Infante de Sagres no Porto. Depois disso os Iron Maiden tocaram seis vezes em
Cascais, cinco em Lisboa, duas no Algarve e uma em Vilar de Mouros. Uma relação
de admiração e carinho mútuo que levou Steve Harris a adquirir um bar,
rapidamente tornado ponto de peregrinação (“Eddie’s Bar”), próximo de Faro.
APRESENTAÇÃO
A longevidade deste fenómeno
musical que arrasta multidões de todas as idades e esgota concertos em qualquer
parte do mundo deve-se em parte a uma vitalidade criativa (novos trabalhos
originais com intervalos de dois, no máximo três anos) associada a uma
originalidade e postura invulgares no mundo do Rock n’ Roll. Longe de uma
aceitação consensual nos meios tradicionais da divulgação (MTV’s e afins), os
Iron Maiden subiram a pulso na sua carreira construindo a sua fama em espectaculares
actuações ao vivo e no apoio dos fãs que lhes renderam milhões em vendas um
pouco por todo o mundo.
Inaugurando a era do British New Wave of Heavy Metal ao lado
de nomes como Def Leppard, Motorhead e Judas Priest, o resultado foi uma
poderosa e influente combinação de heavy
metal com uma atitude punk numa
deslumbrante diversidade rítmica. Sem os Iron Maiden não haveria trash nem speed nem death nem hardcore metal nem uma série de
palavrões que se poderiam escrever agora para enaltecer a pobreza e o deserto
musical que a sua herança preencheu.
A originalidade dos Iron Maiden
(IM) apresenta-se-nos de uma forma quase absoluta na medida em que pode ser
lida quer ao nível da composição musical quer ao nível das letras. Assim, ao
não alinharem com o padrão habitual de canções de 3 minutos (2 coros, 1guitarra
solo, coro final) escreviam temas longos e complexos como por exemplo “The Rime
of The Ancient Mariner”, 13:45 min. de Rock Progressivo. Por outro lado, em
alternativa aos temas do costume no mundo do Rock (Sexo, drogas, etc.) a
temática da banda é constantemente influenciada por outras artes como a
Literatura, o Cinema, e géneros como a Ficção Científica ou o Folclore. Outra
originalidade prende-se com a imagem limpa de drogas que a banda faz questão de
transmitir ao longo dos anos.
ICONOGRAFIA/ REFERÊNCIAS/ATITUDE
O “livro” dos IM é como um
depósito de memórias do nosso “Inconsciente Colectivo” vestido com as roupagens
e os rituais do Heavy Metal. Nada é gratuito nem muito menos acidental. Influências
quer literárias quer de referência histórica consistem no ponto de partida para
a apresentação da sua arte.
No capítulo literário vamos
encontrar temas como “Brave New World” (Aldous Huxley); “Rime of The Ancient
Mariner” (baseado num poema com o mesmo título de Samuel Taylor Coleridge, onde
a mensagem principal, de acordo com a versão da banda é: “Devemos amar todas as
coisas que Deus criou.”); “Seventh Son” (Orson Scott Card); “Lord of The Flies”
(William Golding); “Murder in The Rue Morgue” (Edgar Allan Poe); “To Tame a
Land” ( Frank Herbert).
Em termos de referências
históricas, elas são abundantes ao longo da obra dos IM. Comecemos pelo Antigo
Egipto, “Powerslave” é acerca de um Faraó que, por se considerar a si próprio
um deus não consegue viver bem com a ideia da morte. Define-se como um slave to the power of death; Guerra da
Crimeia – “The Trooper”, baseada numa batalha durante a Guerra da Crimeia entre
Britânicos e Russos. Há quem garanta que se baseou no poema “Charge of The
Light Brigade”, onde são descritos os horrores da guerra enquanto uma carga de
cavalaria britânica se precipita para a morte certa; “Run to The Hills”,
inspirado na chegada dos europeus ao continente americano e a reacção dos
índios; “Paschendale” – a batalha de Paschendale ou, em português, a terceira
batalha de Ypres na I Guerra Mundial; “The Longest Day”, o dia D, o desembarque
na Normandia, II Guerra Mundial; “Two Minutes To Midnight”, The Doomsday Clock,
a Guerra Fria na ordem do dia numa altura em que o planeta esteve à beira da
catástrofe nuclear.
OS ACTORES
Dadas as constantes mudanças que
o elenco da banda foi sofrendo ao longo dos anos, é de referir aqui dois nomes
importantes na vida da banda. Steve Harris porque é o único elemento original e
Bruce Dickinson por ser uma grande parte da imagem da banda nos últimos anos.
Steve Harris, que em adolescente
jogou futebol no West Ham, aprendeu a tocar baixo sozinho acabando por
desenvolver um estilo único. O seu baixo “galopante” é uma imagem de marca da
banda. Escreve e é co-autor da maior parte dos temas
Bruce Dickinson, o homem dos sete
instrumentos possui uma energia inesgotável. Praticante de esgrima, chegou a
ser 7º no ranking do Reino Unido, piloto de aviação comercial e a voz dos IM.
Uma voz original de estilo semi-operático que lhe permite atacar os temas mais
irregulares com uma delicadeza e um estilo únicos. Se Bruce é a cara da banda,
Steve é o cerébro numa combinação perfeita até à data.
CONCLUSÃO
Fomos vendo aqui muitas das
razões que tornam os Iron Maiden um fenómeno não só de Rock metálico como um
retrato icónico da espécie humana contado através da sua fantasia criativa. A
agressividade, a imagem violenta ou as diversas narrativas de horror e
destruição mais não são do que um reflexo da realidade, um testemunho da
História, uma fotografia da natureza humana. De acordo com muitos dos fãs, após
um espectáculo dos IM há uma sensação de alívio e tranquilidade quando se volta
para casa. Como se a violência, a agressividade e todo o género de energia
negativa se tivesse libertado durante o concerto. Um curioso ponto de vista a
reforçar a experiência inesquecível que é assistir ao vivo a um concerto desta
banda.
Artur