terça-feira, 29 de junho de 2010

Links

Já está. Ampliei um pouco a lista dos blogues; e juntei, ainda, três secções: uma com sites de interesse geral, outra com ferramentas da língua e por fim uma pequeníssima de freeware (o que é sempre útil). Espero que gostem e, claro, estamos abertos a sugestões.

Já agora, aproveito para convidar os meus colegas partistas e todos os leitores deste blogue para o lançamento do meu novo livro no próximo domingo dia 4 pelas 16:00 no braço de prata. Fica aqui a ideia de com este lançamento se dar novo alento às tertúlias das Partes do Todo.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

GLORY


GLORY

Edward Zwick

EUA, 1989


Sendo de uma simplicidade narrativa evidente, GLORY é um filme de múltiplas leituras, uma estrutura composta por vários níveis de entendimento ao atravessar a breve história de um grupo de homens durante a Guerra Civil Americana (1861-1865). Sendo uma lenda épica de sacrifício e coragem que escreveu uma das mais exaltantes páginas daquele período histórico, é ao mesmo tempo um testemunho de eternidade, considerando a luta dos homens pela sua liberdade e dignidade uma batalha de todos os dias.
Baseado na correspondência do Coronel Robert Gould Shaw (Mathew Broderick), o filme mostra-nos como foi formado o primeiro agrupamento do exército regular composto exclusivamente por soldados americanos de ascendência africana (afro-americanos). Shaw, oriundo de uma família abolicionista de Boston, propõe a formação do 54º Regimento de Voluntários de Infantaria do Massachussetts, sendo o seu primeiro comandante. Rapidamente o nº de voluntários vai aumentando à medida que enfrenta uma série de obstáculos. Primeiro é preciso formar, disciplinar e preparar para o combate, transformando um bando de homens com boa vontade mas pouco desembaraçados numa força de guerra. Ultrapassada a primeira etapa, Shaw vai ter de combater uma série de preconceitos, tanto do lado inimigo (que tem ordens para abater os oficiais comandantes de negros) como do seu próprio lado (relutante em os deixar combater, falhando na atribuição do equipamento, em suma, discriminando). Ao 54º chegam homens como Thomas Searles (André Brougher), um negro rico e educado do Norte, companheiro de escola de Shaw e Trip (Denzel Washington), um escravo foragido. O conflito “Classe & Cultura” emerge naturalmente entre eles os dois, afastando a questão da cor da pele para bem longe.
Finalmente o 54º consegue o seu lugar no cenário de guerra, acabando por se impor como força importante da manobra do Exército da União. Numa missão final, o coronel Shaw oferece-se para uma operação praticamente suicida, a do assalto a Fort Wagner, uma fortificação extremamente bem entrincheirada entre o mar e a terra. Ao amanhecer o 54º avança pela praia massacrado pelas explosões dos canhões inimigos. Mesmo na frente, o coronel Shaw é atingido mortalmente. O Regimento hesita, fica perdido por instantes. É então que Trip agarra a bandeira do coronel e arranca e direcção ao forte, gesto que incendeia de novo a moral dos seus camaradas de armas. Na cena seguinte vemos a bandeira da União a ser içada no Forte, sinal de que o esforço dos homens do54º não terá sido em vão. Na vala comum são enterrados os mortos daquele dia. Por um acaso do destino, os corpos de Shaw e de Trip acabam por cair e ficar juntos.
O 54ª ficará na história enquanto símbolo de um povo que lutou por si próprio, pela sua liberdade e que não deixou essa tarefa para mãos alheias (os afro-americanos). Resgatando a Liberdade, conquistaram a dignidade, a força de se chamarem entre si cidadãos, parte integrante do mundo onde viviam. Sendo o primeiro regimento totalmente composto por negros no exército regular americano, a saga discriminatória dos negros nas fileiras não terminou aqui. Trinta e sete anos depois do assalto a Fort Wagner, o sargento William Carney foi o primeiro negro a receber a medalha do Congresso pela sua participação nessa etapa decisiva da guerra. As unidades mistas (negros e brancos) só começaram a ser uma realidade a partir da guerra da Coreia nos anos 50, quase cem anos depois.
(Memorial a Robert G. Shaw em Boston)
Para a história ficou a memória da visão e dos ideais de Robert Shaw, eternizados num baixo relevo em Boston Commons, o parque mais antigo da cidade de Boston, na esquina entre as ruas Beacon e Park, do outro lado da estrada do palácio e sede do Governo da Commonwealth of Massachussetts.
No ano em que se estreou, o filme recebeu 3 oscares da Academia de Hollywood (Melhor Actor Secundário, Melhor Cinematografia e Melhor mistura de Som) em cinco nomeações (Direcção artística e Montagem ficaram pelo caminho).
Um filme de guerra onde os caminhos dos homens se vão encontrar num lugar onde as suas existências se transcendem numa causa comum. Um sacrifício que devolve significado à vida comum. A certeza que os mais altos ideias são aqueles que dizem respeito a todos os homens, à sua dignidade, à sua Liberdade.

Artur

quarta-feira, 23 de junho de 2010

PARAGENS E PAUSAS

Há aquela estação de serviço a Norte de Lisboa em que eu gosto de fazer uma paragem, especialmente nos fins de tarde no Verão. A sua localização elevada, o castanho alaranjado do ar e a ausência de rasto humano num raio enorme em redor dá a sensação estarmos no deserto, ou num ponto intermédio da galáxia, entre dois planetas distantes. Entro na cafetaria depois de abastecer o carro. Tento lembrar-me da marca de combustíveis que a explora mas a paciência faz-me uma careta desincentivadora. “Não te metas nisso. Tens mais que fazer. Amanhã as contingências do mercado fazem-na mudar de mãos e tudo o que escrevesses sobre este local acaba por estar mal a partir daí. Era uma bomba trolaró, passou a ser biribi. E depois lá vinha um fundamentalista corrigir e dizer que não era assim. Vá, concentra-te no que é importante!” Ás vezes a paciência estica-se em conselhos, fica tempos e tempos a falar sozinha, porque sabe que a costumo ouvir, isto é, consigo acompanhar as duas primeiras frases dela que são as mais importantes. Depois é como a voz de uma mulher de manhã a distribuir tarefas e movimentos, a dispersar opiniões e a fazer perguntas, tudo no mesmo minuto. O botão de desligar sorri e o som fica vago. Se acompanharmos com um sorriso mediano, tudo corre bem até à saída estratégica para o duche, a barba, etc.
Mas daqui desta estação no meio do deserto consigo ver ao longe os prédios de S. António dos Cavaleiros a esticarem-se no declive dos ombros de um camionista. Já lá morei. Quanto tempo foi? 2, 3 anos? Não me lembro nem me interessa. Interessa-me recordar um regresso de férias com o meu filho mais velho no banco de trás do carro. Ao fim de várias horas de caminho e com a imagem de casa já no horizonte, fomos obrigados a parar ali. Tinha fome. E ali estivemos a ver aquele deslumbrante fim de tarde que coincidia com o fim das férias. Lembras-te Tiago? Provavelmente não. Eras muito pequeno. Agora caminhas seguro com uma barba de três dias, bebes café e cerveja e compras o Diário Económico. Mas eu nunca me vou esquecer. Aqueles instantes mágicos a fumar um cigarro de calções nos bancos da esplanada, tu agarrado a uma sandes de queijo e o mundo suspenso naquele quadro em que éramos só nós os dois.
E volto ao caderno e ao filme. É sempre a segunda cena, ou a terceira as que me dão mais dificuldades. Como numa canção. A entrada forte e atractiva, o segundo verso mais leve, um bocadinho de refrão e a terceira. Chata, massacrante, aquela que não pode falhar e por isso mesmo tem de ser bem imaginada, sair com boa apresentação. Uma prancha de surf que nos cumprimentou nas janelas sem cair na estrada, uma prancha descaída que se soltou do tejadilho. O pânico de três adolescentes, a figura de ursos a entrar na estação de serviço ante a galhofa de camionistas e famílias em geral. O fim do susto brindado com uma gargalhada colectiva. A senhora da caixa para nós: “Vocês trabalham em cinema? Isso parece uma coisa de duplos.”
A terceira cena, é preciso concentração para a terceira cena. Jurei que não passava desta semana. O homem a convalescer depois do acidente, apático, desligado. A mãe vai buscá-lo ao hospital. Ou a cunhada e a sobrinha. Ou a cunhada e a sobrinha têm um diálogo mais azedo de mãe/adolescente acerca da hospitalização do tio. É melhor esta.
Há quanto tempo é que estará aqui esta estação de serviço. Na tropa lembro-me que já existia. Parava aqui para beber um café antes de voltar ao Domingo à noite. Demorou a chegar porque era de noite, era um tempo que quis esquecer. Mas a noite no deserto também é encantadora. Como os teus cabelos no reflexo do luar. O deserto é sempre o melhor lugar para nos encontrarmos. Porra, a terceira cena. Vamos lá. Pensa.
O gajo sobrevive a um acidente. Aparece a cunhada e a sobrinha a falar nisso. A seguir o gajo já em casa com a mãe narcisista a falar dela e da vida dela, a distribuir tarefas e movimentos, a estabelecer horários da medicação, a espalhar perguntas e respostas. O homem desliga. Levanta-se do sofá e atravessa a sala lentamente apoiado numa bengala. Agarra nas chaves do carro e pira-se. Enquanto espera pelo elevador tem ainda tempo de ouvir a mãe perguntar: “ Mas onde é que tu vais agora?” O elevador chega e abre a porta. Entra e deixa-a voltar a fechar-se. Fala baixinho porque as dores apertam quando grita: “Vou descansar numa estação de serviço a Norte da cidade, no meio do deserto.”

Artur

sábado, 19 de junho de 2010

LAPSOS

Andava eu para aqui todo contente a mexer nas partes do blog quando , por lapso (leia-se, "azelhice") apaguei sem querer a lista dos links dos outros blogs. Pelo facto peço aos leitores de AS PARTES DO TODO que me perdoem e que tenham paciência. A "emissão" voltará assim que possível. ..... Oh João: dá-me aqui uma ajudinha se fazes favor!

Artur

sexta-feira, 18 de junho de 2010

JOSÉ SARAMAGO



1922 - 2010


Para a História ficará como uma das duas únicas vezes em que o nome de Portugal se inscreveu na lista dos Prémios Nobel, motor indiscutível de arranque e divulgação planetária de toda a sua produção literária. Para a nossa herança colectiva ficará um rasto de genialidade criativa, de imaginação admirável, bem como uma quantidade enorme de polémicas, exageros e contradições.
Do autor gostaria de destacar uma série de qualidades que o resto do mundo confirmou, contrariando a tendência neurótica e depressiva de um país lembrado apenas pelas piores razões, um povo mencionado pelos motivos mais negativos. Depois do Nobel, Portugal voltou a estar na agenda do mundo, desta vez por boas razões. Para trás ficou a fuga para Espanha na sequência da maneira pouco elegante como foi tratado pelos seus compatriotas. Não conseguiu escapar aos devaneios da vingança, não enjeitando a sua “marcha triunfante” do regresso a Portugal após a atribuição do Nobel. Não abandonou nunca as suas convicções ideológicas nem o seu partido apesar de mais de uma vez se ter visto em desacordo com as orientações oficiais. Não hesitou em erguer o “chicote” no breve período da revolução, perseguindo e saneando os (no seu entender) adeptos e perseguidores do tempo derrubado. Fez questão de negar Deus e a divindade, embora não hesitasse em O contratar para várias produções suas. Elogiou a ignorância ao querer relevar a sabedoria do seu avô analfabeto.
O facto de hoje todos e cada um lhe entoarem hinos de louvor e admiração quer apenas dizer que, apesar de nem sempre ter conseguido os mais altos níveis de elevação e dignidade, foi sempre fiel a si próprio, seguiu sempre o seu rumo.
Nos livros, deixou-nos um património considerável, erguido a pulso por um autodidacta que sempre acreditou na sua força. “Memorial do Convento”, “Levantado do Chão”, “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, “Jangada de Pedra” e “Ensaio Sobre a Cegueira”, entre outros, são momentos extraordinários de leitura em que o nosso tempo se enriquece e nunca será perdido. Dizia Saramago que : “ Uma vez encontrada a nossa voz, esse será o caminho que teremos de percorrer para sempre". E ele encontrou-a, para nunca mais a abandonar. Teve a sorte de ver reconhecida a sua qualidade em vida, teve a sorte de viver uma longa vida ao lado da companheira que já não esperava, teve a felicidade de escrever uma longa obra e de a ver crescer. O saldo entre Saramago e a sua existência fica pois, bastante equilibrado.

Artur

quinta-feira, 10 de junho de 2010

DELÍRIOS DE SÁBADO Á TARDE

Parafraseemos Almada, ou Pessoa a propósito de Almada, e voltemos a lembrar: “ O génio manifesta-se em não se manifestar”. Frase mais ambígua do que sonante, e no entanto de uma simplicidade avassaladora. “Não se manifestar” é o mesmo que dizer tudo sem que se perceba que foi tudo dito. Que foi encontrada a melhor forma, a mais simples, de fazer uma narrativa, e que essa forma é a mais difícil de inventar.
Literatura, José Cardoso Pires e a sua tendência natural para abrir cirurgicamente uma tradição de barrocos e rodriguinhos literários, tradições herméticas, adjectivações exaustivas e dispensáveis, e liquidificar as palavras num fio simples de espessura comprovada pelo tempo. E “Bum!”: “O Delfim”, “A Balada da Praia dos Cães” “Alexandra Alpha”…
Hemingway e os seus personagens. Jornalistas que se comportam como jornalistas, guerrilheiros que pensam como guerrilheiros, copos isolados de Gin que sabem a Gin e não sabem a mais nada. Uma entrada no mar, umas dezenas de braçadas e o cansaço. Só o cansaço e o bem-estar do exercício. E “Bum”: “Paris é Uma Festa”, “Fiesta”, “Por quem os Sinos Dobram”…eles dobram sempre por ti. E uma criança perdida entre lágrimas, suja da poeira dos bombardeamentos, e três republicanos cercados num alto de um monte que discutem se “A Passionaria” não mandou o filho estudar engenharia para Moscovo em vez de estar ali com eles, a levar porrada dos franquistas.
Usar a Literatura pelo que ela é, um simples momento de comunicação, um instante narrativo, e fixar essas ferramentas. Dominar a técnica de usar uma boa história auxiliado por uma boa forma de a contar. O génio que se “manifesta sem se manifestar”, precisamente por isso. Porque comunicou, narrou da forma mais simples uma história previamente seleccionada da memória humana.
“Tudo o que eu fiz foi sofrer com aquela pobre rapariga e depois, quando ela caiu de cabeça e quase se matou…lembras-te quando ela caiu de cabeça? Estava desfeita e tudo o mais. Era a mais bela miúda índia que já se viu. Estou a dizer índia, índia pura. Esperanza Villanueva. Villanueva é um nome espanhol de não sei onde – de Castela. Mas ela é índia. Ou seja, é metade índia, metade espanhola…linda. Ela tinha ossos, meu, apenas ossos, pele e osso. E eu não conto no livro como é que acabei por lhe deitar a mão. Sabes? Acabei mesmo. Finalmente deitei-lhe a mão. Ela disse: “Chiiiiiu! Não deixes que o senhor feudal nos oiça.” Ela disse: “Não te esqueças, eu estou muito fraca e doente.” Eu disse: “Eu sei, tenho estado a escrever um livro acerca de que como és fraca e doente.”(*)A realidade sem decoração, a alma nua, a descrição mínima da personagem máxima. O sofrimento sem maquilhagem. O discurso limpo, sem desvios, como uma estrada em linha recta. Trabalhos simples sempre ligados ao ser humano, porque é dele que se fala quando para ele se escreve. Escreve-se em solidão para se estar menos sozinho, para levar as palavras mais longe, a desconhecidos que falam de volta. Escreve-se de forma simples para chegar a mais pessoas, ao homem comum interessado numa história bem contada. Longe das Academias e de todos os antros de Egos e Poder. Trabalhar o Romance enquanto ideia de morte, com duração prevista, transformando a Vida num destino. E perceber que esse destino só poderá ser realizado pela confirmação do interesse da sociedade em que foi fabricado.
A eternidade e a marca do autor são só aspectos colaterais, anfetaminas que nos afastam de saltar de um andar alto. Tal como o destino do Romance, também o destino do autor termina na previsibilidade da duração da sua memória. Mas o Génio fica, apoiado no Estilo (No Altíssimo e Omnipresente ESTILO, elemento distintivo de todos os artistas), manifestando-se em não se manifestar.

Artur

(*)Jack Kerouac em entrevista à “Paris Review”, descrevendo uma prostituta toxicodependente por quem se apaixonou na Cidade do México e que lhe inspirou o romance “Tristessa”.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

CONVERSANDO COM OS DEUSES



JOÃO AGUIAR 1943 - 2010

Há autores que, nunca tendo tido o prazer de conhecer, falam connosco através das obras que deixaram, tornando-se uma espécie de amigos silenciosos com quem os diálogos se foram construindo entre memórias e fantasmas. João Aguiar é um deles. Talvez pelo estilo despojado com que nos apresentava as suas sugestões narrativas, talvez pela ternura com que desenhava os personagens, talvez pela elegância com que nos introduzia aos seus universos, o certo é que, para mim, tornou-se um amigo desde a primeira linha lida. Dos vários romances que li dele, o primeiro (A Voz dos Deuses) foi como uma conversa de que recordarei para sempre todos os pormenores. A história de Tongio, um companheiro de armas de Viriato que vai desenrolando as suas memórias, em poucas páginas conseguiu-me enquadrar num espaço/tempo longínquo, como se sempre lá tivesse vivido. Não é só a humanização do mito “Viriato”, que acaba por o tornar uma figura ainda mais extraordinária do que nos livros de história; não é só pelo rigor descritivo de todo um sistema social e político a dois mil anos de distância desenhado de forma extremamente credível; não é só pela origem misturada do personagem Tongio (filho de pai celta e mãe fenícia), sina de milhões de almas em territórios de passagem como a Península Ibérica. Essencialmente, o grande triunfo de A Voz dos Deuses está no conflito interior dos homens que se recusam a ver desaparecer o mundo que foi deles, que os viu nascer e foi criando, quando esse mundo se aproximava do fim. Perante uma nova ordem que se aproxima a passos largos, os homens resistem, combatem essa ideia, combatendo um futuro de submissão. E assim se realizam como homens…mesmo quando perdem… Os lusitanos resistiram enquanto puderam à tentativa de ocupação dos exércitos romanos. A sua resistência foi longa e dura apesar de vencida no fim. Mas a história dos lusitanos acaba por ser a história de todos nós. Sempre que decidimos tomar um rumo, encontrar um significado e defender uma posição estamos a empenhar a nossa existência. E, sabemos bem, no longínquo do nosso inconsciente, que todas as guerras da existência são guerras perdidas. Porque a morte acaba sempre por triunfar. E para o João Aguiar, triunfou hoje.
Para trás ficam as histórias, a imaginação, os livros arrumados em prateleiras como fotografias de familiares já desaparecidos. Conversas registadas que nos fizeram rir e chorar e amar cada vez mais este mistério das narrativas que faz conversar quem nunca se conheceu.
Ao olhar para a prateleira onde arrumo os livros do João Aguiar vou lembrar-me das memórias de um companheiro de armas do Viriato, dos bastidores militares e políticos da Roma Antiga, vou-me deleitar com a cena de um reformado e um rapaz em torno de uma geringonça que era suposto fazer tempestades, vou continuar a admirar e a seguir com interesse a história daquele homem que não tinha nome…
A partir de hoje, para o João Aguiar, as conversas continuam. Mas desta vez…os interlocutores são os deuses.
Obrigado João.

Artur