O acto eleitoral do último
Domingo que deu uma quase absoluta maioria a um partido de extrema esquerda na
Grécia acabou por abrir um vasto capítulo, um depósito de grandes dimensões
para um enorme painel analítico quanto ao que o futuro nos reserva. À partida
há razões para esperar qualquer coisa, qualquer coisa de diferente que rompa
com esta nuvem negra que nos atormenta e mata devagar nestes últimos anos.
Alexis Tsipras poderá enfraquecer o seu empenho e adequar a sua politica mas os
cidadãos não. Precisamente porque a sua eleição significou o corte com esta política
de austeridade cega de empobrecimento e genocídio dos cidadãos, o corte com
este tempo em que vale tudo para acalmar a voragem especulativa dos mercados,
nem que seja a eliminação das pessoas, nem que seja a perda da soberania dos
estados para mãos anónimas sem rosto. Com o Syrisa a alcançar atitudes mais
moderadas como a de fazer tensões de continuar no Euro e com a Europa a prever
perder mais com a saída da Grécia do que em a manter no seu seio tudo se
encaminha para um entendimento, para um encontro a meio do caminho. O que a
Europa vai ter que perceber é que os seus cidadãos começam a exigir mudança de
rumo, estão fartos da forma tradicional como tudo tem sido gerido, exigem o seu
direito à vida. Não foi por acaso que os partidos tradicionais sofreram pesadas
derrotas. O chamado “arco da governação” começa a tremer na medida em que vê a
aproximação do seu fim. Não foram os radicais que ganharam no Domingo na
Grécia, mas antes aqueles que perderam. Quem? Os Democratas e os Socialistas
que, afastando-se sucessivamente das suas raízes ideológicas acabaram por
rasgar o contrato social traindo o seu eleitorado tradicional; Sociais
Democratas e Socialistas que tudo cederam e todos os caprichos satisfizeram à
voragem das grandes corporações, dos grandes bancos, dos grandes interesses
capitalistas sob a capa da corrupção; Sociais Democratas e Socialistas que se
encarregaram de aniquilar a classe média, desvalorizar o “trabalho” em nome do
“capital”, vender as soberanias nacionais
a interesses especulativos sem rosto; Sociais Democratas e Socialistas
que não souberam ou não quiseram combater a corrupção, os contratos de grande
prejuízo para o Estado, os “off shores”, que destruíram em poucos anos toda uma
sociedade de serviços públicos da Saúde à Educação; Sociais Democratas e
Socialistas que hoje conservam apenas o nome de referência mas que se tornaram
forças radicais nesta alucinação colectiva que acalma os mercados e elimina os
cidadãos. E são eles que vão começando a sair da cena política europeia.
A vitória do Sysrisa na Grécia
não é garantia de nenhum sucesso nem muito menos o anúncio de um processo
revolucionário, de uma ruptura radical com o sistema. Em primeiro lugar é um
sinal de que as coisas não podem continuar como estão, vão forçosamente ter que
mudar. Estes negros tempos, esta crise em que os responsáveis são ao mesmo
tempo os que mais lucraram com ela, o genocídio generalizado das pessoas em
troca da calma dos mercados, este ambiente perfeitamente alucinado vai ter que
parar. Foi isso que os gregos disseram e será porventura isso que os cidadãos
europeus continuarão a dizer ao longo deste ano.
Não conseguindo ainda adivinhar o
futuro, a única certeza que temos é que qualquer coisa acontecerá. Qualquer
coisa que não será a repetição destes últimos e tão irracionais tempos. E isso
já é qualquer coisa.
Artur
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