segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

OS GREGOS NÃO SÃO TROIANOS

1. Os nojentos de serviço cá no burgo fartaram-se de dizer que "Portugal não é a Grécia", com as suas vozinhas tremelicantes e efeminadas e bastante bater de pálpebras. Julgavam-se lobos, quando não passam de cãezinhos amestrados, ladrando e latindo à voz do dono. Neste caso, da dona. De facto, a merkel - uma espécie de Fada Merdinha desta gente - lá lhes ia afagando os lombos lustrosos e atirando uns ossos (sem muita carne) como prémio pelos serviços prestados. Enquanto vergava os gregos e os punha de joelhos, a boche (com a delicadeza, a sensatez e a sensibilidade que são o seu apanágio e imagem de marca), tinha cá no rectângulo quem lhe fizesse o serviço pelo preço módico de, digamos, trinta dinheiros, ou euros, ou coisa que o valha. O que esta canzoada deveria ter dito era: "nós, os cães, não somos como os gregos, não nos parecemos em nada com o povo grego que, apesar de humilhados e vilipendiados, não são eunucos, nem lulus de trottoir, nem devotos do onanismo".

2. O pedro e o paulo (mais as respectivas agremiações) não se mostram demasiado assustados com o terramoto grego : talvez seja verdade, afinal, que não se importam de perder as próximas eleições. Ou melhor, sabendo que as vão inevitavelmente perder, estão a querer assobiar para o lado e passar despercebidos já que, de qualquer forma, o país  não tem praticamente nada para saquear. A famosa frase que referia a ida ao pote já quase esgotou o seu sentido, embora como se viu ainda na semana passada, ainda haja uns empregos porreiros para distribuir por bois e girls. Resta a TAP e essa já está bem encaminhada, o que justifica tanta pressa, ao arrepio de tantas vozes e de tantos sectores da sociedade que se mostram contra mais esse crime de lesa-Pátria e das vozes conhecedoras e sensatas que alertam para os perigos que decorrem de uma decisão sem sentido, tomada por incompetentes e néscios.

3. Foi confrangedor assistir nas televisões aos mesmos comentadores instalados de sempre e aos novos e velhos paineleiros a reproduzirem ad nauseam, as mesmas banalidades sobre as eleições gregas, o radicalismo e o extremismo do Syriza por um lado e, por outro, do modo como tem vindo a moderar o discurso e tornar-se ajuízado. Sobretudo, foi lamentável ouvir repetir as mesmas mentiras de sempre (por exemplo, que Tzipras tinha defendido a saída do Euro, coisa que Cristina Esteves, na RTP -Informação referiu ter sido exaustivamente procurado em todas as declarações do político grego e não ter sido encontrada em nenhuma) e os outros choramingas e piegas vaticinando a catástrofe, o horror, o fim do mundo e de mais alguma coisa. Não se sabe ainda o que resultará daqui, se o Syriza poderá levar para a frente o seu projecto, se este é realista e exequível, se a União Europeia lhe permitirá as veleidades de uma novo começo, uma nova política, uma nova esperança. Ante tanta incerteza, o mais sensato seria ficar calado, não dizer asneiras, não repetir parvoíces e baboseiras até à exaustão. Comentadores e paineleiros (com a honrosa excepção de Augusto Santos Silva, que é um príncipe no meio da vara de porcos) entenderam de outro modo. Deixá-los grunhir.

4. As escabrosas e grotescas expressões "arco do poder", "arco constitucional", "arco da governação" (com a variante "da governabilidade") enfeitaram aqui e ali a noite informativa, como uma espécie de peçonha viscosa que contaminou o debate quando este se virava para a situação portuguesa. Tais arcos, lamento dizê-lo, não existem. São uma invenção do portas para significar a alternância no poder de PS e PPD e acomodar o CDS em qualquer solução governativa caso nenhum destes partidos alcance a maioria absoluta, como quem diz : ganhe quem ganhar, lembrem-se sempre do CDS para se postar à gamela e abancar à manjedoura do orçamento de estado; estamos sempre prontos, não se esqueçam. Vão-se foder mais o arco e o arquinho.

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