E a Vida continua. Sempre. Contra
ninguém, contra coisa nenhuma, simplesmente continua por alguma coisa. Um
conceito de Liberdade, uma Razão inabalável, um Ser maior que os dias sempre
iguais. Além de todos os esquemas que não existem sem nos enquadrar dentro
deles, além dos comportamentos que se esperam submissos e recatados, além das
verdades que nos bombardeiam em todas as esquinas, há quem goste de se
interrogar, de se agitar, de procurar outro caminho. Há quem faça aquilo que
tem a fazer independentemente de agradar, ofender, ser contrário ao que pensam
os outros. Outros, que se ofendem. Só que existem vários níveis de ofensas,
várias formas de se sentir ofendido. Podemos nos sentir ofendidos com
determinados conceitos e escrever sobre isso, falar, desenhar, pôr a ridículo
sem que o alvo da nossa crítica seja sequer beliscado um milímetro no seu
espaço, na sua influência, no seu modo de vida. E há outra forma de nos
sentirmos ofendidos. É quando, em vez de virarmos a cara para o outro lado, não
ler ou discutir através de uma saudável troca de palavras, invadimos o espaço
do outro, ao tiro, à bomba, exterminamos a opinião do outro com o assassinato.
Trata-se de duas posturas que
irão continuar enquanto a nossa espécie povoar este planeta. Uma conversa
eterna que, dividindo os homens, divide a introspecção de cada um.
A capacidade de ir além das
roupagens ideológicas ou religiosas que nos foram impostas em todas as
sociedades pressupõe a capacidade de resistir e reagir a essas mesmas limitações.
A contrapartida esperada, desejada, inevitável. Em todos os ditadores há a
semente da dominação, do extermínio, tal como em todos os escravos existe a
semente da revolta, o desejo da Liberdade. Acima de tudo isto os deuses. Os deuses em
nome de quem alguns defendem que podem exterminar, calar, submeter, humilhar. Os
deuses que mais não são do que desculpas para impôr, explorar, viver da vida
dos outros. Os deuses, desculpas esfarrapadas para destruir, dominar, explorar.
Enquanto houver deuses da tirania
existirão sempre os da Liberdade. E a conversa não terá fim. Até tudo estar
perdoado….
Artur
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