A COMUNA DA LUZ
António Gonçalves Correia
Criada em 1917 pelo anarquista
António Gonçalves Correia (1886 – 1967), a Comuna da Luz é considerada por
muitos como o primeiro projecto anarquista do género implementado em Portugal.
Não chegando a duas dezenas de elementos as suas principais actividades eram a
agricultura e o fabrico de calçado. Além da prática do vegeterianismo e do
naturismo, a comuna dedicava-se ao ensino das crianças com base nos métodos
racionalistas do pedagogo e libertário espanhol Francisco Ferrer. Alvo de preconceitos
da comunidade local bem como da repressão policial, o projecto durou apenas até
1918. Entre outras acusações as autoridades culpavam a comuna de ter
desencadeado e organizado várias movimentações, incluindo greves de
trabalhadores rurais que assolaram a região. Associada de certa forma ao
assassinato de Sidónio Pais, a comuna acabou por ser desmantelada e preso o seu
fundador. Este, após a sua saída da prisão ainda tentará um novo projecto
idêntico em 1926, fundando a Comuna “Clarão” localizada em Albarraque. Estas
duas comunidades sob orientação de António Gonçalves Correia experimentaram uma
aproximação ideológica ao ideal libertário de Tolstoi esbarrando num sem número
de dificuldades para passar da teoria à prática. Desde logo porque, numa época
de grande agitação, confronto e violência política e social, as práticas do
pacifismo eram pouco populares, produzindo uma eficácia relativa.
Apesar de negar o carácter
anarquista dos seus ideais, Leon Tolstoi entendia os estados, as igrejas, os
tribunais e os dogmas enquanto ferramentas de dominação e repressão de uns
poucos sobre a maioria dos homens. Considerado por vários pensadores como uma
das principais referências do anarquismo
cristão, Tolstoi teve outro momento de aproximação aos ideais do anarquismo
quando em 1862 se encontrou em Paris com Pierre J. Proudhon um dos pais das
teorias anarquistas. Nessa altura o pensador francês estava a elaborar um texto
intitulado “La guerre et la Paix”, título esse mais tarde aproveitado pelo
escritor para o seu romance mais conhecido.
Tolstoi não acreditava em guerras
nem em revoluções violentas como solução para nenhum problema da sociedade. A
sua orientação radicava em revoluções morais individuais que, essas sim,
levariam á verdadeira mudança. Afirmava que as suas teses se baseavam na vida
simples e próxima à Natureza dos camponeses e no Evangelho. No livro “O Reino
de Deus está em Vós”, o escritor baseia-se no “Sermão da Montanha” para afirmar
que não se deve resistir ao mal utilizando o próprio mal.
Leon Tolstoi em 1908
Adepto de uma fórmula de
cristianismo primitivo, Tolstoi entendia que Deus estava nas próprias pessoas e
nas suas acções. Jesus tinha sido para ele o homem que melhor soube exprimir
uma conduta moral que gerasse justiça, felicidade e elevação espiritual em
todos os homens.
Artur
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