domingo, 19 de maio de 2013

HISTÓRIAS DE UM ASSASSINATO - 2


A COMUNA DA LUZ

António Gonçalves Correia
 
Criada em 1917 pelo anarquista António Gonçalves Correia (1886 – 1967), a Comuna da Luz é considerada por muitos como o primeiro projecto anarquista do género implementado em Portugal. Não chegando a duas dezenas de elementos as suas principais actividades eram a agricultura e o fabrico de calçado. Além da prática do vegeterianismo e do naturismo, a comuna dedicava-se ao ensino das crianças com base nos métodos racionalistas do pedagogo e libertário espanhol Francisco Ferrer. Alvo de preconceitos da comunidade local bem como da repressão policial, o projecto durou apenas até 1918. Entre outras acusações as autoridades culpavam a comuna de ter desencadeado e organizado várias movimentações, incluindo greves de trabalhadores rurais que assolaram a região. Associada de certa forma ao assassinato de Sidónio Pais, a comuna acabou por ser desmantelada e preso o seu fundador. Este, após a sua saída da prisão ainda tentará um novo projecto idêntico em 1926, fundando a Comuna “Clarão” localizada em Albarraque. Estas duas comunidades sob orientação de António Gonçalves Correia experimentaram uma aproximação ideológica ao ideal libertário de Tolstoi esbarrando num sem número de dificuldades para passar da teoria à prática. Desde logo porque, numa época de grande agitação, confronto e violência política e social, as práticas do pacifismo eram pouco populares, produzindo uma eficácia relativa.

Apesar de negar o carácter anarquista dos seus ideais, Leon Tolstoi entendia os estados, as igrejas, os tribunais e os dogmas enquanto ferramentas de dominação e repressão de uns poucos sobre a maioria dos homens. Considerado por vários pensadores como uma das principais referências do anarquismo cristão, Tolstoi teve outro momento de aproximação aos ideais do anarquismo quando em 1862 se encontrou em Paris com Pierre J. Proudhon um dos pais das teorias anarquistas. Nessa altura o pensador francês estava a elaborar um texto intitulado “La guerre et la Paix”, título esse mais tarde aproveitado pelo escritor para o seu romance mais conhecido.

Tolstoi não acreditava em guerras nem em revoluções violentas como solução para nenhum problema da sociedade. A sua orientação radicava em revoluções morais individuais que, essas sim, levariam á verdadeira mudança. Afirmava que as suas teses se baseavam na vida simples e próxima à Natureza dos camponeses e no Evangelho. No livro “O Reino de Deus está em Vós”, o escritor baseia-se no “Sermão da Montanha” para afirmar que não se deve resistir ao mal utilizando o próprio mal.

Leon Tolstoi em 1908
 
Adepto de uma fórmula de cristianismo primitivo, Tolstoi entendia que Deus estava nas próprias pessoas e nas suas acções. Jesus tinha sido para ele o homem que melhor soube exprimir uma conduta moral que gerasse justiça, felicidade e elevação espiritual em todos os homens.

 

Artur

 

1 comentário:

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