CONCLUSÕES POUCO CONCLUSIVAS
(Ou de como os "idos de Março" nunca regressam...)(O assassinato de Júlio Cesar)
Nos últimos cem anos da
historiografia portuguesa o assassinato com contornos e consequências políticas
ocupa um capítulo bastante vasto, dentro do qual o episódio de Sidónio Pais é
apenas uma parte. De facto, e recuando a Fevereiro de 1908 vamos encontrar o
regicídio, no qual o rei em exercício e o seu filho primogénito são mortos por
dois atiradores; três anos após a morte de Sidónio Pais, na sequência de um
golpe de estado triunfante, são abatidos, entre outros, o presidente do
Ministério (ou Primeiro Ministro, António Granjo), dois nomes importantes da
revolução e do sistema republicano (Almirante Machado Santos e o Comandante
Carlos da Maia) entre vários assinalados numa lista misteriosa. Nenhum destes
homens, além de Granjo, tinha naquele momento responsabilidades ou cargos
políticos de espécie alguma. Os seus executores foram marinheiros e
guardas-republicanos supostamente amotinados. Décadas mais tarde e já alguns
anos depois do nascimento do novo regime democrático nascido com o 25 de Abril,
morriam num acidente aéreo o Primeiro-ministro Francisco de Sá Carneiro e o
Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa. Envolta em sucessivas comissões de
inquérito e peritagens duas teses combatem-se até hoje. Enquanto que uma
garante tratar-se de um acidente, outra defende o conceito de atentado.
No regicídio, os dois atiradores
foram abatidos no local, desconhecendo-se se havia outros integrantes do grupo,
se o atentado era mesmo para o rei ou para o então chefe do governo João Franco,
se o atentado haveria sido planeado por algum tipo de organização. A este
propósito aconselho a leitura do diário de Aquilino Ribeiro, “Um escritor
Confessa-se”, obra que, se não esclarece cabalmente o assunto não deixa de o
iluminar em vários cantos para quem souber ler nas entrelinhas. Sobre a morte
de Sidónio Pais volto a referir o trabalho de Francisco Moita Flores, “Mataram
o Sidónio”. Sobre os trágicos acontecimentos de 19 de Outubro de 1921, houve
efectivamente um julgamento, mas que acabou por condenar apenas os praças e um
guarda-marinha. A lista, os organizadores ou os mandantes destes crimes ficaram
de fora. Para a posteridade sobram os relatos registados por Berta Maia do
marinheiro que matou o seu marido, Carlos da Maia, o cabo marinheiro Abel
Olímpio, também conhecido como o “Dente de Ouro” na Penitenciária de Coimbra.
Mesmo referindo nomes, reuniões e organização dos assassinatos por grupos
poderosos de sectores financeiros e monárquicos o caso nunca mais foi
reapreciado. Em todas as situações referidas nunca, volto a dizer, nunca se chegou ao fim das
investigações e dos esclarecimentos por maior que tenha sido o impacto destes
acontecimentos na sociedade portuguesa. O tempo acabou por os varrer para
debaixo do tapete da História, deixando cá fora uma versão oficial ou
semi-oficial, ligeirinha e quase despercebida, desprovida de relevância.
Se não temos tendência para
acreditar em teorias da conspiração, estes 100 anos de atentados políticos na
história portuguesa têm a força necessária e suficiente para nos começar a
(des)convencer, para começar a acreditar
num poder oculto que manobra livremente sempre que os seus interesses ou a sua
agenda em geral se vê contrariada. Seguir o rasto do dinheiro é uma hipótese
que nos levará a algumas estações mas não desenhará a viagem completa. Será
mais qualquer coisa que começa no empenho em formar jovens ignorantes a quem se
explica que a História e a Filosofia já morreram e o que interessa é a execução
das tarefas que lhes são pedidas, até um embrutecimento geral da sociedade
através da mais básica e neutra oferta cultural sob a forma de entretenimento.
Mas é interessante que em todas as gerações há sempre um grupinho de malucos
que resolvem abrir a arca da História e trazer para fora as cuecas do tempo antigo
para as esfregar na cara do moderno. Ou será que é ao contrário? Agora já não
sei dizer…tenho ali o enfermeiro com os remédios que me está a fazer sinais
para desligar o computador…
Artur
1 comentário:
É sempre muito bom encontrar pessoas que até se tornam nossas amigas, com uma desordem mental com que nos identificamos ("Finding friends with same mental disorder").
Vou ali tomar as gotas e já volto.
Obrigado Artur.
Abraço.
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