terça-feira, 21 de maio de 2013

HISTÓRIAS DE UM ASSASSINATO - FIM


CONCLUSÕES POUCO CONCLUSIVAS
(Ou de como os "idos de Março" nunca regressam...)
                                          (O assassinato de Júlio Cesar)


 

Nos últimos cem anos da historiografia portuguesa o assassinato com contornos e consequências políticas ocupa um capítulo bastante vasto, dentro do qual o episódio de Sidónio Pais é apenas uma parte. De facto, e recuando a Fevereiro de 1908 vamos encontrar o regicídio, no qual o rei em exercício e o seu filho primogénito são mortos por dois atiradores; três anos após a morte de Sidónio Pais, na sequência de um golpe de estado triunfante, são abatidos, entre outros, o presidente do Ministério (ou Primeiro Ministro, António Granjo), dois nomes importantes da revolução e do sistema republicano (Almirante Machado Santos e o Comandante Carlos da Maia) entre vários assinalados numa lista misteriosa. Nenhum destes homens, além de Granjo, tinha naquele momento responsabilidades ou cargos políticos de espécie alguma. Os seus executores foram marinheiros e guardas-republicanos supostamente amotinados. Décadas mais tarde e já alguns anos depois do nascimento do novo regime democrático nascido com o 25 de Abril, morriam num acidente aéreo o Primeiro-ministro Francisco de Sá Carneiro e o Ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa. Envolta em sucessivas comissões de inquérito e peritagens duas teses combatem-se até hoje. Enquanto que uma garante tratar-se de um acidente, outra defende o conceito de atentado.

No regicídio, os dois atiradores foram abatidos no local, desconhecendo-se se havia outros integrantes do grupo, se o atentado era mesmo para o rei ou para o então chefe do governo João Franco, se o atentado haveria sido planeado por algum tipo de organização. A este propósito aconselho a leitura do diário de Aquilino Ribeiro, “Um escritor Confessa-se”, obra que, se não esclarece cabalmente o assunto não deixa de o iluminar em vários cantos para quem souber ler nas entrelinhas. Sobre a morte de Sidónio Pais volto a referir o trabalho de Francisco Moita Flores, “Mataram o Sidónio”. Sobre os trágicos acontecimentos de 19 de Outubro de 1921, houve efectivamente um julgamento, mas que acabou por condenar apenas os praças e um guarda-marinha. A lista, os organizadores ou os mandantes destes crimes ficaram de fora. Para a posteridade sobram os relatos registados por Berta Maia do marinheiro que matou o seu marido, Carlos da Maia, o cabo marinheiro Abel Olímpio, também conhecido como o “Dente de Ouro” na Penitenciária de Coimbra. Mesmo referindo nomes, reuniões e organização dos assassinatos por grupos poderosos de sectores financeiros e monárquicos o caso nunca mais foi reapreciado. Em todas as situações referidas nunca, volto a dizer, nunca se chegou ao fim das investigações e dos esclarecimentos por maior que tenha sido o impacto destes acontecimentos na sociedade portuguesa. O tempo acabou por os varrer para debaixo do tapete da História, deixando cá fora uma versão oficial ou semi-oficial, ligeirinha e quase despercebida, desprovida de relevância.

Se não temos tendência para acreditar em teorias da conspiração, estes 100 anos de atentados políticos na história portuguesa têm a força necessária e suficiente para nos começar a (des)convencer, para começar  a acreditar num poder oculto que manobra livremente sempre que os seus interesses ou a sua agenda em geral se vê contrariada. Seguir o rasto do dinheiro é uma hipótese que nos levará a algumas estações mas não desenhará a viagem completa. Será mais qualquer coisa que começa no empenho em formar jovens ignorantes a quem se explica que a História e a Filosofia já morreram e o que interessa é a execução das tarefas que lhes são pedidas, até um embrutecimento geral da sociedade através da mais básica e neutra oferta cultural sob a forma de entretenimento. Mas é interessante que em todas as gerações há sempre um grupinho de malucos que resolvem abrir a arca da História e trazer para fora as cuecas do tempo antigo para as esfregar na cara do moderno. Ou será que é ao contrário? Agora já não sei dizer…tenho ali o enfermeiro com os remédios que me está a fazer sinais para desligar o computador…

 

Artur

1 comentário:

Hélder disse...

É sempre muito bom encontrar pessoas que até se tornam nossas amigas, com uma desordem mental com que nos identificamos ("Finding friends with same mental disorder").
Vou ali tomar as gotas e já volto.
Obrigado Artur.
Abraço.