Tomo de empréstimo o título de um livro de Marguerite Yourcenar para relembrar o aniversário de Albert Camus (nascido a 7 de Novembro de 1913), já que estas três palavras evocam no meu espírito uma imagem desse homem único que um dia escreveu:
"… a criança morrera naquele adolescente magro e vigoroso, de cabelos revoltos e olhar arrebatado, que trabalhara todo o Verão para levar um salário para casa e acabava de ser nomeado guarda-redes titular da equipa do liceu e, três dias antes, saboreara pela primeira vez, quase desfalecido, o contacto com a boca de uma jovem.” (O Primeiro Homem)
Relembro essa página gravada na pedra em que Camus se descobre "o primeiro homem", sem o referente do pai, construindo-se a partir de si próprio e de uma vivência ética da pobreza que o marcaria enquanto indivíduo e marcaria todo o século XX fundamentando-se na reflexão que enceta na sua escrita sobre múltiplas dimensões de uma humanidade que, longe de se dar como adquirida, permanentemente se põe em causa, se questiona e se refaz, invocando a marca da estraneidade e do absurdo da condição humana prisioneira de um destino que a amarra à pedra de Sísifo e a impede de se completar.
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