sexta-feira, 1 de junho de 2012

JARDIM ZOOLÓGICO

1. O caso relvas/secretas é um não caso. Ou melhor, é um casozinho, bem à medida da nossa insignificância e irrelevância. Nada de grandeza, vistas largas, ambição, John Le Carré ou Graham Greene, antes um Vilhena (o da extinta Gaiola Aberta e outras pérolas da cultura nacional). É um caso pequeno, triste, soturno, mesquinho. A começar pelos protagonistas : relvas, o silva carvalho e a sua cara suína, e todos os outros "agentes secretos", cuja única ambição é fazer recortes de imprensa, saber com quem X dorme e qual a matrícula do carro de Y. Convenhamos, é mais um retrato da sordidez e mesquinhice das "elites" político-partidárias nacionais e de todos aqueles que a elas pretendem aceder, manipulando-as a seu bel-prazer, sastifazendo os  interesses particulares e obscuros que, a seu modo, também contribuíram para o estado a que isto chegou.

2. Obrigado, gasparzinho, por teres conseguido a maior taxa de desemprego da nossa história. Obrigado, também, por nos anunciares que para o ano ainda vai ser pior. Obrigado a todos os bandalhos neoliberais que propagam a ideia badalhoca segundo a qual a só se resolve o problema do desemprego aumentando a flexibilidade dos despedimentos. Obrigado, gasparzinho, por não conseguires fazer uma previsão acertada, quer no valor do défice, quer na percentagem de desemprego, tu que nos foste vendido como o maior sábio do universo e como um técnico de dimensão cósmica, com águas quentes e frias e vista para o Tejo. Tu, que até te dás ao luxo de nos explicares que 2015 vem depois de 2014 e que nem sequer sabes acertar as constas do teu ministério. Enfim, como queres que acreditemos quando fazes previsões optimistas para o evoluir da situação (que depende de factores que não controlas ), quando não consegues fazer previsões justas a partir de factores que controlas ? Pena é que não te possamos aplicar já a flexibilidade que tanto admiras, mandando-te para o desemprego à procura de oportunidades que agora não tens, proporcionando-te o ensejo de seres empreendedor, deixares de ser piegas e enfrentares corajosamente a situação. Olha, sei lá, talvez te pudesses inscrever no programa Novas Oportunidades...

3. Ainda por aí uma fauna, constituída por gente nova e outra ,não tão nova como isso, que se especializou nas actividades culturais. Eles, moles, sem fibra nem coragem, elas, mal-amanhadas e tristonhas (devendo-se essa tristeza, talvez à mencionada moleza,  falta de coragem e fibra deles), deambulando da Cinemateca para colóquios, da Culturgest para debates, do CCB para eventos, da Gulbenkian para lançamentos de livros, do Zé dos Bois para exposições e de todos os lugares para os lugares todos em que lhes cheire a cultura. Trabalhar, produzir,  pagar impostos, isso não, é bom para os bons burgueses que eles execram. Dessa fauna destaca-se uma sub-espécie, com características diferenciadas, que se especializou na obtenção de subsídios e bolsas de instituições públicas e privadas destinados à organização de eventos, festivais, ciclos, exposições e outras chachadas do género. Os mais espertos criaram uma rede internacional de contactos que lhes permite viajarem por todo o lado, promovendo eficazmente as diversas vanguardas, sobretudo aquelas que são paridas pelos amigos. Os outros, aqueles que têm que se auto-financiar, vão circulando por aí, bisonhos e compenetrados da sua missão na Terra, papando debates e exposições como quem toma a hóstia consagrada (e, já agora, os croquetes, rissóis e copinhos de vinho branco que costumam acompanhar os eventos mais abonados). À força de frequantarem os mesmos sítios conhecem-se todos uns aos outros e odeiam-se com cordialidade, odeiam-se com o mesmo afinco com que amam apaixonadamente as "obras", os "autores", os "criadores" e veneram a Arte e os artistas que a produzem. A Morte fica-lhes tão bem...

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