domingo, 15 de março de 2015

LABIRINTOS, CHARADAS E PARADOXOS




O JOGO DA IMITAÇÃO

(THE IMITATION GAME)

(R ) Morten Tyldum.

EUA/RU 2014

Umas vezes fazemos as coisas certas pelas razões erradas, outras atingimos objectivos errados pelas razões certas. O paradoxo habita as nossas existências mais vezes do que seria desejável e no entanto não deixa de ter um papel relevante, por vezes decisivo, na nossa evolução. A existência de Alan Turing é a prova provada do que dissemos anteriormente seja no domínio do seu trabalho e herança científica, seja no domínio da sua vida pessoal.
Durante a II Guerra Mundial o brilhante matemático Alan Turing é seleccionado  para integrar uma equipa de investigadores cuja missão seria descodificar a máquina de comunicações alemã “Enigma” no mínimo espaço de tempo, permitindo desse modo uma vantagem, um poder de antecipação das tropas Aliadas em relação ao seu inimigo. No Code and Cypher de Bletchley Park, os serviços secretos britânicos coordenam a operação respondendo directamente ao Primeiro-Ministro Winston Churchill. Mas a tarefa está longe de ser fácil, acrescentando-se a agravante de todos os dias mudar o código da Enigma. Impossível para um humano mas não para uma máquina que a consiga desvendar correndo os vários milhões de possibilidades de o fazer num breve espaço de tempo. Uma máquina que Turing se propõe construir contra todas as possibilidades e apoios desde o comando directo em Bletchley como o apoio da equipa.
Turing é um anti-social por Natureza, uma cabeça brilhante mas um péssimo gestor de relações humanas. Para além disso é homossexual num tempo em que essa escolha prefigurava o conceito de crime. O único amigo que tinha no colégio interno acaba por morrer no decorrer de umas férias escolares.  A nova máquina será baptizada com o seu nome: Guilherme.
Toda esta inabilidade natural de Turing acaba por vir a ser atenuada com a chegada à equipa de Joan Parker, a única mulher. Com Joan a relação do brilhante professor de Cambridge com o mundo e os homens vai conhecer melhores dias até ser alcançado o objectivo final. Uma vez descodificado o código da máquina Enigma, outro problema se levanta. Interceptar todas as comunicações inimigas não significa que se possa interferir no mesmo número na medida em que isso daria a ideia clara de que o segredo tinha sido descoberto. O passo seguinte dos alemães seria encontrar um novo código, mudar a estratégia comunicacional e tudo voltaria à estaca zero. É então que Joan e Alan se encontram com Stewart Menzies, o homem forte da inteligência militar (MI6), e lhe entregam o critério da decisão acerca de quais as manobras em que as tropas iriam interferir por antecipação da informação. A guerra deixa de ser nesse momento um embate entre forças antagónicas no terreno para se tornar um imenso jogo de estratégia e antecipação onde um centro de espionagem decide as acções prioritárias, quantos vivem e quantos morrem no teatro de operações.
O filme diz-nos que vários historiadores estimam que, com a descodificação do Enigma a guerra durou menos dois anos e poupou 14 milhões de mortos.
Alan Turing suicida-se em 1954, nove anos depois da guerra acabar. Para além da pressão que o seu trabalho lhe impôs, uma tentativa de assalto denunciada por um vizinho trouxe a lume a sua homossexualidade, o peso da lei e um tratamento à base de químicos para se “curar”.
Todo este trabalho de descodificação bem como os seus pormenores foram considerados “segredo de estado” durante cinquenta anos. Apesar disso, o trabalho de Alan Turing inspirou gerações de investigadores empenhados em aperfeiçoar as “máquinas de Turing”, hoje conhecidas como “computadores”.
Em 2013 a Rainha deu o perdão real a Alan Turing honrando-o pelos seus esforços no período da guerra.
Adaptado da biografia “Alan Turing: The Enigma” de Andrew Hodges, o filme colecciona nomeações e prémios em festivais de cinema espalhados pelo mundo. Com três nomeações para os Óscares em 2014 (Melhor Actor, Melhor Filme e Melhor Argumento Adaptado) o filme acaba por vencer na categoria de Melhor Argumento Adaptado.


Artur

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