O JOGO DA IMITAÇÃO
(THE IMITATION GAME)
(R ) Morten Tyldum.
EUA/RU 2014
Umas vezes fazemos as coisas
certas pelas razões erradas, outras atingimos objectivos errados pelas razões
certas. O paradoxo habita as nossas existências mais vezes do que seria desejável
e no entanto não deixa de ter um papel relevante, por vezes decisivo, na nossa
evolução. A existência de Alan Turing é a prova provada do que dissemos
anteriormente seja no domínio do seu trabalho e herança científica, seja no
domínio da sua vida pessoal.
Durante a II Guerra Mundial o
brilhante matemático Alan Turing é seleccionado
para integrar uma equipa de investigadores cuja missão seria
descodificar a máquina de comunicações alemã “Enigma” no mínimo espaço de
tempo, permitindo desse modo uma vantagem, um poder de antecipação das tropas
Aliadas em relação ao seu inimigo. No Code and Cypher de Bletchley Park, os
serviços secretos britânicos coordenam a operação respondendo directamente ao
Primeiro-Ministro Winston Churchill. Mas a tarefa está longe de ser fácil,
acrescentando-se a agravante de todos os dias mudar o código da Enigma.
Impossível para um humano mas não para uma máquina que a consiga desvendar
correndo os vários milhões de possibilidades de o fazer num breve espaço de
tempo. Uma máquina que Turing se propõe construir contra todas as
possibilidades e apoios desde o comando directo em Bletchley como o apoio da
equipa.
Turing é um anti-social por
Natureza, uma cabeça brilhante mas um péssimo gestor de relações humanas. Para
além disso é homossexual num tempo em que essa escolha prefigurava o conceito
de crime. O único amigo que tinha no colégio interno acaba por morrer no
decorrer de umas férias escolares. A
nova máquina será baptizada com o seu nome: Guilherme.
Toda esta inabilidade natural de
Turing acaba por vir a ser atenuada com a chegada à equipa de Joan Parker, a
única mulher. Com Joan a relação do brilhante professor de Cambridge com o
mundo e os homens vai conhecer melhores dias até ser alcançado o objectivo
final. Uma vez descodificado o código da máquina Enigma, outro problema se
levanta. Interceptar todas as comunicações inimigas não significa que se possa
interferir no mesmo número na medida em que isso daria a ideia clara de que o
segredo tinha sido descoberto. O passo seguinte dos alemães seria encontrar um
novo código, mudar a estratégia comunicacional e tudo voltaria à estaca zero. É
então que Joan e Alan se encontram com Stewart Menzies, o homem forte da
inteligência militar (MI6), e lhe entregam o critério da decisão acerca de
quais as manobras em que as tropas iriam interferir por antecipação da
informação. A guerra deixa de ser nesse momento um embate entre forças
antagónicas no terreno para se tornar um imenso jogo de estratégia e
antecipação onde um centro de espionagem decide as acções prioritárias, quantos
vivem e quantos morrem no teatro de operações.
O filme diz-nos que vários
historiadores estimam que, com a descodificação do Enigma a guerra durou menos
dois anos e poupou 14 milhões de mortos.
Alan Turing suicida-se em 1954,
nove anos depois da guerra acabar. Para além da pressão que o seu trabalho lhe
impôs, uma tentativa de assalto denunciada por um vizinho trouxe a lume a sua
homossexualidade, o peso da lei e um tratamento à base de químicos para se
“curar”.
Todo este trabalho de
descodificação bem como os seus pormenores foram considerados “segredo de
estado” durante cinquenta anos. Apesar disso, o trabalho de Alan Turing
inspirou gerações de investigadores empenhados em aperfeiçoar as “máquinas de
Turing”, hoje conhecidas como “computadores”.
Em 2013 a Rainha deu o perdão
real a Alan Turing honrando-o pelos seus esforços no período da guerra.
Adaptado da biografia “Alan
Turing: The Enigma” de Andrew Hodges, o filme colecciona nomeações e prémios em
festivais de cinema espalhados pelo mundo. Com três nomeações para os Óscares
em 2014 (Melhor Actor, Melhor Filme e Melhor Argumento Adaptado) o filme acaba
por vencer na categoria de Melhor Argumento Adaptado.
Artur
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