No recém inaugurado século XX, Hugo Von Hofmannsthal promulgou a morte da linguagem como meio válido para descrever o mundo, ainda que ele próprio, num paradoxo inultrapassável, se exprimisse por palavras. A carta que o jovem Lord Chandos, personagem inventada, poeta como ele, dirigia ao filósofo Francis Bacon converteu-se no manifesto fundamental da solidão moderna. A crise da linguagem como sistema de signos universal era, no fundo, a crise do homem que, a partir de então, não poderia constituir-se já como centro absoluto do existente, como proposição a partir da qual organizar e explicar o mundo. Von Hofmannsthal intui, e assim o faz dizer a Lord Chandos, que ante a inabarcável realidade nunca se poderá substituir o vivido pelo que é expresso através da linguagem, portanto é melhor nada dizer. O real torna-se então silêncio.
Ante o silêncio do mundo, Lord Chandos tratou de refugiar-se nas palavras familiares e reconhecíveis dos textos clássicos, nos seus conceitos limitados e ordenados, mas foi inútil : "Vi-me então submergido numa espantosa sensação de solidão; tinha a impressão de estar encerrado num jardim em que só existiam estátuas sem olhos; e de novo busquei uma saída". Olhos cegos porque estão mudos e não podem expressar o que veêm. Silêncio. E onde fracassavam as palavras, por que razão haveriam de triunfar asimagens ?. As imagens tampouco são as coisas ou os seres, sabemo-lo bem, antes o traço da sua ausência. De novo silêncio e solidão.
Para Lord Chandos, a luminosa experiência do mundo onde tudo, por pequeno que seja, é valioso: "Um regador, um ancinho abandonado em pleno campo, um cão deitado ao sol, um miserável cemitério, um coxo, uma pequena granja, tudo isso pode converter-se no receptáculo da minha revelação". Apetece-me acrescentar o poema de R.S. Thomas "O Campo Luminoso":
A vida não consiste
em correr atrás de um futuro que se distancia
ou desejar um passado imaginário
É desviar-se como Moisés
em direção ao milagre da sarça ardente
a uma luminosidade
que parece efémera como a tua juventude
mas é a eternidade que te aguarda
P. S. : "A Carta a Lord Chandos" de Hugo Von Hofmannsthal está publicada em português pela Bertrand
Ante o silêncio do mundo, Lord Chandos tratou de refugiar-se nas palavras familiares e reconhecíveis dos textos clássicos, nos seus conceitos limitados e ordenados, mas foi inútil : "Vi-me então submergido numa espantosa sensação de solidão; tinha a impressão de estar encerrado num jardim em que só existiam estátuas sem olhos; e de novo busquei uma saída". Olhos cegos porque estão mudos e não podem expressar o que veêm. Silêncio. E onde fracassavam as palavras, por que razão haveriam de triunfar asimagens ?. As imagens tampouco são as coisas ou os seres, sabemo-lo bem, antes o traço da sua ausência. De novo silêncio e solidão.
Para Lord Chandos, a luminosa experiência do mundo onde tudo, por pequeno que seja, é valioso: "Um regador, um ancinho abandonado em pleno campo, um cão deitado ao sol, um miserável cemitério, um coxo, uma pequena granja, tudo isso pode converter-se no receptáculo da minha revelação". Apetece-me acrescentar o poema de R.S. Thomas "O Campo Luminoso":
A vida não consiste
em correr atrás de um futuro que se distancia
ou desejar um passado imaginário
É desviar-se como Moisés
em direção ao milagre da sarça ardente
a uma luminosidade
que parece efémera como a tua juventude
mas é a eternidade que te aguarda
P. S. : "A Carta a Lord Chandos" de Hugo Von Hofmannsthal está publicada em português pela Bertrand
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