quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

GERONTES

Aviso: Arnaldo Mesquita escreve de acordo com a ortografia antiga.


O Estado Novo, que durou entre 1933 e 1974, de novo só tinha o nome; Gomes da Costa era velho, muito velho, Salazar já era velho quando nasceu, velhos eram os ministros e os senhores das câmaras corporativas, vetustos os da União Nacional; idosos eram Óscar Carmona, Craveiro Lopes e Américo de Deus Thomaz (este, pelo menos, divertia o povo com pérolas de eloquência e sabedoria, das quais relembro duas: "Perante o que vi só tenho um adjectivo: gostei !" e "Exceptuando as duas vezes anteriores, esta é a primeira vez que visito esta linda povoação."). Entretanto, a curva demográfica nacional tornou-se um problema muito grave: a população envelhece, os nascimentos não compensam e caminhamos para o colapso do Estado Social a médio prazo (isto é, se entretanto o gasparzinho e seus comparsas não lhe derem a machadada final no curto prazo). Nada tenho contra idosos, muito pelo contrário, confraternizo com eles, ouço-os e respeito-os, apreciando trocar com eles opiniões sobre o estado das coisas. Aliás, penso que uma sociedade coerente é aquela em que o espaço público é vivido e partilhado entre crianças, adultos e idosos, diluindo-se as diferenças e conflitos geracionais e convergindo-se para concepções políticas mais avançadas e homogéneas. Outra coisa muito diferente, e preversa, é uma sociedade em que os gerontocratas (quase todos reformados de luxo do Banco de Portugal) ocupam e poluem o espaço público e mediático com a exibição penosa da senilidade, precoce ou nem por isso. A SIC Notícias, para dar um exemplo, até inventou uma nova rubrica informativa de debate político, para a qual convidou uma série de personalidades que designou como "senadores". Não existindo em Portugal um órgão de soberania chamado Senado, nem nenhuma instância jurídico-política que institua algumas personalidades como reservas ético-morais da Nação, ou uma espécie de conselho de sábios a quem recorrer quando a situação o exige, só o podemos entender no sentido de "sénior", termo que vai sem explicação. Uma dessas personalidades é a Dra. Manuela Ferreira Leite, vetusta senhora que logo na primeira sessão do conselho de sábios, falando do alto da cátedra que lhe foi conferida pelas provas dadas como Secretária de Estado das Finanças, Ministra da Educação e das Finanças (sendo neste último magistério que deu à luz o "défice") borrou a pintura com soezes declarações sobre a hemodiálise proporcionada a maiores de 70 anos, preconizando uma espécie de eugenia ou engenharia social que eliminaria da face da terra todos aqueles que não podem pagar do seu bolso os tratamentos. Como ideia, além de abominável, revela uma perigosa deriva demencial que alastra para uma epidemia de estupidez e imbecilidade que já vem afectando as nossas "elites" e que nos ameaça directamente enquanto sociedade, minando os fundamentos da mesma e a sua estrutura, no que concerne aos princípios éticos e à axiologia dos valores. Aliás, esta ideia mesquinha e pesporrenta não é filha única; a Dra. Ferreira Leite habituou de tal modo o país a um chorrilho de dislates, asneiras e inanidades que só os mais incautos ainda se espantam.
Já nem falemos do Dr. Catrelhos, que a esse ninguém o cala, apesar dos avisos que tem tecebido para se fingir de morto durante uns tempos, por motivos higiénicos.
Depois dos novos ricos e de toda a tralha pirosa que acarretam, temos agora o "nouveau pauvre" na pessoa de S. Exa. Professor Doutor Cavaco Silva, o mais poupado e infeliz de todos os cavaquistas, um sénior que precisa da ajuda compadecida da nação portuguesa, enfim solidária com o mais notável e necessitado funcionário do Banco de Portugal, professor da Universidade de Lisboa, investigador da Fundação Calouste Gulbenkian, primeiro-ministro durante dez anos, presidente da República e accionista do BPN.
Finalmente, soubemos esta semana que o novo (?) dirigente do Centro Cultural de Belém é Vasco Graça Moura (70 anos, "arrebenta" de primeira qualidade, excelente tradutor, razoável romancista e sofrível poeta) que irá implementar uma NOVA (?) direcção ao CCB, iniciando um NOVO (?) ciclo na vida da instituição. Não será caso de "job for the boy", mas antes de "job for the old boy".
E estamos conversados. Ou, como diria a minha avó do alto dos seus 82 anos: "Fazem cá tanta falta como a viola no enterro"...

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