quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

CRÓNICA MARCIANA

1. Uma das grandes preversões do moderno espaço público comunicacional (vulgo comunicação social) consiste em dar voz a qualquer cretino, idiota, palerma ou atrasado mental que julgue ter algo para dizer. É um verdadeiro cataclismo (para o qual seria urgente um autoclismo), um desastre permanente que nos vai aproximando mais do abismo, um passo de cada vez, um bocadinho mais sempre que uma qualquer luminária abre a bocarra e vomita para cima de nós inanidades, vulgaridades, bravatas, lugares-comuns e ordinarices a granel. Estou-me aqui a lembrar de uma abencerragem da JSD, cujo nome nem ouso recordar, um daqueles insignificantes que nunca estudaram nem trabalharam na vida, limitando-se a vegetar pela sede da jotinha, a colar uns cartazes e a sabujar aqueles que poderiam fazer alguma coisa pela sua carreira, ter vindo aqui há uns tempos defender que José Sócrates deveria ser julgado criminalmente pelo estado em que deixou o país. Foi a única ideia que o solitário neurónio que se passeia angustiado pelo crânio desta avantesma conseguiu sofridamente parir. Este indivíduo, vagamente aparentado com os animais superiores, só não está ao nível da bactéria pela singela circunstância de ainda conseguir grunhir umas frases que longinquamente fazem lembrar a linguagem humana, suficientes apenas para que possamos perceber o seu primitivo e cavernícola pensamento. Ora, sucede que Sócrates não conseguiu fazer em seis anos o que estes (des)governantes conseguiram fazer em seis meses: a destruição sistemática do tecido económico, político, social e cultural do país em nome do neoliberalismo de pacotilha e dos interesses privados que representam. Numa outra conversa deste "blog" chamei-lhes devotos do onanismo; estava enganado e faço "mea culpa". O que eles na realidade são, se é que são alguma coisa, é lacaios de um poder que os transcende e, em última análise, os há-de descartar quando já não forem idiotas úteis. Entretanto, terão terminado a sua "obra ao negro": o país transformado numa esterqueira, o Estado e as empresas públicas colonizadas por amigos e correlegionários, a sem-vergonhice e a roubalheira institucionalizadas e promovidas a virtude dos rigorosos e impolutos devoradores do "pote". Nessa altura, quando os actuais patrões os puserem com dono, na perspectiva do tal palerma deverão ser julgados por daninhos e lesivos do interesse nacional, por vendilhões e vendedores da banha da cobra ou, por amor da síntese, por um crime a que os antigos chamavam lesa-Pátria.

2. Ontem , por volta das 22 horas, estreou-se na SIC Notícias um novo programa de debate político sugestivamente intitulado "Contracorrente". A estreia não poderia ter corrido pior. Anunciada como "senadora" entre os "senadores" (F. Pinto Balsemão, António Barreto, Manuel Sobrinho Simões e António Vitorino) pontificou a Mãe do Défice, um fóssil vivo do Cavaquismo, a Dra. Manuela Ferreira Leite. Esta excelente criatura que, pela provecta idade que exibe, deveria ter o estatuto de Avó do Défice, teve o supremo descaramento de declarar que, na sua avalizada opinião, os doentes com mais de 70 anos deveriam pagar do seu bolso os tratamentos de hemodiálise. Vitorino reagiu, Barreto apostrofou a declaração de abominável, tendo ambos salvo a honra do convento (de senadores). Então, a criatura procurou emendar a mão, dizendo que não poderíamos esperar ter tudo de graça do sistema nacional de sáude, que não podia ser, que não somos suficientemente ricos para suportar este estado de coisas. Pois é claro que não, mas temos dinheiro suficiente para lhe pagar a ela e congéneres pensões vitalícias a acumular com outras pensões obtidas por alguns anos de trabalho, por exemplo no Banco de Portugal e quejandos. Como se costuma dizer, perdeu uma bela ocasião de estar calada e nos poupar ao espectáculo degradante da sua senilidade.

3. Por falar em pensões milionárias e em cargos bem remunerados, seria esta uma boa ocasião para o pagode se desmanchar de riso, caso não estivesse esmagado pelas estúpidas medidas do Gasparzinho e Cia.: ver o velhote lúbrico obcecado com os pêlos púbicos, o braga de macedo, o teixeira pinto e a cardona e outros liberais e neoliberais como moços de recado do Comité Central do Partido Comunista Chinês. Ainda os veremos de livrinho vermelho na mão, desfilando a entoar loas ao camarada Mao e aos amanhãs que cantam. Este grupo é bem o espelho e a imagem da esterqueira em que este país se está a transformar.

4. Paulo Portas, o actual Ministro dos Negócios e ex-Ministro da Marinha de Guerra, questionado sobre a Maçonaria, retorquiu a cacarejar que tinha sido educado pelos jesuítas. A galinácea resposta constitui a peça de informação que nos faltava para compreendermos na totalidade os tiques e os traumas deste grande estadista. A educação jesuítica, quando entra no corpo dos mancebos a ela sujeitos é para sempre ; os tenros moços orientados pela piedosa Companhia de Jesus ficarão para sempre fascinados pelos uniformes, pela autoridade e pela disciplina férrea que implicam e marcados "ad eternum" pela promessa de transcendente gozo que a submissão nesta vida lhes garante na outra. Fica assim explicada a "insustentável leveza" de Portas.

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