sábado, 24 de setembro de 2011
TRILOGIA DA AUSÊNCIA – EPÍLOGO
A.B. e C.
O Pavilhão do Dramático de Cascais já não existe, a Escola Secundária de Belém-Algés foi demolida, os Ramones já morreram todos (menos um), o tempo daquele tempo evaporou-se e nem a lembrança nostálgica o fará pôr de pé outra vez, regressar das profundezas do passado.
O mais certo é nunca termos estado aqui, nem de passagem. O mais certo é sermos apenas sombras errantes que julgaram ter tido um corpo, uma memória, uma consciência. Breves nuvens de fumo a pairar sobre a assistência enlouquecida de um concerto de uma banda punk nos anos 80. Ruídos de comboios ensurdecedores que nunca aconteceram assustam-nos os sonhos ainda hoje numa terra despojada de sentido, de lógica, de esperança. Nem acusamos nem lamentamos nada, limitamo-nos a recordar como se as recordações tivessem sido factos reais, como se a Vida tivesse alguma vez tido lugar dentro de seres que nunca acreditaram em nada a não ser em si próprios vagamente. Sementes que germinaram e cresceram no anonimato, ignorados, esquecidos, vagamente considerados como dados para estatísticas. Se calhar nunca estivemos aqui, livros perdidos numa estante de um escritório numa casa esquecida pelos arquivos municipais, num canto perdido da cidade.
Se calhar nunca houve uma vida digna desse nome, um caminho bem delineado por marcos e referências, um piso irregular para caminhar, um ponto de partida e outro de chegada. Se calhar nunca houve nada.
Artur
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5 comentários:
Ficam pegadas com memória.
Talvez pegadas na areia na maré vazia.
se calhar...
As que estão na pedreira do Galinha, estão lá há milhões de anos, e foram feitas em terra molhada...
Maré vazia ou não. Depende da extensão do areal.
Pegadas são pegadas, mesmo varridas pelo mar.
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