quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Angelus Novus, Walter Benjamin e A Corja 3
CATÁSTROFE ATRÁS DE CATÁSTROFE, RUÍNA APÓS RUÍNA
A Corja agita-se freneticamente. Pode agora atirar-se ao Orçamento como os cães à carniça, lamentar-se e choramingar, cumprindo a função de carpideiras para o qual os oficiantes da Corja são naturalmente talhados. A mãe de Boabdil, último sultão de Granada, ao ver o filho carpir a mágoa de ter perdido a cidade para os Reis Católicos lançou-lhe, com verrinosa crueldade, o dito que mais parece um anátema: "Chora agora como uma mulher aquilo que não soubeste defender como um homem". Aos do PSD já lhes cheira a poder, tal como aos porcos cheira a lavadura: agitam-se as hostes salivando ao cheiro de empregos, prebendas, privilégios e sinecuras a distribuir. A Corja e a seita social-democrata tratam de obliterar a sua quota-parte de responsabilidade no estado pré-comatoso, pré-caótico a que este pobre país chegou, ignorando olimpicamente um outro documento, recentemente editado, que escava fundo nas areias movediças do regime, encontrando uma das raízes do nosso actual problema; falo do livro "Como o Estado Gasta o Nosso Dinheiro", do Juiz Carlos Moreno do Tribunal de Contas. Nele são denunciados sem piedade todos os conluios, negociatas, acordos escuros e outras formas criminosas através dos quais os governos Cavaco, Guterres, Barroso, Lopes e Sócrates esbanjaram em negócios ruinosos para o Estado o dinheiro dos contribuintes e que, através das famosas parcerias público-privadas, conduziram o país ao actual descalabro. Cito, de tão exemplar que é, o caso do Eng. Ferreira do Amaral que, na qualidade de Ministro das Obras Públicas, assinou um dos mais escandalosos e ruinosos contratos com a Lusoponte. O referido senhor é, desde que abandonou funções governativas, pasmai almas inocentes, administrador da Lusoponte. Esta gente, que nunca produziu nada, em contribuiu com nada para o bem comum, faz lembrar o parasita que se alimenta do sangue do hospedeiro até o esgotar e levar à morte, mudando-se em seguida para outro hospedeiro. Foi assim que encheram os bolsos, através de relações, contactos, amizades e conluios, como os mafiosos, com a subtileza e altivez que falta aos seus congéneres criminais. Para eles, cito um passo do Padre António Vieira do "Sermão do Bom Ladrão":
"O que só digo e sei, por ser Teologia certa, é que em qualquer parte do mundo se pode verificar o que Isaías diz dos Princípes de Jerusalém : Principes tui socci forum : os teus Príncipes são companheiros dos ladrões. E por quê ? São companheiros dos ladrões porque os dissimulam; são companheiros dos ladrões porque os consentem; são companheiros dos ladrões porque lhes dão os postos e os poderes; são companheiros dos ladrões porque os defendem; e são finalmente companheiros dos ladrões porque os acompanham e hão de acompanhar ao Inferno, onde os mesmos ladrões os levam consigo."
O que foi que Isaías disse e que Vieira cita ? "os teus príncipes são infiéis, companheiros dos ladrões; todos eles amam as dádivas, andam atrás das recompensas. Não fazem justiça ao órfão e a causa da viúva não tem acesso a eles" Isaías 1.23
Não precisamos temer, como os romanos, a invasão dos sevandijas. Eles já cá estão.
BENJAMIN
Para melhor compreender o conceito de "interrupção histórica", proponho-me analisá-lo em primeira instância como um conceito polémico e provocatório, isto é, pela via da confrontação de Benjamin com o historicismo e com a historiografia racionalista e socializante do progresso, confronto que está na origem das famosas "Teses Sobre o Conceito de História". Lembremos que a crítica de Benjamin não se dirige apenas à ideologia do progresso da social-democracia nem à erudição laxista, pretensamente desinteressada do historiador; atrás destas escritas aparaentemente contraditórias da História, Benjamin visa a própria concepção do "tempo homogéneo e vazio", esse tempo indeiferente ao infinito que se escoa, igual a si-mesmo, afogando à sua passagem o sofrimento, o horror e também o êxtase da felicidade. A historiografia que repousa sobre esta concepção trivial do tempo como cronologia linear opera na base de dois princípios narrativos complementares: desde logo um conceito totalmente brusco de causalidade histórica, como se a sucessão cronológica fosse sinónimo de uma relação substancial de necessidade histórica. A isto opõe Benjamin um conceito pleno do tempo de agora, ao mesmo tempo surgimento do passado no presente e "evento do instante", "do que começa a ser..que deve pelo seu nascimento nascer de si-mesmo, vir a si, sem partir de nenhuma parte".
CONTINUA
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