E depois do jantar…depois do ritual da travessa, os caminhos ficam definitivamente desenhados entre a glória do prestígio, da sobrevivência e da popularidade e o anonimato da incerteza, do último lugar em qualquer fila de distribuição, do esquecimento, da angústia e da depressão. Assim se perfilam duas categorias distintas de cidadãos, dois mundos que ocasionalmente se vão encontrando, jogando jogos que acabam sempre com o mesmo vencedor. De um lado os senhores de muito prestígio, os inúteis que ocupam todas as inaugurações, que mandam bocas acerca de tudo e de nada com a maior autoridade, sem que alguém perceba bem qual é a sua actividade específica, a sua capacidade para, o critério da escolha dos temas. Esses fazem parte do mundo real, do mundo dos meios de comunicação, ocupados pelo preço de uma travessa, contratados para se favorecerem em circuito fechado e sempre que solicitados pelos donos do restaurante.
Do outro lado ficam os malucos, os que uivam para a Lua, que vão buscar assuntos e opiniões que ninguém quer saber, os deprimidos, os desesperados, os suicidas, os resistentes que conseguem aguentar uma vida inteira de ignorância sobre o seu trabalho. Esses fazem parte do mundo possível, daquele conceito que se poderia ter edificado se houvesse um pouco mais de bom senso, um pouco mais de cidadania, um pouco mais de respeito pela opinião de cada um.
E entre um país real e um país possível, cava-se um poço bem fundo, ateia-se uma fornalha do tamanho do tempo onde são sistematicamente sacrificadas gerações de ideias, projectos adiados, erros reparáveis, guerras evitáveis, simplesmente menos sofrimento. Na Ciência, Tecnologia, nas Artes, na Cultura, na Política, no Sistema Judicial, em todas as áreas existem elementos das duas equipas. Em todas as áreas há quem se sirva da travessa e quem o recuse fazer. E assim se faz a vida: de equívocos, manipulação e sacrifícios inúteis para que a Inutilidade nunca deixa de viver.
Entre um país real e um país possível vai-se construindo um Tempo com uma única certeza. Apesar de quase sempre ser o “real” a vencer o “possível”, nem uma nem outra equipa se deixam extinguir. Nem uma nem outra desaparece porque em todos os tempos, em todas as gerações, há sempre elementos novos que chegam para continuar a herança dos mais antigos. Qual é o sentido disto??? Ninguém sabe… Estamos todos demasiado concentrados no jogo que não conseguimos levantar a cabeça e perceber o que é que se passa fora do estádio. Um estádio desenhado em forma de travessa que nos tapa a vista para o Céu…
Artur
1 comentário:
:)
escreves bem
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