quarta-feira, 1 de julho de 2009

OS LOBOS


OS LOBOS
Rino Lupo
Portugal, 1923

Importante a vários níveis, o filme OS LOBOS de Rino Lupo, marca o início da última fase do cinema mudo em Portugal. Baseado na peça de Francisco Lage e Correia de Oliveira, este projecto consiste acima de tudo numa transcrição fiel de paisagens e pessoas, quebrando com a tradição imperante de fazer cinema até então. De facto, atraídos por fórmulas de sucesso garantido, os realizadores limitavam-se a imitar modelos vindos do exterior, a copiar fórmulas previamente estabelecidas noutras cinematografias. Considerado um dos trabalhos de ficção mais empolgantes e autênticos da época, o filme decorre na Serra da Estrela, numa aldeia dominada pela tradição patriarcal. Enquanto que as mulheres se ocupam da lida da casa e da recolha da lenha, os homens encarregam-se dos rebanhos e do abate de árvores para fabrico de carvão. A chegada de um homem de fora vem no entanto desequilibrar este sólido e aparentemente eterno equilíbrio. Após cumprir pena por crime passional, este marítimo traz consigo o vento da perturbação e da incerteza. A novidade, as suas cantigas e a perturbação causada nos corações femininos juntam-se numa combinação explosiva pronta a rebentar. “Lobos do mar não devem subir à serra” – diz Gardunha, um dos aldeões.
A tensão é extremamente bem conduzida, enquadrada na rudeza e imponência da paisagem montanhosa. O conflito de sentimentos e valores aliado a um espírito de violência animalesca dão ao filme uma profundidade e uma eficácia única no cinema até então produzido.
Lupo haveria de realizar ainda FÁTIMA MILAGROSA (28) e JOSÉ DO TELHADO (29). Se é certo que um cineasta sozinho não resolve um problema colectivo, não é menos verdade que o trabalho de Rino Lupo abriu uma direcção, um rumo para o cinema português consolidar a sua identidade.
ARTUR

3 comentários:

Carlos Manuel Ribeiro S. Dobreira disse...

A propósito de Rino Lupo, aproveito para informar que foi publicada no Jornal "Porta da Estrela" (Seia) a investigação "O Concelho de Seia na História do Cinema Mudo em Portugal".

A investigação, embora sem as notas de rodapé (apenas publicadas em edição impressa e on-line) está disponível no seguinte acesso:
http://www.e-cultura.pt/NoticiaDisplay.aspx?ID=2016

Artur Guilherme Carvalho disse...

Carlos, muito obrigado pelo seu esclarecimento. Esteja completamente à vontade para incluir neste blog toda a informação que entender pertinente. A propósito da região da Serra da Estrêla há muito mais a dizer em termos de cinema. Lembro-me por exemplo do título NÓS POR CÁ entre vários registos documentais sobre a região. Volte sempre. 1 abraço
ARTUR

Joaquim Pinto da Silva disse...

Viva. Por acaso não sabem dizer-me (joaquimpintodasilva@gmail.com) se este filme existe em DVD (ou video) em venda?
Obrigado.
JPdS