Às tuas coxas regressa o viajante perdido, o ser errante que palmilhou todos os caminhos do mundo em busca do lugar donde partiu.
Regresso ao teu Ser como inquilino na tua casa que encontra com facilidade os caminhos para cada quarto, embora nunca entendendo os planos de construção.
Atravesso o pátio do teu castelo encantado de gemidos soltos de loucura e amor e uno as distâncias entre as torres na tentativa de completar o desenho total. Abro o portão, desço a ponte levadiça sobre o fosso, nado na cisterna, certifico-me que as pedras não caem das ameias, limpo o caminho da entrada, rego as plantas. Num frenesim rotinado de porteiro e zelador do monumento conduzo os turistas em apoteoses históricas de lendas e canções de embalar a curiosidade das férias. Tretas românticas, valores sublimados, achegas de última hora após uma breve avaliação da audiência. O que é preciso é pô-los a sonhar, a babarem-se de imaginação com as personagens que já não existem (se é que alguma vez existiram), e sentirem-se preenchidos quando chegarem a casa. Paixões contrariadas regadas de heroísmos abnegados, tragédias colossais, desperdícios de vidas inteiras em nome de uma ou duas palavras, daquelas com que nos drogam desde que o mundo é mundo. Deixo-os sonhar porque lhes faz bem.
Aponto o Sol e as estrelas e sigo por montes e vales sem reconhecer as linhas de água ( gostava de perceber porque é que escrevi esta frase). Evito os estreitos traiçoeiros e abrigo-me das tempestades nas enseadas, à espera que passe. Volto ao caminho e continuo mas sabendo sempre que não sou daqui, que não pertenço a este lugar nem àquele. Pertenço a mim no vazio solitário do vagabundo errante cuja memória mais forte é o buraco onde a caminhada começou.
Às tuas coxas regressa o viajante perdido, o ser errante que palmilhou todos os caminhos do mundo em busca do lugar de onde saiu. O sítio onde tudo começou. A terra da puta que o pariu…
ARTUR
5 comentários:
"Aponto o Sol e as estrelas e sigo por montes e vales sem reconhecer as linhas de água ( gostava de perceber porque é que escrevi esta frase)." :)
Tenho que ter mais cuidado com o que vou escrevendo aqui porque já percebi que há pessoas muito atentas que não deixam passar nada. Obrigado pela visita Clarice
Porque te costumavas orientar, pelas linhas de água??? Também...?
Bjo amigo!
Elsa, sem linhas de água não há referências de direcção. Nem caminho. Nem rebuçados para a tosse...
Dr Bayard, ou Ricola! Vou já, e nem pio...Já sabia a parte das linhas de água-sou ilhéu e tudo!!
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