terça-feira, 24 de setembro de 2013

ADEUS PEDRO


Lembro-me que fazias anos, lembro-me que nos juntámos vagamente na área de Cascais e, principalmente, lembro-me que à saída do restaurante marraste que havias de regressar a Lisboa de mota. E assim foi. Á pendura na mota do Tomás, capacete branco na cabeça, pés no ar a tactear apoio no vazio. Lembro-me do GNR a mandar parar e a perguntar ao Tomás se ele não sabia que não podia transportar o filho de mota e da cara de parvo que fez no momento em que tiraste o capacete da cabeça. Nesse ano a tua alcunha passou a ser o “astronauta pequenino”. E como este, lembro-me de dezenas de episódios em que me fartei de rir contigo, das sessões de “bélinhas” nas testas uns dos outros, das bebedeiras antológicas na Cervejaria Europa, das jam sessions de guitarra e  piano em tua casa. Ontem tive a triste notícia que te tinhas ido embora, uma dor  aumentada pelo facto de ainda há uma semana termos estado juntos a jantar. É certo que o teu estado de saúde já não era animador mas nada fazia prever este desfecho em tão pouco tempo. No tempo em que virávamos litros de cerveja na Cervejaria Europa a vida não fazia sentido nenhum. Hoje foi apenas mais uma confirmação. O que te queria dizer… sei lá o que é que te queria dizer. Acho que o que queria dizer-te foi aquilo que sempre te disse ao longo destes 20/30 anos de amizade. O que te queria dizer era que serás sempre, como sempre, um de nós. Elemento desta família fabulosa que são os nossos amigos. Que o teu tamanho só nos distraiu durante a primeira hora em que te conhecemos para nunca mais se perceber sequer que existia. É claro que para as alcunhas era certo e sabido, mas também, essa era uma regra aplicável a toda a gente. Todos tínhamos um pé, um olho torto, no fundo a marca que nos individualizava e distinguia do resto das pessoas, marca essa através da qual se abria a porta para a entrada das alcunhas. Lembro-me que eras exímio jogador de matraquilhos na defesa, de que tocavas lindamente, da tua preocupação connosco, com os outros. 

Parece que tudo tem que ter um fim na lei desta vida, na ordem natural das coisas, neste enunciado absurdo e caricato de regras que nos são impostas desde o dia em que nascemos. Mas na nossa tribo, não. Aqui tudo faz sentido porque há uma espécie de fio condutor que nos une, um fio tecido com solidariedade e amor. Por ele continuamos presos ao Tomás, que já marchou há mais de vinte anos, sabendo que ele também pensa em nós de vez em quando. Aliás, tenho a certeza que o gajo que vai estar à tua espera à saída do túnel encostado a uma “ninja” verde com um capacete branco na mão…tenho a certeza de que esse gajo é o Tomás e que ele te vai levar de regresso a casa. A casa para onde todos acabaremos por voltar um dia. Hoje foi a tua vez. Um grande abraço Pedro. A gente um dia destes encontra-se…

 

Artur

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