Lembro-me que fazias anos,
lembro-me que nos juntámos vagamente na área de Cascais e, principalmente,
lembro-me que à saída do restaurante marraste que havias de regressar a Lisboa
de mota. E assim foi. Á pendura na mota do Tomás, capacete branco na cabeça,
pés no ar a tactear apoio no vazio. Lembro-me do GNR a mandar parar e a
perguntar ao Tomás se ele não sabia que não podia transportar o filho de mota e
da cara de parvo que fez no momento em que tiraste o capacete da cabeça. Nesse
ano a tua alcunha passou a ser o “astronauta pequenino”. E como este, lembro-me
de dezenas de episódios em que me fartei de rir contigo, das sessões de
“bélinhas” nas testas uns dos outros, das bebedeiras antológicas na Cervejaria
Europa, das jam sessions de guitarra
e piano em tua casa. Ontem tive a triste
notícia que te tinhas ido embora, uma dor
aumentada pelo facto de ainda há uma semana termos estado juntos a
jantar. É certo que o teu estado de saúde já não era animador mas nada fazia
prever este desfecho em tão pouco tempo. No tempo em que virávamos litros de
cerveja na Cervejaria Europa a vida não fazia sentido nenhum. Hoje foi apenas
mais uma confirmação. O que te queria dizer… sei lá o que é que te queria
dizer. Acho que o que queria dizer-te foi aquilo que sempre te disse ao longo
destes 20/30 anos de amizade. O que te queria dizer era que serás sempre, como
sempre, um de nós. Elemento desta família fabulosa que são os nossos amigos.
Que o teu tamanho só nos distraiu durante a primeira hora em que te conhecemos
para nunca mais se perceber sequer que existia. É claro que para as alcunhas
era certo e sabido, mas também, essa era uma regra aplicável a toda a gente.
Todos tínhamos um pé, um olho torto, no fundo a marca que nos individualizava e
distinguia do resto das pessoas, marca essa através da qual se abria a porta
para a entrada das alcunhas. Lembro-me que eras exímio jogador de matraquilhos
na defesa, de que tocavas lindamente, da tua preocupação connosco, com os
outros.
Parece que tudo tem que ter um
fim na lei desta vida, na ordem natural das coisas, neste enunciado absurdo e
caricato de regras que nos são impostas desde o dia em que nascemos. Mas na
nossa tribo, não. Aqui tudo faz sentido porque há uma espécie de fio condutor
que nos une, um fio tecido com solidariedade e amor. Por ele continuamos presos
ao Tomás, que já marchou há mais de vinte anos, sabendo que ele também pensa em
nós de vez em quando. Aliás, tenho a certeza que o gajo que vai estar à tua
espera à saída do túnel encostado a uma “ninja” verde com um capacete branco na
mão…tenho a certeza de que esse gajo é o Tomás e que ele te vai levar de
regresso a casa. A casa para onde todos acabaremos por voltar um dia. Hoje foi
a tua vez. Um grande abraço Pedro. A gente um dia destes encontra-se…
Artur
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